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LITERATURA
Jovens escritores britânicos se inspiraram no manifesto Dogma 95
Novo puritanismo produz
sua primeira antologia
JOSÉLIA AGUIAR
DE LONDRES
Sob uma tábua de dez mandamentos restritivos, um grupo de
novos escritores britânicos se reuniu para escrever contos nos
quais a narrativa simples e linear
devia prevalecer acima de digressões poéticas, lapsos de tempo ou
devaneios gramaticais.
A antologia "All Hail The New
Puritans" -o título é algo como
Salvem os Novos Puritanos-
acaba de ser publicada na Inglaterra com o resultado dos quatro
meses que os 15 autores tiveram
para levar a ficção a sua forma
mais básica.
A inspiração dos dois organizadores e ideólogos do manifesto,
Nicholas Blincoe e Matt Thorne,
foi o Dogma 95, o movimento de
cineastas dinamarqueses que
propõe um cinema feito sem tripé, luz artificial ou trilha sonora.
Munidos do seu novo código,
Blincoe e Thorne convidaram, no
final de 99, 13 jovens escritores como eles -de uma faixa etária que
varia dos 20 e tantos aos 30 e poucos- , com dois ou três livros já
publicados, para participar da antologia. Os autores estariam "livres" para escrever, mas deveriam
manter o espírito do novo puritanismo por trás de tudo.
"A idéia foi originalmente de
Nicholas, inspirado pelo Dogma
95, mas não estamos diretamente
conectados ao conceito dinamarquês", disse Thorne à Folha.
Pelo menos seis mandamentos
resumem o novo código, como os
que recomendam que o autor dispense os exercícios de retórica e
persiga a clareza do texto.
As demais regras foram incluídas para "complicar" a tarefa dos
autores, como admitiram os próprios Blincoe e Thorne. Entre elas,
está a que declara o fim de pontuação mais elaborada, a que condena o uso de flashbacks e a que
recomenda que produtos, lugares, artistas e objetos sejam nomeados -isso significa dizer qual
refrigerante o personagem bebe
ou a marca de sua camiseta.
Três autores já são conhecidos
do público britânico: Alex Garland, do best seller "A Praia" -
que virou filme estrelado por Leonardo DiCaprio-, Geoff Dyer,
do elogiado "Paris Trance" e Toby
Litt, de "Beatniks".
Afora o próprio manifesto, cada
autor carrega suas próprias influências. Rebbecca Ray, por
exemplo, se alinha aos norte-americanos Raymond Carver e
Stephen King. Ben Richards prefere a canadense Alice Munro. Nicholas Blincoe segue a escola policial. Toby Litt é um grande fã da
escocesa Muriel Spark.
Críticas
Os jornais londrinos deram bastante espaço para os novos puritanos, mas não foram tão generosos
no que se refere aos elogios.
Os críticos reclamaram que, em
vez de criar uma ficção inovadora,
o manifesto levou os escritores a
apresentar um texto igual aos que
tantos novos autores britânicos
realistas tendem a produzir.
Eles disseram que boa parte dos
contos desobedecia as regras e,
mais que isso, os melhores -os
de Anna Davis, Candida Clark e
Geoff Dyer- eram justamente os
que as subvertiam.
Para os críticos, finalmente, enquanto o Dogma 95 é uma rebelião contra o cinema comercial, o
manifesto dos novos puritanos é
incoerente ao se opor a um mundo literário já dominado pela simplicidade, pela linearidade e pela
forte influência do cinema.
Livro: All Hail the New Puritans
Organização: Nicholas Blincoe e Matt
Thorne
Editora: Fourth Estate
Quanto: 10 libras
Onde encontrar: www.4thestate.co.uk
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