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Diretor belga exibe os deserdados europeus
AMIR LABAKI
enviado especial a Amsterdã
Primeiro veio o surpreendente
triunfo em Cannes 99, com o drama social "Rosetta" dos irmãos
Dardenne. Agora, Amsterdã lança o documentário "Les Enfants
du Borinage - Lettre à Henri
Storck" (Os Filhos de Borinage
-Carta a Henri Storck) de Patric
Jean, dentro da mostra competitiva de vídeo. Os deserdados da
União Européia são os protagonistas do novo cinema belga.
"Os Filhos de Borinage" celebra
um dos maiores clássicos do documentarismo social europeu,
"Misère au Borinage" (Miséria
em Borinage), dirigido em 1933
por Henri Storck (1907-99), morto em setembro último, em parceria com o mestre holandês Joris
Ivens (1898-1989). O filme original retratava a pobreza disseminada numa região carvoeira belga.
Sessenta anos depois, Patric
Jean, nascido em Borinage, revisita a locação de Storck e Ivens.
Suas imagens são ainda mais desoladoras. Desde os anos 70 foram desativadas as minas de carvão. Nenhuma atividade econômica a sucedeu.
Os cortiços e favelas persistem.
A fome também. Os moradores
respondem com silêncio às tentativas de aproximação do cineasta.
Um deles cede para criticá-lo: "Só
quem passa fome entende os que
passam fome".
Jean defende-se recorrendo a
uma narração que não raras vezes
vira sermão. É o ponto fraco do
filme. "Os Filhos de Borinage" já
seria suficientemente forte restringindo-se aos sons, imagens e
raros depoimentos lá captados.
São flagrantes comuns nas arrogantes reportagens sobre o Terceiro Mundo. Paupérrima, uma
mulher manda um de seus quatro
filhos, absolutamente normal, para uma escola para retardados.
Um desempregado analfabeto
lembra que, na infância, teve o
mesmo destino.
Uma prostituta irada denuncia
a própria mãe. Aos 14 anos, foi
por ela oferecida a três marmanjos para saldar uma dívida de pôquer. Na sequência, foi violentada
também por seus dois irmãos.
"Rosetta", nota-se, nada tem de
ficção.
A herança de Storck é aqui celebrada não apenas pelo engajado
vídeo de Jean. Uma sessão em
louvor de sua memória apresenta
amanhã quatro de seus quase
cem filmes.
Entre 1927 e 1985, Storck rodou
documentários sociais, inúmeros
títulos sobre arte e folclore belga e
chegou até a filmar uma reportagem no Brasil de JK. Ao lado de
John Grierson e Joris Ivens, foi
um dos pioneiros do gênero, ainda na era muda, tornando-se um
de seus grandes articuladores internacionais no pós-guerra.
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