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CINEMA/ESTRÉIA
"Casamento Arranjado", de Dover Koshashvili, conta história de um judeu de 31 anos que não quer casar
Filme desvenda tradição em desequilíbrio
CRÍTICO DA FOLHA
"Casamento Arranjado", de Dover Koshashvili, nos joga de cabeça em alguns paradoxos de Israel. Todos ou quase todos conhecemos, mesmo que
aproximativamente, a tradição dos casamenteiros judeus -ela
frequenta o folclore, a literatura e
o humor judaicos. Talvez eles tenham tido a função de ajudar a
perpetuar um povo não raro
ameaçado por perseguições.
Embora a tradição do casamento arranjado não seja exclusivamente judaica, designa entre eles
uma interferência dos pais na vida dos filhos talvez mais acentuada do que na maioria dos povos, o
que se explica pela busca de preservação dos traços culturais.
Estamos aqui numa família
oriunda da ex-URSS, e os judeus
com essa origem são conhecidos
pelo conservadorismo. A história
gira em torno de Zaza, 31 anos,
primogênito da família, que se recusa a casar. O rapaz é doutorando em filosofia, tem contato com
uma Israel moderna e culta e uma
amante divorciada e mais velha.
Para os pais de Zaza isso é morte.
É aí que surge a casamenteira.
No filme ela é quase um acessório. Tudo gira em torno das expectativas da família quanto aos
sentimentos de seu rebento.
Amar uma mulher divorciada significa romper com uma tradição.
Num país muçulmano, isso talvez
não gere desequilíbrios tão evidentes. Em Israel, é diferente. Em
torno desses desequilíbrios gira o
filme de Koshashvili.
É o tipo de questão propícia a
maus filmes: pode-se evoluir para
o melodrama barato. "Casamento Arranjado" evita esse tipo de
armadilha e prende-se à descrição
dos hábitos de seus personagens.
O filme não nos pede que condenemos os pais interferentes. Busca mostrar quem são. Expõe as
ações e aparências e nos abre a
possibilidade de compreender
por que são como são. Koshashvili trata de tradições e contradições, mas filma modernamente. (INÁCIO ARAUJO)
Casamento Arranjado
Hatouna Mehuheret
Direção: Dover Koshashvili
Produção: Israel, 2001
Com: Lior Loui Asskenazi, Ronit Elkabetz
Quando: a partir de hoje no Espaço Unibanco
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