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Rogério Duprat morre em São Paulo
ILUSTRADA Um dos criadores do tropicalismo, maestro estava internado há 15 dias, com câncer na bexiga
Duprat, que começou na área erudita e depois se juntou aos tropicalistas, estava afastado do cenário musical desde os anos 80
DA REPORTAGEM LOCAL
Um dos principais responsáveis pela sonoridade transgressora do tropicalismo, o maestro
carioca Rogério Duprat morreu
ontem, aos 74 anos, de insuficiência renal crônica, em decorrência de um câncer na bexiga. Duprat -que há 30 anos
vinha perdendo progressivamente a audição e também sofria de mal de Alzheimer- estava internado desde o último dia
10 no hospital Premiere Residence, em São Paulo.
Segundo a médica Maria Goretti Sales Maciel, diretora clínica do hospital, Duprat vinha
recebendo cuidados paliativos,
"para que não sentisse dor".
"Ele ficou no quarto, ao lado da
família, o tempo todo", disse.
Nascido no Rio de Janeiro,
mas vivendo em São Paulo desde os anos 1950, Duprat iniciou
sua trajetória musical como estudante de filosofia da USP,
época em que passou a ouvir e
pesquisar a música eletrônica.
Nesse período, integrou a Orquestra Sinfônica Municipal e
foi um dos fundadores e diretores da Orquestra de Câmara de
São Paulo. Em 1967, iniciou a
passagem da música erudita
para a popular, fazendo os arranjos para a música "Domingo
no Parque", de Gilberto Gil.
"Era um grande compositor,
que começou na carreira erudita, mas teve atuação decisiva na
música popular, pela interpretação mais ampla que deu a ela,
trazendo mais componentes e
uma visão crítica e bem-humorada da realidade", disse o
maestro Júlio Medaglia.
Seu relacionamento com
músicos como Gil levou-o ao
núcleo do movimento tropicalista, o que resultou, em 1968,
no álbum "Tropicália ou Panis
et Circenses". "Ele foi uma pessoa fundamental para o tropicalismo e um estimulador dos
ímpetos transformadores e
criativos", lembra Gilberto Gil.
Além dos tropicalistas, Duprat
fez arranjos para "Construção",
de Chico Buarque. Ele também
tem uma extensa discografia de
trilhas sonoras de filmes, entre
eles, "A Ilha" e "Noite Vazia",
todos do diretor Walter Hugo
Khouri, além de "Marvada Carne", de André Klotzel.
Depois de passar um período
compondo jingles para campanhas publicitárias, nos anos 70
e 80, Duprat se retirou da cena
artística, por conta de sua progressiva perda de audição. Ele
voltou ao cenário em 2002, como tema de um tributo no festival Hype, do Sesc Pompéia, que
reuniu os produtores Paulo Beto e Loop B e a cantora Rebeca
Matta, entre outros.
Em 2003, o trabalho de Duprat foi foco de uma pesquisa
acadêmica que resultou no livro "Rogério Duprat: Sonoridades Múltiplas" (ed. Unesp), da
pesquisadora Regiane Gaúna,
que contou com a participação
do maestro na análise de sua
obra. O maestro também foi tema do documentário "Rogério
Duprat - Vida de Músico", de
Pedro Vieira. Neste ano, um
disco inédito de sua autoria, "A
Banda Tropicalista do Duprat"
(1968), feito com os Mutantes,
saiu em CD pela Universal.
Segundo a família de Duprat,
o velório aconteceria no final
da noite de ontem, no MIS. O
corpo deve ser cremado no cemitério da Vila Alpina.
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