SYLVIA COLOMBO
EDITORA-ADJUNTA DA ILUSTRADA

"Consigo aceitar a idéia de que em breve os vermes roerão minha carne; mas sinto calafrios só em pensar que mestres em filosofia irão alimentar-se de minha doutrina filosófica", disse Schopenhauer em 1860, no mesmo ano de sua morte.
Nem mesmo um filósofo tão pessimista como ele poderia imaginar que não só acadêmicos do futuro teriam a ousadia de aproveitar-se de sua obra, mas também aventureiros como o escritor britânico de origem suíça Alain de Botton.
Em seu "As Consolações da Filosofia", lançado no ano passado na Inglaterra e que chega agora ao Brasil, o escritor usa trechos dos trabalhos de seis filósofos para elaborar "lições" que possam auxiliar as pessoas a resolver problemas comezinhos do cotidiano.
Assim, foram por ele escolhidos Sócrates, para o problema da impopularidade; Epicuro, para o da falta de dinheiro; Sêneca, para a frustração; Montaigne, para a inadequação; Schopenhauer, para o da decepção amorosa; e Nietzsche, para as dificuldades.
Parte da crítica britânica diz que Botton simplifica a mensagem dos autores de que faz uso. Não é a primeira vez que o escritor levanta polêmica por seu estilo literário, que muitas vezes parece ser um primo distante -ainda que um pouco mais intelectualizado- da literatura de auto-ajuda. O mesmo foi dito, por exemplo, quando lançou "Como Proust Pode Mudar sua Vida" (99).
"Busco respostas para a minha vida na literatura e na filosofia. Isso não significa fazer livros de auto-ajuda", defende-se Botton.
"As Consolações da Filosofia" é, antes de tudo, um livro bem-humorado. Irônico, o autor tenta estabelecer pontes atemporais para explicar comportamentos humanos que se repetem na Grécia Antiga, na Europa romântica do século 19 e na Londres dos dias de hoje, onde ele vive.
Cada capítulo traz dados biográficos dos filósofos, com ênfase em sua trajetória pessoal e em passagens curiosas sobre sua história íntima. A isso, o autor contrapõe cada problema escolhido, ambientando-o nos dias de hoje. Gravuras, mapas e fotografias tentam dar um ar "didático" à narrativa. Na Inglaterra, o livro também ganhou uma série televisiva, exibida pelo Channel 4.
Botton tem lançados aqui "O Movimento Romântico", "Nos Mínimos Detalhes" e outros.