São Paulo, sexta-feira, 27 de setembro de 2002

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MÚSICA/LANÇAMENTOS

"SEA CHANGE"

Álbum do cantor contraria o anterior "Midnite Vultures"

Após o rebolado, Beck curte ressaca em seu novo disco

DIEGO ASSIS
DA REPORTAGEM LOCAL

Comparações com Bob Dylan perseguem Beck Hansen, 32, desde o lançamento de "Mellow Gold", seu disco de estréia, de 1993. O violãozinho a tiracolo, uma gaitinha ali, uma poesia urbana acolá, tudo contribuía para que o nome do compositor fosse imediatamente colado ao de Dylan, qualquer que fosse o rumo que tomasse. O lançamento de "Sea Change", ao contrário do que diz (literalmente, mudança de maré), só reforça essa tese.
Definitivamente o trabalho mais intimista de Beck -diametralmente oposto à postura oba-oba de "Midnite Vultures", de 99-, este "Sea Change" é também um dos mais deprês e monotônicos da carreira do compositor. Lembrar "Blood on the Tracks", de 75, testamento de Dylan escrito logo após o rompimento com sua primeira mulher, Sara Lowndes, torna-se inevitável: assim como o veterano, Beck também imprimiu em seu novo álbum as marcas da separação de Leigh Limon, sua companheira durante nove anos.
"Garota, como eu gostaria de deixar o passado para trás", lamenta na tristonha "Guess I'm Doing Fine". Tristeza, aliás, pleonástica ao longo de todo o CD. De "Lonesome Tears" ("Como esse amor pôde se virar contra mim") a "Already Dead" ("Sinto-me como se estivesse assistindo à morte de alguém"), passando por "Sunday Sun" ("Não há outro fim/ Sim, os dias estão acabando").
A produção de Nigel Godrich, que já havia trabalhado com o cantor em "Mutations" (98), acrescenta ao disco a mesma espacialidade sombria que caracterizou a fase esquisitona -e estranhamente bela- dos ingleses do Radiohead. Os arranjos de cordas de David Campbell, pai de Beck, bem como as referências cinzentas à Lua, desertos e túmulos de cemitério reforçam a tendência.
Não insista. Você não vai encontrar aqui o Beck que vê na foto acima, lépido e saltitante, ou como em sua última apresentação no Rock in Rio. "Sea Change" é piano e violão. A auto-ironia dá lugar à angústia e à desilusão amorosa de "Lost Cause" ("Estou cansado de lutar por uma causa perdida"), faixa dedicada, segundo fofoca o semanário "New Musical Express", a Winona Rider, com quem o compositor teria andado flertando logo após o fim do relacionamento com Limon.
Parece ingênuo, entretanto, retratar "Sea Change" apenas como um álbum de circunstâncias, de dor-de-cotovelo. Ainda que mais emotivo, com a voz grave e embargada, Beck sabe muito bem onde está pisando. A seriedade e os ruídos minimalistas do disco estão em sintonia perfeita com "Yankee Hotel Foxtrot", do Wilco, um dos lançamentos mais celebrados pela crítica americana neste ano. A América não anda para brincadeira.

No Brasil
"Sea Change" tem previsão de lançamento no Brasil para novembro, pela gravadora Universal. Enquanto isso, Beck inicia uma histórica turnê com o Flaming Lips -outro candidato a melhor disco do ano, com "Yoshimi Battles the Pink Robots"- pelos Estados Unidos. Já não bastasse a alta do dólar, não há planos para shows do cantor por aqui até o momento.


Sea Change    
Artista: Beck
Lançamento: Geffen
Preço: R$ 55, em média (importado)



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