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TEATRO/CRÍTICA
Peça mostra idealismo perdido
FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL
Há 17 anos, assisti a primeira
montagem de "Feliz Ano
Velho". Não porque gostasse de
teatro, mas porque o livro de Marcelo Rubens Paiva era o assunto
da época (a professora havia
mandado ler o texto). Além do
mais, um amigo, primo da Lilia
Cabral, que estava no elenco, descolou um ingresso.
"Feliz Ano Velho" foi um livro
importante na minha adolescência e para a geração de teens no
início da década de 80. O livro falava de tudo que jovens gostam de
ouvir e aproveitar: sexo, droga e
rock'n'roll. Mas falava de algo
mais forte: da vida real. Pode ter
muita fantasia lá, mas é de momentos muito concretos que ela
surge, e era bacana a gente poder
se identificar com literatura. Finalmente, depois de tanta Capitu,
cortiço e etc., alguém escrevia sobre uma realidade que não parecia filme em preto-e-branco. É,
"Feliz" foi o primeiro livro em tecnicolor que eu li.
Além do mais, falava de um Brasil de que não se falava muito, da
tortura, do exílio.
Por isso o livro de Marcelo Rubens Paiva foi um divisor de
águas, introduziu o pop na literatura. Se ele quis ou não, isso é outra história, mas ele falou da ditadura ao Bamba, o tênis. Era a história de um cara de verdade que,
um dia, entre outras coisas, deu
um salto maluco. Mas ele tinha
muita coisa em torno dele para
contar. Não era ficção ingênua
para adolescente, mas uma vida
romanceada, com drama, ironia,
política.
Lembro que saí fascinado da encenação de "Feliz" no palco. Ia
além do livro, não era literal. Tinha circo, música, não era chato.
Além do mais, tinha o Marcos
Frota, que era igualzinho ao Marcelo que eu imaginava.
Pois bem, "Feliz Ano Velho"
tem nova montagem no Tuca. De
novo o Marcos Frota (como Marcelo) e a Denise Del Vecchio (como a Eunice, mãe do Marcelo).
Bom, tanto tempo depois a peça
está aí com o mesmo frescor.
Uma montagem arrojada e simples, com direção de Paulo Betti,
que dá espaço para os atores darem seu recados, o que é muito
bom em teatro. E eles aproveitam
isso bem. Não só Frota, tão jovial e
energético como há 17 anos, mas
também com ótimos novos atores, como a Maria Ribeiro e o André Frateschi.
Eu não me lembro das projeções que agora existem, cenas de
"Jango", do Silvio Tendler. Elas
auxiliam na caracterização mais
política da peça, que Alcides Nogueira, há 17 anos, já buscava
equilibrar com a história de Marcelo Rubens Paiva. Acho necessário ver este espetáculo. Ele fala de
um idealismo que hoje faz falta.
Talvez soe um pouco careta para
os adolescentes de agora, afinal,
ninguém mais usa Bamba como
forma de protesto.
Avaliação:
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