São Paulo, sexta-feira, 27 de outubro de 2000

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ARTES PLÁSTICAS
Maria Bonomi e Renina Katz expõem trabalhos recentes
"Vigência" une duas escolas de gravura

DA REPORTAGEM LOCAL

As obras de Maria Bonomi e Renina Katz, mestres da gravura brasileira, estão mais uma vez reunidas, na mostra "Vigência", em cartaz na Multipla de Arte.
Amigas de anos, já estiveram juntas em inúmeras coletivas. Uma delas ocorreu no ano passado, em uma grande exposição de gravuras no Rio de Janeiro, onde ocuparam, no Museu Histórico Nacional, uma sala especial.
Agora, a dupla realiza uma espécie de "individual conjunta" com um pano de fundo histórico: Renina, 75, está comemorando 50 anos de atividade artística.
"O Gabriel (Vlavianos, dono da galeria) me fez uma chantagem amorosa, relembrando a data. Ele queria unir Maria e eu. Relutei, porque fazer exposição é trabalhoso, mas me rendi ao pedido dele", afirmou Renina, que acaba de ser submetida a duas cirurgias de hérnia de disco no hospital Sírio Libanês e passa bem.
Ela apresenta 25 gravuras em metal, produzidas nos últimos dez anos. Seus trabalhos ocupam o mezanino da galeria.
Maria, 65, mostra 20 litogravuras e xilogravuras recentes, de formatos médios e pequenos (o que é raro na obra dela), além de alguns objetos, dispostos no salão principal.
Ao contrário de Maria, que trabalha com a vibração da cor, Renina aposta, na maioria de suas obras, no preto-e-branco. Ambas traçam discursos abstratos, mas as obras não têm paralelos.
Renina, cuja produção já foi figurativa e política, mantém a sugestão da figura -linhas do horizonte, sóis, luas, pedras, raízes. A gravura de Maria é abstrata na essência e na forma.
Até mesmo em seus objetos, o abstrato é claro. As folhas de palmeiras retrabalhadas em latão, bronze e alumínio podem ser folhas ou não. "Elas caíram sobre a minha cabeça", disse.
As peças da atual exposição estiveram em "O Bardi dos Artistas", mostra deste ano no Memorial da América Latina.
Renina, que foi professora da FAU (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP) por 32 anos, participou da Bienal de Veneza nos anos de 1956 e 1986, além de ter quatro passagens pela Bienal Internacional de São Paulo, entre outras mostras importantes.
Gravurista e aquarelista, carrega em seu diário -nada mais nada menos- a motivação que seus traços provocaram no poeta Carlos Drummond de Andrade (1902-87), com quem se correspondia.
Inspirado em suas aquarelas, ele escreveu, um ano antes de sua morte: "A mão infalível de Renina, aereamente domina a Terra, transfigurada em melodia visual".
Maria, que nasceu na Itália, mas foi criada no Brasil, é uma das responsáveis pelas gravuras de grandes dimensões. Ao longo dos anos 70, sucumbiu à escultura, que produz até hoje.
Suas obras já frequentaram a Bienal Internacional de São Paulo em sete edições diferentes, entre muitas outras exposições no Brasil e no exterior.
Faz relevos monumentais para espaços públicos, mas também pequenos objetos, nunca abandonando a gravura. "O importante é resistir sempre e ter coerência", afirmou.
(FERNANDA CIRENZA)

Exposição: Vigência, de Maria Bonomi e Renina Katz
Quando: de seg. a sex., das 10h às 19h; sáb., das 10h às 14h. Até 16/11
Onde: Multipla de Arte (av. Morumbi, 7.986, Morumbi, tel. 241-0157)
Quanto: entrada franca; obras de R$ 600 a R$ 6.000




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