São Paulo, sexta-feira, 27 de outubro de 2006

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Rogério Duprat morre em São Paulo

ILUSTRADA Um dos criadores do tropicalismo, maestro estava internado há 15 dias, com câncer na bexiga

Duprat, que começou na área erudita e depois se juntou aos tropicalistas, estava afastado do cenário musical desde os anos 80

DA REPORTAGEM LOCAL

Um dos principais responsáveis pela sonoridade transgressora do tropicalismo, o maestro carioca Rogério Duprat morreu ontem, aos 74 anos, de insuficiência renal crônica, em decorrência de um câncer na bexiga. Duprat -que há 30 anos vinha perdendo progressivamente a audição e também sofria de mal de Alzheimer- estava internado desde o último dia 10 no hospital Premiere Residence, em São Paulo.
Segundo a médica Maria Goretti Sales Maciel, diretora clínica do hospital, Duprat vinha recebendo cuidados paliativos, "para que não sentisse dor". "Ele ficou no quarto, ao lado da família, o tempo todo", disse.
Nascido no Rio de Janeiro, mas vivendo em São Paulo desde os anos 1950, Duprat iniciou sua trajetória musical como estudante de filosofia da USP, época em que passou a ouvir e pesquisar a música eletrônica. Nesse período, integrou a Orquestra Sinfônica Municipal e foi um dos fundadores e diretores da Orquestra de Câmara de São Paulo. Em 1967, iniciou a passagem da música erudita para a popular, fazendo os arranjos para a música "Domingo no Parque", de Gilberto Gil.
"Era um grande compositor, que começou na carreira erudita, mas teve atuação decisiva na música popular, pela interpretação mais ampla que deu a ela, trazendo mais componentes e uma visão crítica e bem-humorada da realidade", disse o maestro Júlio Medaglia.
Seu relacionamento com músicos como Gil levou-o ao núcleo do movimento tropicalista, o que resultou, em 1968, no álbum "Tropicália ou Panis et Circenses". "Ele foi uma pessoa fundamental para o tropicalismo e um estimulador dos ímpetos transformadores e criativos", lembra Gilberto Gil. Além dos tropicalistas, Duprat fez arranjos para "Construção", de Chico Buarque. Ele também tem uma extensa discografia de trilhas sonoras de filmes, entre eles, "A Ilha" e "Noite Vazia", todos do diretor Walter Hugo Khouri, além de "Marvada Carne", de André Klotzel.
Depois de passar um período compondo jingles para campanhas publicitárias, nos anos 70 e 80, Duprat se retirou da cena artística, por conta de sua progressiva perda de audição. Ele voltou ao cenário em 2002, como tema de um tributo no festival Hype, do Sesc Pompéia, que reuniu os produtores Paulo Beto e Loop B e a cantora Rebeca Matta, entre outros.
Em 2003, o trabalho de Duprat foi foco de uma pesquisa acadêmica que resultou no livro "Rogério Duprat: Sonoridades Múltiplas" (ed. Unesp), da pesquisadora Regiane Gaúna, que contou com a participação do maestro na análise de sua obra. O maestro também foi tema do documentário "Rogério Duprat - Vida de Músico", de Pedro Vieira. Neste ano, um disco inédito de sua autoria, "A Banda Tropicalista do Duprat" (1968), feito com os Mutantes, saiu em CD pela Universal.
Segundo a família de Duprat, o velório aconteceria no final da noite de ontem, no MIS. O corpo deve ser cremado no cemitério da Vila Alpina.


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