São Paulo, terça, 27 de outubro de 1998

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ARTES PLÁSTICAS
Senegalês radicado em Nova York curou a 2ª Bienal de Johannesburgo, na África do Sul, no ano passado
Okwui Enwezor é o curador da Documenta

Divulgação
O museu Fridericianum, uma das sedes da msotra alemã Documenta de Kassel


CELSO FIORAVANTE
da Reportagem Local

O senegalês radicado em Nova York Okwui Enwezor é o curador da 11ª edição da mostra Documenta de Kassel, na Alemanha, o mais importante evento de arte contemporânea do mundo, que acontece a cada cinco anos. A próxima edição acontece entre 8 de junho e 15 de setembro de 2002.
A decisão foi tomada no último fim-de-semana por um conselho de oito curadores e diretores de museus do mundo inteiro, depois de entrevistas com os cinco pretendentes ao cargo, e comunicada aos concorrentes na noite de domingo e manhã de ontem. Também estavam na disputa os seguintes curadores: o norte-americano Paul Schimmel (curador do MoCA de Los Angeles), James Lingwood, diretor da Archangel (espaço alternativo em Londres), Robert Storr (curador do MoMA de Nova York) e Ulrich Loch, curador suíço baseado em Genebra.
O comitê de escolha do curador da 11ª Documenta foi formado por René Block (diretor do museu Fridericianum de Kassel, sede principal da Documenta), Saskia Bos (diretora da Der Appel Foundation, de Amsterdã, Holanda), Lynn Cooke (curadora da DIA Art Foundation, de Nova York), Gary Garrels (curador-chefe do Museu de Arte Moderna de São Francisco), Bartomeu Mari (diretor do centro Witte de With, de Roterdã, Holanda), Suzanne Page (conservadora-chefe do Museu de Arte Moderna da Cidade de Paris), Klaus Werner (diretor da Galeria de Arte de Leipzig, na Alemanha) e Tuula Arkio (diretor do Museu de Arte Contemporânea de Helsinque, na Finlândia).
Okwui Enwezor é curador independente e foi o curador-chefe da 2ª edição da Bienal de Johannesburgo, na África do Sul, no ano passado. A opção da Documenta pode indicar uma maior abertura da mostra alemã à experimentação, às mídias alternativas e a centros produtores periféricos, como América Latina, África e Ásia.
"Com certeza, a próxima edição da Documenta terá uma presença da América Latina muito forte, apoteótica, assim como a África e a Ásia. Não será uma mostra americanocêntrica ou eurocêntrica, mas globalizante", disse o curador espanhol Octavio Zaya à Folha, por telefone, de Nova York. Ele trabalhou com Enwezor na 2ª Bienal de Johannesburgo e desenvolverá projetos na Documenta.
A mostra alemã deverá, assim, aprofundar-se em temas como nacionalidade, centro, periferia, identidade, etnicidade, choque de culturas, neocolonialismo e atritos em geral (econômicos, políticos ou culturais), temas esses levantados e discutidos no evento sul-africano, que apresentou obras de quatro artistas brasileiros: Rivane Neuenschwander, Rosângela Rennó, Valeska Soares e Cildo Meireles.
Também vai se aprofundar no caminho trilhado pela francesa Catherine David, curadora da última edição do evento. "A Documenta não se tratou de um showroom americano. É necessário ver que a via cultural não se liga necessariamente à via econômica. A Documenta foi contra o discurso de que na arte tudo já foi dito. Muitos ainda têm idéias apaixonantes, que precisam ser descobertas, mostradas e compreendidas", disse David sobre sua curadoria, que incluiu a produção de quatro artistas brasileiros: Hélio Oiticica, Lygia Clark, Tunga e Cabelo. Os três primeiros têm atualmente obras na Bienal de São Paulo.
A 24ª edição da Bienal de São Paulo, em cartaz no parque Ibirapuera, conta ainda com a participação dos quatro artistas selecionados para Johannesburgo no ano passado, o que denota uma fina sintonia curatorial e ideológica entre os três eventos.
Já em Johannesburgo, Enwezor adiantava que as questões estéticas levantadas seriam contaminadas por contestações políticas, relações sociais, tradições culturais e conflitos econômicos. Isso foi visto com nitidez na última Documenta e pode também ser sentido na Bienal, que tem nesta a sua edição mais politizada.
Uma relação privilegiada com a produção africana foi estimulada por David na última edição da Documenta, que apresentou obras do videomaker nigeriano Oladélé Ajiboyé Bamboyé e do cineasta mauritano Abderrahmane Sissako.
"Cinema e vídeo me parecem mídias úteis para a reflexão sobre a cultura, para a tentativa de desconstruir essa visão naturalista do continente. Eu quis mostrar artistas capazes de se confrontar com processos de aculturação", explicou David à Folha na época.
A Documenta foi criada em 1955 pelo pintor e professor Arnold Bode, que pretendia recuperar o prestígio da Alemanha nas artes plásticas, destruído com a Segunda Guerra, e apresentar artistas banidos pela ideologia do 3º Reich.



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