São Paulo, sexta-feira, 27 de setembro de 2002

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CINEMA

DE ZURLINI A BROOKS

Filmes, em cartaz por uma semana, não seguem unidade Mostra exibe, em 12 clássicos, produção dos anos 20 aos 70

Mostra exibe, em 12 clássicos, produção dos anos 20 aos 70

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

É difícil saber que critérios nortearam a escolha dos filmes que compõem o Festival Marlboro de Cinema, que começa hoje no Unibanco Arteplex (e depois, ainda este ano, vai a Curitiba, Porto Alegre, Campinas e Ribeirão Preto).
Uma das marcas da mostra é não ter marca, juntar alhos com bugalhos, desde que as cópias sejam novas e os filmes, realizados entre os anos 20 e 70. A outra é trazer filmes aos quais temos acesso apenas raramente.
É o caso de "Desejo Humano" (54). Fritz Lang dizia que este seu "remake" de "A Besta Humana" (38), de Jean Renoir, era inferior ao original. Pode ser. O certo é que, se Renoir buscou compor com sua Séverine uma "vamp" discreta, Lang puxou a corda do erotismo em toda a sua vulgaridade e criou a imagem inesquecível de Gloria Grahame com a perna esticada para o alto, seduzindo escancaradamente sua vítima.
Em "Dois Destinos" (63), de Zurlini, não há lugar para vulgaridade. A pobreza é o centro de um drama sublime sobre dois irmãos, Marcello Mastroianni e Jacques Perrin. Para fechar o setor drama, "A Noite Americana", de Truffaut (72). Em linhas gerais, é a história de uma filmagem. Entrelinhas: é o filme que desencadeou a ruptura entre Truffaut e Godard.
Entre as comédias, "O Homem das Novidades" é a mais antiga (28) e também a mais audaz: Buster Keaton se entrega de corpo e alma neste filme em que o personagem principal é o cinema.
Mas "O Diabo a Quatro" (33), de Leo McCarey, não fica atrás: é talvez o melhor exemplo do humor anárquico dos Irmãos Marx. Fechando o lote de comédias, Mel Brooks comparece com "Primavera para Hitler" (68), um de seus trabalhos mais bem-sucedidos, sobre um produtor falido que, por razões contábeis, precisa realizar um grande fracasso.
Qual o gênero de "Nunca aos Domingos" (60)? Há ali um tanto de musical, de comédia, de drama, na história de Ilya, prostituta grega com idéias na cabeça. O filme de Jules Dassin envelheceu à beça. Mas Melina Mercouri, que se revelou mundialmente ali, continua uma presença marcante.
Para terminar, a mostra traz cinco Fellinis: "Fellini Satyricon" (69), "Os Palhaços" (70), "Fellini Roma" (72), "Amarcord" (74) e "Casanova de Fellini" (76).
A raridade do lote é "Os Palhaços", praticamente inédito no Brasil. Embora irregular (começa muito melhor do que se desenvolve), é um filme em que Fellini vai fundo em sua paixão por essa figura ambígua, alegre e triste, assombrosa e assustadora.


FESTIVAL MARLBORO DE CINEMA
-mostra com 12 filmes clássicos, a começar por "O Homem das Novidades" (de Edward Sedgwick), em cartaz de hoje a 3/10, às 22h (cada filme fica em exibição por pelo menos uma semana). Onde: Frei Caneca Unibanco Arteplex (r. Frei Caneca, 569, 3º piso, tel. 0/xx/11/ 3472-2365). Quanto: de R$ 8 a R$ 12.



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