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CRÍTICA
"No Vermelho" dramatiza fracasso
XICO SÁ
FREE-LANCE PARA A FOLHA
A "era FHC" chega ao fim
com um programa de TV
parecido com o seu resultado, esse "No Vermelho" que estreou no
domingo na Record. Um "game
show" comandado por José Luiz
Datena, cujos concorrentes tombaram na competição real da economia e agora tentam sair do buraco em uma aposta de auditório.
São vítimas do desemprego, arruinados por dívidas, que tentam
limpar o nome a todo custo.
Nome limpo na praça, como diz
uma participante da estréia, é o
único patrimônio do pobre. As
narrativas dos concorrentes levam ao choro, para transbordar
ainda mais o vale de lágrimas que
virou a televisão domingueira.
"Não sei se você vai chorar?!",
antecipa o próprio apresentador
antes de mostrar as desgraças. Faz
assim uma agiotagem emocional
para apresentar vidas afogadas
em juros na lama do SPC.
A diferença do novo programa é
que Datena não atribui o desemprego a forças do além ou castigos
do Senhor, como as ruínas sociais
costumam ser tratadas por outros
apresentadores. É direto ao culpar
o governo.
Com um discurso afetivo e supostamente solidário -não seria
esta a melhor receita de populismo?-, no qual tenta parecer
sempre em auxílio aos concorrentes, o apresentador reserva qualquer dureza (a "marvada" mão
invisível do mercado) a uma voz
em "off", austera mediadora na
contagem de ponto e julgamento
dos participantes.
A aposta na jogatina -um tabu
nos sermões evangélicos dos donos da emissora- tem também
"Roleta Russa", nas noites de
quinta, com Milton Neves. Ao
contrário de Datena, ele faz a linha dura, quase sadomasoquista,
e se diverte ao mandar para um
buraco, um fosso mesmo, concorrentes que fracassam em respostas a perguntas na linha
"Show do Milhão".
"Essa é a parte que eu mais gosto", diz o apresentador, cinismo
ensaiado, no momento da queda.
O programa é bem dirigido, a
corrida é milionária (R$ 500 mil),
mas é pouco depender apenas de
um buraco como grande apelo.
Somente Silvio Santos, com um
pacote de dinheiro na mão e alguns miseráveis à frente, consegue há décadas esse milagre.
No Vermelho
Onde: Record, domingo, 19h
Roleta Russa
Onde: Record, quinta, 22h30
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