São Paulo, sábado, 27 de outubro de 2001

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"Leve Sêneca para viajar", diz Botton

DA REDAÇÃO

Em entrevista à Folha, Alain de Botton falou de "As Consolações da Filosofia" e comentou o conflito no Afeganistão. Leia os principais trechos. (SYLVIA COLOMBO)

Folha - Por que você escolheu os filósofos que estão no livro?
Alain de Botton -
A maioria dos filósofos que existiram não estava interessada nos problemas do dia-a-dia, e sim em temas abstratos. Perguntavam-se "Eu existo?" ou "Isso é uma cadeira?". Os que estão neste livro são os filósofos-práticos de que gosto mais.

Folha - Cite uma passagem de sua vida em que uma "lição" tirada da filosofia o ajudou.
Botton -
Sêneca, por exemplo, é ótimo para viagens. Estava num aeroporto e fiquei nervoso porque meu avião atrasou. Então lembrei-me de Sêneca, que nos diz que a raiva vem de uma idéia otimista do mundo, como se o normal, no meu caso, fosse que aviões partissem sempre no horário. Sêneca nos mostra que alguém que fica bravo quando perde uma chave tem uma imagem errada das coisas, acredita num mundo em que chaves nunca se perdem.

Folha - Os filósofos que você cita oferecem instrumentos para lidar com a incompreensão. O tema anda em voga no atual conflito do Afeganistão. Acha que a filosofia oferece uma solução para isso?
Botton -
Acho que a filosofia nos orienta em um momento como esse, do conflito no Afeganistão. Ela nos diz para não termos medo de discutir temas sobre os quais concordamos ou discordamos, em uma ou em outra cultura. Prefiro entrar na discussão a adotar uma posição que não encontra respostas, dizendo apenas "somos todos diferentes".

Folha - Daí entra o que você diz sobre Sócrates ("devemos apelar para ele como um exemplo extremo de como se manter a confiança quando advogamos um ponto de vista inteligente que foi refutado sem base na lógica")?
Botton -
Os direitos humanos, respeito à liberdade de expressão, igualdade dos sexos são coisas boas de maneira universal. O fato de que essas idéias prevalecem no Ocidente é um acidente da história política. Mas devemos nos sentir confiantes ao defender certas idéias, encontrando-as em países cristãos ou islâmicos. A filosofia precisa ser internacional. Quando Sócrates foi questionado sobre de onde vinha, ele não disse: "de Atenas", e sim "do mundo". Todos deveriam dizer o mesmo.



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