|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FESTIVAL DE BRASÍLIA
"O Chamado de Deus", de José Joffily, encerra a competição hoje com dossiê sobre vida eclesiástica
Documentário investiga vocação religiosa
JOSÉ GERALDO COUTO
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA
O que leva um jovem brasileiro
de hoje a se entregar à carreira religiosa? O documentário "O Chamado de Deus", de José Joffily,
que encerra hoje a competição do
33º Festival de Cinema de Brasília,
é construído em torno dessa
questão.
Joffily disse à Folha que sua ambição inicial, quando começou a
preparar o filme, era a de reconstituir a história da Igreja Católica
no Brasil, principalmente a partir
do início da República.
Depois de colher cerca de 30 horas de material de arquivo e depoimentos de autoridades eclesiásticas, o cineasta resolveu "jogar tudo fora" quando conheceu,
na Romaria da Terra e das Águas,
em Bom Jesus da Lapa (BA), um
grupo de jovens que se preparava
para entrar na ordem dos franciscanos.
"O que mais me impressionou
foi o modo como eles se diziam
"vocacionados" para o serviço de
Deus. Ao mesmo tempo, manifestavam um compromisso muito grande com a nossa realidade
social", diz Joffily.
"Acompanhei a rotina deles, seu
trabalho com a comunidade e
acabei fazendo um dossiê."
O cineasta decidiu então concentrar o foco de seu documentário em uns poucos personagens,
todos eles jovens "vocacionados".
Três deles são do grupo de franciscanos que ele encontrou na Bahia.
"A posição deles era ligada à
chamada Teologia da Libertação,
por isso resolvi completar o quadro procurando um grupo que representasse uma tendência oposta, mais conservadora", explica o
diretor.
Esse outro grupo Joffily foi encontrar num seminário diocesano em Correias (RJ), onde ficou
por um tempo procurando personagens representativos.
"Esses novos personagens são
mais ligados à corrente da Renovação Carismática, que tem como
proposta reconquistar fiéis com
uma liturgia mais festiva", afirma
Joffily.
Há no filme um longo depoimento do padre Marcelo Rossi, o
expoente "carismático" mais conhecido, e cenas do evento "Em
Nome do Pai", promovido pela
corrente no Maracanã.
Por fim, Joffily propiciou um
contato entre os grupos das duas
tendências, mostrando para cada
um deles as imagens do outro.
"Eles comentam, no filme, suas
concordâncias e discordâncias.
Por mais que eu pudesse ter simpatia por um ou outro lado, era
impossível manipular seus depoimentos, pois todos se expunham
com uma sinceridade muito
grande."
Realizado em vídeo digital e depois transposto para a película,
"O Chamado de Deus" custou
pouco mais de R$ 200 mil.
Há dois meses, o filme foi premiado em Brasília com o troféu
Margarida de Prata, conferido pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
Apesar do prêmio, Joffily faz
questão de dizer que não é católico e não entende nada de religião.
"Desde o início, eu queria falar
da Igreja Católica para falar do
Brasil, pois o catolicismo é a religião mais entranhada no país.
Não é à toa que, toda vez que a
igreja critica o poder, o governo
manda os padres voltarem para a
sacristia", diz o diretor, referindo-se a uma recente declaração do
presidente.
A sessão de hoje no Cine Brasília
é a primeira exibição pública de
"O Chamado de Deus". Até agora
só viram o filme os bispos da
CNBB que lhe conferiram o prêmio da entidade e os membros da
comissão de seleção do Festival de
Brasília.
A cerimônia de premiação do
festival será amanhã à noite. O resultado, dada a heterogeneidade
do júri, é imprevisível, mas "Bicho
de 7 Cabeças", de Laís Bodanzky,
tem sido apontado como favorito.
Texto Anterior: Teatro: "Abajur Lilás" espelha desumanidade Próximo Texto: Artes Plásticas: Masp volta ao centro de SP após 32 anos Índice
|