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"Leve Sêneca para viajar", diz Botton
DA REDAÇÃO
Em entrevista à Folha, Alain de
Botton falou de "As Consolações
da Filosofia" e comentou o conflito no Afeganistão. Leia os principais trechos.
(SYLVIA COLOMBO)
Folha - Por que você escolheu os
filósofos que estão no livro?
Alain de Botton - A maioria dos
filósofos que existiram não estava
interessada nos problemas do
dia-a-dia, e sim em temas abstratos. Perguntavam-se "Eu existo?"
ou "Isso é uma cadeira?". Os que
estão neste livro são os filósofos-práticos de que gosto mais.
Folha - Cite uma passagem de sua
vida em que uma "lição" tirada da
filosofia o ajudou.
Botton - Sêneca, por exemplo, é
ótimo para viagens. Estava num
aeroporto e fiquei nervoso porque meu avião atrasou. Então
lembrei-me de Sêneca, que nos
diz que a raiva vem de uma idéia
otimista do mundo, como se o
normal, no meu caso, fosse que
aviões partissem sempre no horário. Sêneca nos mostra que alguém que fica bravo quando perde uma chave tem uma imagem
errada das coisas, acredita num
mundo em que chaves nunca se
perdem.
Folha - Os filósofos que você cita
oferecem instrumentos para lidar
com a incompreensão. O tema anda em voga no atual conflito do
Afeganistão. Acha que a filosofia
oferece uma solução para isso?
Botton - Acho que a filosofia nos
orienta em um momento como
esse, do conflito no Afeganistão.
Ela nos diz para não termos medo
de discutir temas sobre os quais
concordamos ou discordamos,
em uma ou em outra cultura. Prefiro entrar na discussão a adotar
uma posição que não encontra
respostas, dizendo apenas "somos todos diferentes".
Folha - Daí entra o que você diz
sobre Sócrates ("devemos apelar
para ele como um exemplo extremo de como se manter a confiança
quando advogamos um ponto de
vista inteligente que foi refutado
sem base na lógica")?
Botton - Os direitos humanos,
respeito à liberdade de expressão,
igualdade dos sexos são coisas
boas de maneira universal. O fato
de que essas idéias prevalecem no
Ocidente é um acidente da história política. Mas devemos nos
sentir confiantes ao defender certas idéias, encontrando-as em
países cristãos ou islâmicos. A filosofia precisa ser internacional.
Quando Sócrates foi questionado
sobre de onde vinha, ele não disse:
"de Atenas", e sim "do mundo".
Todos deveriam dizer o mesmo.
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