São Paulo, sexta-feira, 27 de outubro de 2000

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MAM de Salvador reúne 100 obras do modernista brasileiro que pintava marinhas

Paredes do museu foram pintadas de tons de azul, em homenagem ao artista-marinheiro
Pelos olhos de Pancetti

Divulgação
Óleo sobre tela da série "Mar Grande", de 1954, é uma das obras em exposição no MAM de Salvador; Pancetti já usa menos elementos em sua pintura, tendo como cenário uma paisagem marítima


FERNANDA CIRENZA
DA REPORTAGEM LOCAL

Paisagens, naturezas-mortas, retratos, auto-retratos. Essas são cenas que compõem "Pancetti - O Marinheiro Só", mostra de caráter retrospectivo da obra de José Pancetti, um dos mais originais artistas modernistas brasileiros, a partir de hoje no MAM (Museu de Arte Moderna) de Salvador.
Formam o conjunto cem pinturas produzidas entre 1933 e 1957. É o maior evento do gênero dedicado ao artista desde 1962, quando o MAM do Rio de Janeiro exibiu 152 obras.
A atual exposição faz parte de um projeto que vem sendo desenvolvido por Denise Mattar, curadora que desde 1997 já organizou uma trilogia de artistas modernistas: Di Cavalcanti, Flávio de Carvalho e Ismael Nery.
"É uma espécie de revisão desse período artístico. Temos de resgatar o passado para compreender a arte contemporânea."
Dois temas marcam a obra de Pancetti: as marinhas, paisagens mais conhecidas, e os retratos, cujos enquadramentos são quase fotográficos. A primeira explica-se por si -ele foi marinheiro. "Era um artista de diferentes facetas."
A mostra está organizada em cinco núcleos. Em "Navegar é Preciso", as telas exibem paisagens, resultado das viagens de Pancetti pelo Brasil -cenas de Campos do Jordão, São João Del Rei, Itanhaém, Mangaratiba, Cabo Frio.
O segundo módulo, chamado "Um Certo Olhar", traz naturezas mortas. São frutas, objetos, flores que retratam um olhar especial do cotidiano do artista.
Em "Retratos de Uma Vida...", estão retratos, especialmente de crianças e mulheres, e auto-retratos. Neste último, Pancetti conta a vida de maneira emocional, às vezes dramática, às vezes divertida, investindo-se de diferentes personalidades: marinheiro, almirante, camponês, pintor, pescador.
O módulo "Memória" é documental e traz fotografias do artista. Há um segmento só de imagens dele em seu ateliê tiradas por Pierre Verger.
"O Mar Quando Quebra na Praia" é o maior módulo da mostra. Nele estão 50 marinhas.
"Esse conjunto apresenta a evolução da obra. A primeira, de 1933, tem uma pincelada mais matérica. Depois, ele vai tirando os elementos, chegando em telas quase abstratas."
O núcleo enfatiza ainda a fase baiana do artista, que se mudou para Salvador em 1950, ano em que esteve na Bienal de Veneza.
"A ida para a Bahia modificou a personalidade e a obra de Pancetti. Ele explode em cores quentes e fortes. Seu amor pela cidade perpetuou a Salvador dos anos 50."
Apesar de ter se filiado ao grupo Bernardelli, no Rio de Janeiro, em 1933, Pancetti apresenta uma obra isenta de influências. "Por ser marinheiro, ele não militava no grupo, o que permitiu o surgimento de uma obra original. É uma figura singular na história da arte brasileira", disse Denise.

Exposição: Pancetti - O Marinheiro Só
Quando: abertura hoje, às 20h. De ter. a sex., das 13h às 21h; sáb., das 10h às 21h; dom., das 14h às 19h. Até 3/12
Onde: Museu de Arte Moderna de Salvador (av. Contorno, s/nš, Solar do Unhão, tel. 0/xx/71/329-0660)
Quanto: entrada franca



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