Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Entrevista/"O Sacrifício"
LaBute opõe sexos em filme de horror
SYLVIA COLOMBO
DA REPORTAGEM LOCAL
Olhos desatentos verão "O
Sacrifício" apenas como um filme de horror. Já cinéfilos alertas podem achar que Neil LaBute, 43, quer nada mais que
desafiar colegas, como Lars
Von Trier e M. Night Shyamalan, para ver quem faz o melhor
filme sobre "forasteiros-que-vão-parar-em-comunidades-freak". Mas o que está mesmo
na mira do diretor do provocativo "Na Companhia de Homens" (1997) é seu tema preferido, o conflito entre homens e
mulheres nos EUA de hoje.
Leia trechos da entrevista
que o cineasta norte-americano deu à Folha, por e-mail.
FOLHA - Esse é um remake de um
filme de horror dos anos 70. Por que
contar a história novamente?
NEIL LABUTE - Queria criar uma
nova mitologia e investigar temas que considero meus e que
cabiam nesse formato. Também percebi, de um modo mais
amplo, que a história trabalhava com uma metáfora sobre como a América tem feito intervenções em assuntos dos outros e como isso freqüentemente termina em lágrimas e
sangue. De um modo similar, o
original lidava com o tema da
cultura contra a contracultura.
FOLHA - Como em "Na Companhia
de Homens" e seus filmes seguintes,
o conflito entre homens e mulheres
também está na essência de "O Sacrifício". Por que essa obsessão?
LABUTE - Não sei bem porque
este se tornou um tema tão
central para mim. Sua importância se revelou durante o
meu trabalho. O que é certo é
que se trata de uma preocupação universal, construída sobre
o mito de Adão e Eva. E o fato
de ter entrado com tanta força
no meu trabalho foi algo além
da minha vontade. Nesse filme,
particularmente, quis dar a dimensão clássica desse conflito.
FOLHA - O filme é quase uma ficção
científica. Como foi para você trabalhar numa perspectiva tão diferente
de seus trabalhos anteriores?
LABUTE - É verdade que esse filme está muito mais perto de
uma ficção científica do que de
um filme de horror tradicional,
como muita gente pensou, de
forma equivocada. Trabalhar
num mundo novo é muito estranho, e foi engraçado ver como os atores partiram de um
padrão para então buscar parecer diferentes, com um novo
olhar, uma nova linguagem.
FOLHA - "O Sacrifício" confronta
ou satiriza os filmes de horror?
LABUTE - Ele joga com as convenções dos filmes de horror,
mas sem usar os instrumentos
mais comuns do gênero -como
monstros ou assassinos-, assim como não se passa em algumas de suas óbvias paisagens
(escuridão da noite, casas mal-assombradas). Tentei ser satírico com relação à forma como
esses filmes tratam o conflito
entre homens e mulheres. E fiquei chateado com as críticas
que o tomaram como um filme
de horror convencional, acho
que elas confundem o público.
FOLHA - Você vê ligação entre "O
Sacrifício" e as tramas de "Dogville"
(Lars Von Trier) ou "A Vila" (M. Night
Shyamalan)?
LABUTE - Sim, ambos os filmes
tratam de uma comunidade fechada que desconfia de forasteiros. Gosto muito dos mundos que eles criaram. Os dois
também fizeram com que as
pessoas se envolvessem com os
personagens e ao mesmo tempo tivessem medo deles.
Texto Anterior: Lanterninha Próximo Texto: Crítica: Refilmagem se perde em misoginia barata Índice
|