São Paulo, terça-feira, 27 de setembro de 2005

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UM PAI NA MULTIDÃO

No Pacaembu, Avril é quase invisível ao público

Crianças pasmas no primeiro show pop

VINICIUS TORRES FREIRE
SECRETÁRIO DE REDAÇÃO

As crianças pequenas ficam pasmas no seu primeiro show de rock. Avril Lavigne e seu metro e meio de gambitos magrinhos são um detalhe distante e na maior parte do tempo invisível. Estamos no meio de campo, o palco de Avril fica na altura do gol do Pacaembu.
As crianças parecem oprimidas e espantadas pela escuridão, pelo barulho imenso das arquibancadas, pelo som que sacode não sei que órgãos dentro da nossa caixa torácica. Criança é mais TV e teatro.
Minha filha Sofia, 8, me leva, eu, 40, ao nosso primeiro show de rock. Ela nem é mesmo fã de Avril. Gosta de Cássia Eller, do disco infantil da Adriana Calcanhotto, de música folclórica brasileira e de Paulo & Sandra, que vê em teatros, sentada, bem perto dos músicos.
No caso da Avril, parece mais levada pelo marketing boca a boca que passa entre meninas adolescentes contaminadas pelo mercado pop, que contaminam irmãs menores, que espalham o clima Avril por escolas.
Mas as crianças pequenas são crianças demais e ainda não foram de todo socializadas no comportamento de massa. Não sabem bem o que fazer naquelas imensidões de espaço, gente e barulho. Mais tarde, tendem a aderir de vez a modos estereotipados, balançando e cantando juntas pops desmiolados (todos), talvez acendendo isqueiros, o que me lembra festões da juventude hitlerista.
Algumas crianças no início até choram, muitas ficam bestificadas. Minha filha assiste ao show que dão as pessoas da arquibancada. Mais acostumadas, começam a se divertir. Há espaço, brincam de roda, riem tímidas para a turma que filma o DVD do show. Começa a chover, querem as capas de chuva nunca usadas. Logo, querem tomar chuva, divertido porque quase inédito. O show? Ligam de vez em quando. Logo, parece que estamos em festas infantis de aniversário.
Avril canta em inglês, que as crianças ainda não entendem direito. Fala sempre de namorados insensíveis. Parece meio cansada, um pouco deprimida, como nas entrevistas. Magra, assexuada, canta um pouco pelo nariz, o que a faz parecer ainda criança, ela, que faz 21 anos hoje. É limpinha, não faz o tipo teen vadia de Britney ou Aguilera. É família, é infantil.


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