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Crítica/"Import Export"
Histórias individuais realçam desordem da vida
SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA
Habituado a investigar
temas da sociedade
contemporânea em
seus documentários, como os
bastidores da indústria da moda ("Models") e a fé religiosa
("Jesus, You Know"), o diretor
e roteirista austríaco Ulrich
Seidl mantém, na ficção, a mesma espécie de abordagem: quer
entender quem são seus personagens, sem julgá-los, disposto
a permitir que espelhem mais
do que trajetórias individuais.
Em "Import Export", que
disputou a mostra competitiva
em Cannes neste ano, os protagonistas são a enfermeira ucraniana Olga (Ekateryna Rak),
mãe de uma criança cuidada
pela avó, e o segurança austríaco Paul (Paul Hofmann), que
vive com a mãe e o padrasto. Incapazes de romper laços familiares, dependem da benevolência alheia para tocar a vida.
Sob a perspectiva social, o
que os une diz respeito a muito
mais gente: as dificuldades de
inserção na economia formal
de seus países. Olga tenta um
subemprego do mundo virtual
e, depois, busca a sorte na Áustria, onde é mão-de-obra barata
para tarefas subalternas. Paul
sonha com um emprego na linha de "Tropa de Elite", mas a
realidade rebaixa seus planos.
Ao apresentar essas histórias
em paralelo, criando a expectativa (característica da ficção) de
que ambos trombarão em alguma esquina, Seidl obtém resultado comum a documentários
voltados a uma ou outra árvore,
e não à floresta. O filme sugere
que poderia enfileirar trabalhadores inseridos no fluxo de importação e exportação humanas da economia globalizada.
Em contraste com outros
longas sobre tal cenário, como
"Coisas Belas e Sujas" (2002) e
"Neste Mundo" (2002), "Import Export" resiste a dramatizar sentimentalmente seus
personagens, tratados pela câmera com objetividade documental que contribui para realçar a desordem das coisas.
IMPORT EXPORT
Produção: Áustria
Direção: Ulrich Seidl
Com: Ekateryna Rak, Paul Hofmann
Quando: hoje, às 18h40, no Unibanco
Arteplex 1; amanhã, às 18h, no Memorial da América Latina
Avaliação: bom
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