São Paulo, quinta-feira, 27 de outubro de 2005

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"ROSARIO TIJERAS" E "MELODIAS"

Produções colombianas dão rosto à violência urbana

COLUNISTA DA FOLHA

A imagem que em geral fazemos da Colômbia, com base nas informações que a mídia nos traz, é a de um país dividido entre os narcotraficantes, os guerrilheiros e o Exército. O resto é uma massa amorfa de vítimas anônimas com cara de índio. Dois longas-metragens exibidos na Mostra ajudam a matizar esse quadro e a dar rosto aos personagens do drama colombiano.
Curiosamente, os dois foram feitos por estrangeiros. O documentário "Melodias" é assinado pelo suíço François Bovy, e o drama policial de ficção "Rosario Tijeras" tem direção do mexicano Emilio Maillé.
"Rosario Tijeras" é um filme ágil e vibrante, mais ou menos ao estilo do Beto Brant de "O Invasor", embora sem o mesmo talento. Narra o envolvimento de dois rapazes de classe média com uma garota de programa (a Rosario do título) que serve como "sicária" (comparsa) a traficantes de cocaína, em Medellín.
Um tanto convencional em sua narrativa, o filme tem, contudo, momentos fortes, como o violento funeral de um jovem delinqüente, depois de uma noite delirante em que o cadáver é levado a bares e boates, de óculos escuros, como se estivesse vivo -o que faz lembrar o brasileiro "A Grande Noitada", de Denoy de Oliveira.
Destaca-se também a maneira delicada de abordar a relação entre os dois amigos apaixonados pela mesma mulher.
Numa cena antológica, os três estão na mesma casa. Depois de fazer sexo com o namorado, Rosario desce à sala, só com um vestido sobre o corpo nu, senta-se no sofá e conversa com o outro rapaz. Ao sair, deixa uma mancha úmida onde estava sentada. O rapaz apaixonado toca o líquido e o leva à boca, sem se perguntar se o fluido vinha do corpo da amada ou do amigo.
Em "Melodias", mesclam-se as histórias de vários personagens reais de uma cidade colombiana: um taxista, um pequeno bandido, um médico de hospital público etc. Tudo gira em torno da violência urbana, mas esta é iluminada por vários ângulos.
A construção narrativa é engenhosa. Acompanhamos primeiro o taxista. Quando ele estaciona no mercado, a câmera passa a acompanhar o guardador de carros (que se revela um delinqüente). Este é ferido numa briga de bar, o que nos leva ao hospital e ao médico que o atende, e assim vai.
Um filme complementa o outro. Ambos merecem ser vistos. (JOSÉ GERALDO COUTO)

Rosario Tijeras
   
Direção: Emilio Maillé
Quando: hoje, às 15h30, no Cine Bombril; e 30, às 19h, no Cinesesc

Melodias
   
Direção: François Bovy
Quando: dia 30, às 20h40, na Sala UOL


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