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"ROSARIO TIJERAS" E "MELODIAS"
Produções colombianas dão rosto à violência urbana
COLUNISTA DA FOLHA
A imagem que em geral fazemos da Colômbia, com base
nas informações que a mídia nos
traz, é a de um país dividido entre
os narcotraficantes, os guerrilheiros e o Exército. O resto é uma
massa amorfa de vítimas anônimas com cara de índio. Dois longas-metragens exibidos na Mostra ajudam a matizar esse quadro
e a dar rosto aos personagens do
drama colombiano.
Curiosamente, os dois foram
feitos por estrangeiros. O documentário "Melodias" é assinado
pelo suíço François Bovy, e o drama policial de ficção "Rosario Tijeras" tem direção do mexicano
Emilio Maillé.
"Rosario Tijeras" é um filme
ágil e vibrante, mais ou menos ao
estilo do Beto Brant de "O Invasor", embora sem o mesmo talento. Narra o envolvimento de dois
rapazes de classe média com uma
garota de programa (a Rosario do
título) que serve como "sicária"
(comparsa) a traficantes de cocaína, em Medellín.
Um tanto convencional em sua
narrativa, o filme tem, contudo,
momentos fortes, como o violento funeral de um jovem delinqüente, depois de uma noite delirante em que o cadáver é levado a
bares e boates, de óculos escuros,
como se estivesse vivo -o que faz
lembrar o brasileiro "A Grande
Noitada", de Denoy de Oliveira.
Destaca-se também a maneira
delicada de abordar a relação entre os dois amigos apaixonados
pela mesma mulher.
Numa cena antológica, os três
estão na mesma casa. Depois de
fazer sexo com o namorado, Rosario desce à sala, só com um vestido sobre o corpo nu, senta-se no
sofá e conversa com o outro rapaz. Ao sair, deixa uma mancha
úmida onde estava sentada. O rapaz apaixonado toca o líquido e o
leva à boca, sem se perguntar se o
fluido vinha do corpo da amada
ou do amigo.
Em "Melodias", mesclam-se as
histórias de vários personagens
reais de uma cidade colombiana:
um taxista, um pequeno bandido,
um médico de hospital público
etc. Tudo gira em torno da violência urbana, mas esta é iluminada
por vários ângulos.
A construção narrativa é engenhosa. Acompanhamos primeiro
o taxista. Quando ele estaciona no
mercado, a câmera passa a acompanhar o guardador de carros
(que se revela um delinqüente).
Este é ferido numa briga de bar, o
que nos leva ao hospital e ao médico que o atende, e assim vai.
Um filme complementa o outro. Ambos merecem ser vistos.
(JOSÉ GERALDO COUTO)
Rosario Tijeras
Direção: Emilio Maillé
Quando: hoje, às 15h30, no Cine
Bombril; e 30, às 19h, no Cinesesc
Melodias
Direção: François Bovy
Quando: dia 30, às 20h40, na Sala UOL
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