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UM PAI NA MULTIDÃO
No Pacaembu, Avril é quase invisível ao público
Crianças pasmas no primeiro show pop
VINICIUS TORRES FREIRE
SECRETÁRIO DE REDAÇÃO
As crianças pequenas ficam
pasmas no seu primeiro show
de rock. Avril Lavigne e seu
metro e meio de gambitos magrinhos são um detalhe distante e na maior parte do tempo
invisível. Estamos no meio de
campo, o palco de Avril fica na
altura do gol do Pacaembu.
As crianças parecem oprimidas e espantadas pela escuridão, pelo barulho imenso das
arquibancadas, pelo som que
sacode não sei que órgãos dentro da nossa caixa torácica.
Criança é mais TV e teatro.
Minha filha Sofia, 8, me leva,
eu, 40, ao nosso primeiro show
de rock. Ela nem é mesmo fã de
Avril. Gosta de Cássia Eller, do
disco infantil da Adriana Calcanhotto, de música folclórica
brasileira e de Paulo & Sandra,
que vê em teatros, sentada,
bem perto dos músicos.
No caso da Avril, parece mais
levada pelo marketing boca a
boca que passa entre meninas
adolescentes contaminadas pelo mercado pop, que contaminam irmãs menores, que espalham o clima Avril por escolas.
Mas as crianças pequenas são
crianças demais e ainda não foram de todo socializadas no
comportamento de massa. Não
sabem bem o que fazer naquelas imensidões de espaço, gente
e barulho. Mais tarde, tendem a
aderir de vez a modos estereotipados, balançando e cantando juntas pops desmiolados
(todos), talvez acendendo isqueiros, o que me lembra festões da juventude hitlerista.
Algumas crianças no início
até choram, muitas ficam bestificadas. Minha filha assiste ao
show que dão as pessoas da arquibancada. Mais acostumadas, começam a se divertir. Há
espaço, brincam de roda, riem
tímidas para a turma que filma
o DVD do show. Começa a
chover, querem as capas de
chuva nunca usadas. Logo,
querem tomar chuva, divertido
porque quase inédito. O show?
Ligam de vez em quando. Logo, parece que estamos em festas infantis de aniversário.
Avril canta em inglês, que as
crianças ainda não entendem
direito. Fala sempre de namorados insensíveis. Parece meio
cansada, um pouco deprimida,
como nas entrevistas. Magra,
assexuada, canta um pouco pelo nariz, o que a faz parecer ainda criança, ela, que faz 21 anos
hoje. É limpinha, não faz o tipo
teen vadia de Britney ou Aguilera. É família, é infantil.
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