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Urubu da Bienal está na lista de "vulneráveis", diz estudioso
Animal faz parte de instalação de Nuno Ramos invadida no sábado
REINALDO JOSÉ LOPES
EDITOR INTERINO DE CIÊNCIA
A estrela mais improvável
da Bienal de 2010 integra a
lista de animais ameaçados
no Estado de São Paulo.
Os urubus-de-cabeça-amarela que fazem parte da
instalação "Bandeira Branca", de Nuno Ramos, motivaram abaixo-assinado na internet e ato de vandalismo no
último sábado, quando um
pichador inscreveu na instalação "liberte os urubu" (sic).
O bicho é um soberbo localizador de carniça que nem
sempre aproveita a presa. A
culpa é das outras espécies
de urubu, diz o ornitólogo
Guilherme Renzo Rocha Brito, pós-doutorando do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio.
"Ele é o menor dos urubus,
com olfato aguçado. Tende a
voar baixo para localizar carcaças pelo cheiro. Por isso,
chega primeiro ao alimento,
mas come uma porção menor porque acaba enxotado
por espécies maiores."
Fiel ao nome, o urubu-rei,
com bico potente, acaba se
banqueteando com vantagens em relação aos demais.
Em São Paulo, há poucos
registros do bicho, em geral
encontrado mais perto da
fronteira com o Mato Grosso
do Sul. Na lista de ameaçados do Estado, ocupa a categoria de "vulnerável", situação que inspira cuidados.
No resto do Brasil, a espécie só não está presente na
Amazônia. O bicho prefere
regiões alagadiças e não se
dá tão bem em ambientes urbanos, "embora possa ser encontrado em lixões de cidades pequenas", diz Brito.
SEM CLIMA
A espécie não é tão gregária quanto seus primos. "Sabe-se pouco sobre os hábitos
reprodutivos da espécie. Os
ovos podem ser colocados
em ocos de pau, embaixo de
arbustos ou cavidades de pedra", diz o especialista.
Para Brito, é improvável
que os bichos se arrisquem a
constituir família em meio ao
bafafá. "Numa situação estressante, é a última coisa na
qual vão pensar", brinca.
Segundo o ornitólogo, é difícil mensurar impactos negativos do contexto artístico
no comportamento das aves.
"Barulho e movimento de
gente são estressantes, mas
pode ser que estejam acostumados, já que nasceram em
cativeiro. Também por isso,
podem não estar acostumados a voar, então o confinamento não seria problema."
"O que talvez seria mais
preocupante é o ciclo de luz.
Seria importante saber se as
luzes são apagadas quanto a
Bienal fecha", diz Brito.
"Quanto à comida, provavelmente estão recebendo
coisa melhor do que teriam
na natureza", diz Brito em
tom de brincadeira, lembrando que os urubus não têm rejeição à carne fresca.
URUBU BIENAL
Tudo o que você sempre quis saber sobre o urubu da Bienal
Nome da espécie:
urubu-de-cabeça-amarela (Cathartes burrovianus)
Tamanho: 60 cm de comprimento, envergadura de asa de 1,60 m. É o menor dos urubus nativos
Habitat natural:
em geral, gosta de ficar perto de áreas alagadas ou abertas mais secas, pode aparecer ocasionalmente em áreas urbanas
Vida social: aparece com mais frequência em grupos de poucos indivíduos
Comportamento:
graças ao bom faro, costuma voar baixo e chegar primeiro às carniças, alimentando-se rápido enquanto carniceiros maiores não aparecem
Reprodução:
pouco conhecida, mas sabe-se que há uma preferência por colocar ovos em ocos de pau
Distribuição geográfica:
em todo o Brasil; é bastante comum no Nordeste; em SP, faz parte da lista de animais ameaçados
O confinamento pode ser ruim para o animal?
Os principais problemas são o barulho e a falta de luz natural, que podem estressá-lo. Por outro lado, como são animais de cativeiro, já podem estar acostumados com isso
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