São Paulo, sexta-feira, 27 de outubro de 2006

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Entrevista/"O Sacrifício"

LaBute opõe sexos em filme de horror

SYLVIA COLOMBO
DA REPORTAGEM LOCAL

Olhos desatentos verão "O Sacrifício" apenas como um filme de horror. Já cinéfilos alertas podem achar que Neil LaBute, 43, quer nada mais que desafiar colegas, como Lars Von Trier e M. Night Shyamalan, para ver quem faz o melhor filme sobre "forasteiros-que-vão-parar-em-comunidades-freak". Mas o que está mesmo na mira do diretor do provocativo "Na Companhia de Homens" (1997) é seu tema preferido, o conflito entre homens e mulheres nos EUA de hoje. Leia trechos da entrevista que o cineasta norte-americano deu à Folha, por e-mail.

FOLHA - Esse é um remake de um filme de horror dos anos 70. Por que contar a história novamente?
NEIL LABUTE
- Queria criar uma nova mitologia e investigar temas que considero meus e que cabiam nesse formato. Também percebi, de um modo mais amplo, que a história trabalhava com uma metáfora sobre como a América tem feito intervenções em assuntos dos outros e como isso freqüentemente termina em lágrimas e sangue. De um modo similar, o original lidava com o tema da cultura contra a contracultura.

FOLHA - Como em "Na Companhia de Homens" e seus filmes seguintes, o conflito entre homens e mulheres também está na essência de "O Sacrifício". Por que essa obsessão?
LABUTE
- Não sei bem porque este se tornou um tema tão central para mim. Sua importância se revelou durante o meu trabalho. O que é certo é que se trata de uma preocupação universal, construída sobre o mito de Adão e Eva. E o fato de ter entrado com tanta força no meu trabalho foi algo além da minha vontade. Nesse filme, particularmente, quis dar a dimensão clássica desse conflito.

FOLHA - O filme é quase uma ficção científica. Como foi para você trabalhar numa perspectiva tão diferente de seus trabalhos anteriores?
LABUTE
- É verdade que esse filme está muito mais perto de uma ficção científica do que de um filme de horror tradicional, como muita gente pensou, de forma equivocada. Trabalhar num mundo novo é muito estranho, e foi engraçado ver como os atores partiram de um padrão para então buscar parecer diferentes, com um novo olhar, uma nova linguagem.

FOLHA - "O Sacrifício" confronta ou satiriza os filmes de horror?
LABUTE
- Ele joga com as convenções dos filmes de horror, mas sem usar os instrumentos mais comuns do gênero -como monstros ou assassinos-, assim como não se passa em algumas de suas óbvias paisagens (escuridão da noite, casas mal-assombradas). Tentei ser satírico com relação à forma como esses filmes tratam o conflito entre homens e mulheres. E fiquei chateado com as críticas que o tomaram como um filme de horror convencional, acho que elas confundem o público.

FOLHA - Você vê ligação entre "O Sacrifício" e as tramas de "Dogville" (Lars Von Trier) ou "A Vila" (M. Night Shyamalan)?
LABUTE
- Sim, ambos os filmes tratam de uma comunidade fechada que desconfia de forasteiros. Gosto muito dos mundos que eles criaram. Os dois também fizeram com que as pessoas se envolvessem com os personagens e ao mesmo tempo tivessem medo deles.


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