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MÚSICA/LANÇAMENTOS
"SEA CHANGE"
Álbum do cantor contraria o anterior "Midnite Vultures"
Após o rebolado, Beck curte ressaca em seu novo disco
DIEGO ASSIS
DA REPORTAGEM LOCAL
Comparações com Bob
Dylan perseguem Beck Hansen, 32, desde o lançamento de
"Mellow Gold", seu disco de estréia, de 1993. O violãozinho a tiracolo, uma gaitinha ali, uma poesia urbana acolá, tudo contribuía
para que o nome do compositor
fosse imediatamente colado ao de
Dylan, qualquer que fosse o rumo
que tomasse. O lançamento de
"Sea Change", ao contrário do
que diz (literalmente, mudança
de maré), só reforça essa tese.
Definitivamente o trabalho
mais intimista de Beck -diametralmente oposto à postura oba-oba de "Midnite Vultures", de
99-, este "Sea Change" é também um dos mais deprês e monotônicos da carreira do compositor. Lembrar "Blood on the
Tracks", de 75, testamento de
Dylan escrito logo após o rompimento com sua primeira mulher,
Sara Lowndes, torna-se inevitável: assim como o veterano, Beck
também imprimiu em seu novo
álbum as marcas da separação de
Leigh Limon, sua companheira
durante nove anos.
"Garota, como eu gostaria de
deixar o passado para trás", lamenta na tristonha "Guess I'm
Doing Fine". Tristeza, aliás, pleonástica ao longo de todo o CD. De
"Lonesome Tears" ("Como esse
amor pôde se virar contra mim")
a "Already Dead" ("Sinto-me como se estivesse assistindo à morte
de alguém"), passando por "Sunday Sun" ("Não há outro fim/
Sim, os dias estão acabando").
A produção de Nigel Godrich,
que já havia trabalhado com o
cantor em "Mutations" (98),
acrescenta ao disco a mesma espacialidade sombria que caracterizou a fase esquisitona -e estranhamente bela- dos ingleses do
Radiohead. Os arranjos de cordas
de David Campbell, pai de Beck,
bem como as referências cinzentas à Lua, desertos e túmulos de
cemitério reforçam a tendência.
Não insista. Você não vai encontrar aqui o Beck que vê na foto
acima, lépido e saltitante, ou como em sua última apresentação
no Rock in Rio. "Sea Change" é
piano e violão. A auto-ironia dá
lugar à angústia e à desilusão
amorosa de "Lost Cause" ("Estou
cansado de lutar por uma causa
perdida"), faixa dedicada, segundo fofoca o semanário "New Musical Express", a Winona Rider,
com quem o compositor teria andado flertando logo após o fim do
relacionamento com Limon.
Parece ingênuo, entretanto, retratar "Sea Change" apenas como
um álbum de circunstâncias, de
dor-de-cotovelo. Ainda que mais
emotivo, com a voz grave e embargada, Beck sabe muito bem
onde está pisando. A seriedade e
os ruídos minimalistas do disco
estão em sintonia perfeita com
"Yankee Hotel Foxtrot", do Wilco, um dos lançamentos mais celebrados pela crítica americana
neste ano. A América não anda
para brincadeira.
No Brasil
"Sea Change" tem previsão de
lançamento no Brasil para novembro, pela gravadora Universal. Enquanto isso, Beck inicia
uma histórica turnê com o Flaming Lips -outro candidato a
melhor disco do ano, com "Yoshimi Battles the Pink Robots"-
pelos Estados Unidos. Já não bastasse a alta do dólar, não há planos
para shows do cantor por aqui até
o momento.
Sea Change
Artista: Beck
Lançamento: Geffen
Preço: R$ 55, em média (importado)
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