São Paulo, Sábado, 27 de Novembro de 1999


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THRILLER
Pantanal best seller

RODOLFO LUCENA
Editor de Informática


Houve fanfarra, pompa e circunstância na imprensa norte-americana -e internacional- quando, em fevereiro passado, o ex-advogado John Grisham lançou sua décima novela estrelada por advogados.
Não era para menos. Um dos maiores vendedores de livros do mundo, com mais de 110 milhões de exemplares vendidos, Grisham é sinônimo de sucesso editorial e cinematográfico -seis de seus romances viraram filmes, como "Tempo de Matar" e "A Firma".
"O Testamento", a bola da vez, chegou arrasando. A primeira edição norte-americana teve quase 3 milhões de exemplares e superou em vendas, no primeiro dia, o sucesso anterior ("O Advogado"). Para os leitores brasileiros, que agora encontram a tradução nas livrarias, traz uma atração extra: boa parte da ação é ambientada no Brasil, no Pantanal.
Na verdade, falar de "ação" em "O Testamento" é um pouco força de expressão. Essa é, de longe, a novela mais fraca já criada por Grisham, um especialista em tramas cheias de tensão e conflito.
A história começa muito bem, com dois capítulos narrados na primeira pessoa pelo multibilionário Troy Phelan.
Ele contabiliza suas posses e seus fracassos e resume, em duas frases, a situação que vai ser o motor de "O Testamento": "Não me dou bem com minhas três ex-mulheres nem com meus filhos. Hoje eles vão se reunir aqui, porque estou morrendo e está na hora de dividir o dinheiro".
A introdução termina com uma pitada de surrealismo, pouco comum nos livros de Grisham, com Phelan narrando seu próprio salto para a morte.
A partir daí, Grisham assume a narrativa. Em resumo, o biliardário deixou sua fortuna para uma filha gerada fora do casamento, desconhecida, até então, e vivendo em lugar incerto. Para as ex-mulheres, nada. Para os seis filhos conhecidos, o suficiente para que pagassem as dívidas, desde que não contestassem o testamento.
É claro que a primeira coisa que os filhos, mistura de fracassados com gananciosos e pervertidos, fizeram foi contratar advogados para contestar o testamento: US$ 11 bilhões estavam em jogo.
Para defender a vontade do morto, seus representantes legais saem em busca da herdeira, Rachel Lane, que vive no Brasil, é uma missionária e faz suas boas ações entre índios, no Pantanal.
O encarregado da missão é o advogado Nate O'Riley, especialista em contendas nos tribunais, mas um fracasso na vida, entregue ao alcoolismo e recorrentemente em busca de recuperação. Solitário, sem contato com suas ex-mulheres e os filhos, sai de uma clínica para enfrentar a jornada.
O que se vê a seguir está mais próximos de romances religiosos, em que desencaminhados contam seu encontro com Deus, do que dos primeiros e melhores romances de Grisham, ele próprio um missionário que já visitou o Brasil e o Pantanal várias vezes.
A cena brasileira, com hospitais miseráveis e personagens indefectíveis, deve agradar a norte-americanos interessados em lugares exóticos. Mas a busca da herdeira, os cenários, a dicotomia Pantanal-EUA, tudo não passa de pano de fundo para a jornada de um homem perdido que encontra forças para derrotar seu vício, encontra a paz e Deus movido pelo exemplo da herdeira bilionária que dedica a vida ao próximo.
Para completar, a revisão é lamentável. Além de pelo menos um erro de concordância, o uso da vírgula é peculiar e, muitas vezes, errado.


Avaliação:   

Livro: O Testamento Autor: John Grisham Lançamento: Rocco Quanto: R$ 25, em média (440 págs.)


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