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MÚSICA
Hippies modernos dominam a última noite do festival de rock com o som progressivo da banda norte-americana
Mercury Rev propõe apologia ao ambiente em Curitiba
BRUNO YUTAKA SAITO
ENVIADO ESPECIAL A CURITIBA
A segunda e última noite do Curitiba Rock Festival, anteontem,
teve golfinhos, lobisomens e bailarinas. Ao menos no telão montado para a apresentação da principal atração, a banda norte-americana Mercury Rev.
Em dia de chuva e frio intenso, o
grupo reuniu cerca de 2.200 pessoas, contra as 3.500 do Weezer,
no sábado. Se o dia anterior era
dos "losers" vencedores, o domingo foi dos hippies modernos.
Isso porque o show do Mercury
Rev, grupo que tem quase 20 anos
de carreira, foi uma verdadeira
ode à preservação do ambiente,
entre questionamentos sobre a
existência do homem, modos de
conduta e sobre o embate entre
razão e sentimento.
Trata-se de show grandiloqüente, mas não pedante. Pegam os
melhores elementos do rock psicodélico/progressivo de bandas
como Pink Floyd e os adaptam
para o universo da música alternativa -não há exibições ególatras de virtuosismo por parte dos
músicos. O clima de paz e amor
chega às raias do cômico em dias
de cinismo no pop-rock. O figura
Jonathan Donahue, vocalista da
banda, passava a maior parte do
show imitando o bater de asas de
um pássaro, entre um passo e outro típico de bailarinas.
Enquanto algumas imagens no
telão lembravam abstrações de
raves trance, outras eram de filmes como "2001 -°Uma Odisséia
no Espaço"; entre uma citação e
outra de Einstein, Stanley Kubrick etc., personagens como Yoda e E.T. antecipavam frases que
pareciam de auto-ajuda ("Use a
luz que há em você"). E o mais
surpreendente é que todos os elementos unidos não resultavam
em uma caricatura piegas e iam
além de mera ilustração para músicas contemplativas como "Holes", "Vermillion" ou "Secret for a
Song". Show memorável, para
embaralhar os sentidos.
Distorção
O clima etéreo do Mercury Rev
foi precedido pelas guitarras do
grupo dinamarquês Raveonettes
(surgido em fins dos anos 90).
Mas, aqui, a abstração era outra.
Puxados pelas músicas de seu CD
mais recente, "Pretty in Black", a
banda -a dupla Sune Rose Wagner e Sharin Foo mais três integrantes- emulava climas de canções ingênuas e românticas dos
anos 50 em vestimentas pesadas
de camadas de distorções -como em "My Boyfriend's Back".
Se a comparação com o escocês
Jesus & Mary Chain é constante,
ao vivo demonstram que são mais
acessíveis, mesmo quando recuperam músicas mais áridas do começo da carreira, como "Do You
Believe Her". À parte o brilhantismo de músicas como "That Great
Love Sound" e "Little Animal", o
que empresta dinamismo e cara à
banda é a vocalista e guitarrista
loirona Sharin, a que mais interage com o público. Show direto,
simples e sem grandes surpresas.
Brasileiros
O último dia do CRF começou
com quase duas horas de atraso.
Como a banda paulista Hurtmold
cancelou sua apresentação devido
ao fato de não haver passagem de
som para os grupos brasileiros, o
estrago não foi maior na questão
dos horários. "Eles [Hurtmold]
estão certos [por desistir do
show]. É ridículo que bandas brasileiras ainda sejam tratadas assim em festivais", diz o estudante
Gustavo Luiz, 21.
Entre as seis atrações brasileiras
que abriram a noite, poucos destaques -no sábado, todos foram
prejudicados pelo som embolado.
Quem ganhou a maior receptividade do público foi o Móveis Coloniais de Acaju (DF), grupo com
nove integrantes e sonoridade
que reúne metais e lembra gente
como Karnak e Madness.
O dia era mesmo de loiras fatais
e golfinhos saltitantes.
O jornalista Bruno Yutaka Saito viajou a convite do Curitiba Rock Festival
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