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CINEMA
DE ZURLINI A BROOKS
Filmes, em cartaz por uma semana, não seguem unidade Mostra exibe, em 12 clássicos, produção dos anos 20 aos 70
Mostra exibe, em 12 clássicos, produção dos anos 20 aos 70
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
É difícil saber que critérios nortearam a escolha dos filmes que
compõem o Festival Marlboro de
Cinema, que começa hoje no Unibanco Arteplex (e depois, ainda
este ano, vai a Curitiba, Porto Alegre, Campinas e Ribeirão Preto).
Uma das marcas da mostra é
não ter marca, juntar alhos com
bugalhos, desde que as cópias sejam novas e os filmes, realizados
entre os anos 20 e 70. A outra é
trazer filmes aos quais temos
acesso apenas raramente.
É o caso de "Desejo Humano"
(54). Fritz Lang dizia que este seu
"remake" de "A Besta Humana"
(38), de Jean Renoir, era inferior
ao original. Pode ser. O certo é
que, se Renoir buscou compor
com sua Séverine uma "vamp"
discreta, Lang puxou a corda do
erotismo em toda a sua vulgaridade e criou a imagem inesquecível
de Gloria Grahame com a perna
esticada para o alto, seduzindo escancaradamente sua vítima.
Em "Dois Destinos" (63), de
Zurlini, não há lugar para vulgaridade. A pobreza é o centro de um
drama sublime sobre dois irmãos,
Marcello Mastroianni e Jacques
Perrin. Para fechar o setor drama,
"A Noite Americana", de Truffaut
(72). Em linhas gerais, é a história
de uma filmagem. Entrelinhas: é o
filme que desencadeou a ruptura
entre Truffaut e Godard.
Entre as comédias, "O Homem
das Novidades" é a mais antiga
(28) e também a mais audaz: Buster Keaton se entrega de corpo e
alma neste filme em que o personagem principal é o cinema.
Mas "O Diabo a Quatro" (33),
de Leo McCarey, não fica atrás: é
talvez o melhor exemplo do humor anárquico dos Irmãos Marx.
Fechando o lote de comédias, Mel
Brooks comparece com "Primavera para Hitler" (68), um de seus
trabalhos mais bem-sucedidos,
sobre um produtor falido que,
por razões contábeis, precisa realizar um grande fracasso.
Qual o gênero de "Nunca aos
Domingos" (60)? Há ali um tanto
de musical, de comédia, de drama, na história de Ilya, prostituta
grega com idéias na cabeça. O filme de Jules Dassin envelheceu à
beça. Mas Melina Mercouri, que
se revelou mundialmente ali, continua uma presença marcante.
Para terminar, a mostra traz
cinco Fellinis: "Fellini Satyricon"
(69), "Os Palhaços" (70), "Fellini
Roma" (72), "Amarcord" (74) e
"Casanova de Fellini" (76).
A raridade do lote é "Os Palhaços", praticamente inédito no
Brasil. Embora irregular (começa
muito melhor do que se desenvolve), é um filme em que Fellini vai
fundo em sua paixão por essa figura ambígua, alegre e triste, assombrosa e assustadora.
FESTIVAL MARLBORO DE CINEMA
-mostra com 12 filmes clássicos, a
começar por "O Homem das Novidades"
(de Edward Sedgwick), em cartaz de hoje
a 3/10, às 22h (cada filme fica em
exibição por pelo menos uma semana).
Onde: Frei Caneca Unibanco Arteplex (r.
Frei Caneca, 569, 3º piso, tel. 0/xx/11/
3472-2365). Quanto: de R$ 8 a R$ 12.
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