São Paulo, sábado, 27 de outubro de 2007

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Glória Menezes vive Maude, uma jovem de 80 anos

História de amor entre mulher idosa e rapaz é enredo da peça "Ensina-me a Viver", que estréia hoje no teatro Faap

O pernambucano João Falcão dirige oito atores em cena, entre eles Fernanda de Freitas e Augusto Madeira, do elenco de "Tropa de Elite"

CHANTAL BRISSAC
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O ator Arlindo Lopes, 28, ainda não tinha nascido quando Colin Higgins escreveu "Harold and Maude" (1971), que virou cult e teve várias versões para cinema e teatro no mundo todo. Mas o jovem foi o estopim para a realização da peça "Ensina-me a Viver", que estréia hoje no teatro Faap. Arlindo viu o filme dirigido por Hal Ashby aos 9 anos e se encantou.
A paixão entre Harold, um garoto que freqüenta funerais e simula suicídios, e Maude, uma "jovem" de quase 80 anos, fascinou o ator carioca. "Esse enredo me marcou. Tanto que, aos 18, decidi que um dia iria produzir a peça e encarnar o Harold", disse à Folha, depois de um ensaio geral.
Em 2003, ele comprou os direitos da peça e saiu em busca de uma produtora e uma equipe. Convidou o diretor pernambucano João Falcão e em seguida descobriu que a atriz Glória Menezes sonhava interpretar Maude, a encantadora senhora-menina da história.
"Espero conviver com essa personagem durante muito tempo", diz Menezes, 74, com seu vestido em tons de verde, peruca à la Shirley Temple e chapeuzinho. "Ela é ao mesmo tempo fascinante e amoral, celebra a vida."
No palco, Maude, com sua leveza e simplicidade, tira o jovem Harold de sua bizarra obsessão. A paixão que acontece entre eles é natural, nada forçada. A cenografia e a iluminação, bem pontuadas, ajudam no desenrolar da história, bem como a direção de João Falcão, que adaptou o texto traduzido por Millôr Fernandes.
Falcão conduz 13 personagens representados por oito atores, entre eles nomes conhecidos, como Ilana Kaplan, na pele da ególatra Helena Chasen, mãe de Harold, e Augusto Madeira. Menezes passeia com tranqüilidade e disposição pelas cenas, emprestando muito de sua verve à personagem. Como diz o diretor, a atriz "é louca no bom sentido". "Quando recebi o convite do Arlindo, pensei imediatamente na Glória para viver essa personagem. Ela tem a alegria, um lado meio engraçado, de menina. Sua personalidade tem muito a ver com Maude", diz Falcão.
"Ela é deliciosa. Quando assisti ao filme nos anos 70 me perguntei se um dia teria condições físicas e mentais para interpretá-la. É uma realização estar na pele dela, 30 anos depois", diz a atriz, que acaba de completar 50 anos de carreira.

Caça-talentos
Uma jovem atriz que surpreende no espetáculo é Fernanda de Freitas, que interpreta as três pretendentes que a mãe quer empurrar para Harold. Ela estreou na novela global "Coração de Estudante" e debutou no cinema em "Cidade Baixa" (fez também "Tropa de Elite"). "Ela é uma revelação", diz Falcão, confirmando o seu olho clínico para descobrir novos talentos.
Foi ele quem arregimentou alguns dos nomes mais expressivos da dramaturgia brasileira, caso dos baianos Wagner Moura e Lázaro Ramos, seus parceiros em "A Máquina". O texto escrito nos anos 70 não perdeu o frescor. "Tenho duas filhas adolescentes e vejo como os jovens estão perdidos, angustiados, com medo. A peça fala do desapego e da alegria. E mostra como os mais velhos podem ensinar", nota.


ENSINA-ME A VIVER
Quando: estréia hoje, às 21h30; sex., às 21h30; sáb., às 21h, e dom., às 18h; até 16/12
Onde: teatro Faap (r. Alagoas, 903, tel. 0/xx/11/3662-7233)
Quanto: de R$ 70 a R$ 80


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