São Paulo, terça-feira, 27 de novembro de 2007

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Mônica Bergamo

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PHILIPPE DHALLUIN

João Sal/Folha Imagem
Dhalluin, do Mouton Rothschild, em jantar no Morumbi

"Se o brasileiro quiser vinho francês barato, terá de ir à França"

Depois de Aubert de Villaine, do Domaine de la Romanée Conti, que se reuniu com banqueiros, empresários e apreciadores de vinhos em SP no mês passado, o enólogo chefe e diretor da Mouton Rothschild, Philippe Dhalluin, passou pela cidade para um dia de degustações. Ele se encontrou com 30 enófilos e comandou um jantar -a R$ 480 cada um dos 20 convites- no restaurante Eau, no Morumbi. Na carta da noite, quatro vinhos: do Château d'Armailhac Grand Cru Classé, de R$ 245, ao Château Mouton Rothschild, de 1990, a chamada "safra mágica" -que não sai por menos de R$ 4.000 a garrafa, com rótulo assinado por Francis Bacon. No menu, bacalhau ao creme de trufas, escalope de foie gras com figo e banana caramelizada, carré de cordeiro e biscoitinhos de amêndoas e uvas brancas. Antes do jantar, o enólogo falou à coluna:

 

FOLHA - Em visita a SP, Pierre Lurton, diretor do Château Cheval Blanc e do Château D'Yquem, disse que poderá faltar champanhe no mundo, já que a produção é limitada e o consumo explodiu em países como China, Rússia e Índia. O mesmo pode acontecer com o vinho?
PHILIPPE DHALLUIN -
É sempre possível. Mas quando a demanda sobe, o que fazemos? Subimos o preço. É isso: já que não é possível aumentar a produção, subiremos o preço, claro.

FOLHA - Isso não tornará o consumo mais restrito e elitista?
DHALLUIN -
Sim, o consumo é cada vez mais restrito e elitista. C'est la vie [É a vida].

FOLHA - O Brasil é um bom mercado para os vinhos da Mouton? DHALLUIN - É o primeiro mercado da Mouton na América Latina, até porque é o país mais populoso.

FOLHA - Mas a população brasileira em geral não compra vinho.
DHALLUIN -
É claro que não. Mas há uma pequena população da elite que pode consumir e que compra. O vinho é um produto de luxo e o consumidor brasileiro é do tipo que se interessa cada vez mais. O problema do Brasil são os impostos. Aqui, o vinho francês tem... tem... [pede ajuda a um importador que está no jantar] Quanto de imposto? É, é isso: 116% até chegar ao consumidor. Um vinho que custa 30 na França, eu vejo aqui por mais de 100. Enfim, se o brasileiro quiser vinho francês barato, terá de ir à França.

FOLHA - O que o senhor acha do crítico Robert Parker, que distribui notas aos vinhos e é acusado de criar uma ditadura do gosto?
DHALLUIN -
Robert Parker é a referência mundial em vinhos, como o Guide Michelin, de restaurantes, na França. É um guia. Se você está em SP, por exemplo, num hotel de prestígio ou com amigos numa boa casa, e quer beber um vinho de alto nível, pode recorrer ao Robert Parker. Encontro com ele três, quatro vezes por ano, quando ele visita o château. Ele nos deu a nota máxima, distinguiu o Mouton de todos os outros vinhos. O que posso dizer? Ele não obriga ninguém a escolher este ou aquele vinho.

FOLHA - Muitos no Brasil dizem que aqui se consome vinho mais por exibicionismo que por prazer. O que o senhor acha?
DHALLUIN -
É o que eu disse: nossos vinhos são um produto de luxo. É a mesma coisa que se perguntar por que as pessoas usam óculos Yves Saint Laurent, sapatos Prada, ou um relógio de ouro para ver as horas... A resposta é: você ama seus sapatos Prada e pronto.

QUESTÃO DE DIREÇÃO
Depois de meses em elaboração, o abaixo-assinado de artistas plásticos, galeristas, entre outros, que pedem mudanças na direção do MuBE, será entregue hoje à prefeitura. O documento será acompanhado de um dossiê com eventos particulares realizados no museu e as razões pelas quais os 2.200 nomes (como Lisette Lagnado, Regina Silveira e Agnaldo Farias) pedem que o MuBE, que chegou a ser apelidado de "Museu Brasileiro de Eventos", seja dirigido pela prefeitura.

IDÉIA INICIAL
Se assumir o museu, a Secretaria Municipal de Cultura tem dois planos: o primeiro -e mais forte- é retomar a idéia inicial do espaço, de exposição e acervo de esculturas; o segundo prevê o uso do local para sediar a Pinacoteca Municipal.

ARGUMENTO
O governador da Bahia, Jaques Wagner, disse à coluna não acreditar que a tragédia do estádio Fonte Nova e a sua provável demolição afetará a candidatura de Salvador para ser uma das sedes da Copa 2014. "Na Inglaterra, já demoliram um estádio tradicional [Wembley] e construíram um novo, em condições de abrigar uma Copa. Poderemos usar o mesmo argumento."

NO CAMPO ERRADO
A tragédia da Fonte Nova passou bem perto do ministro Orlando Silva, do Esporte. A irmã dele, Ilka de Jesus, estava no estádio quando houve a queda da arquibancada.

LEVA EU
Os jogadores que vencerem o prêmio Craque Brasileirão, da CBF, terão de subir ao palco do Teatro Municipal do Rio com Zeca Pagodinho. Cada um será escalado para tocar um instrumento de percussão na música "Deixa a Vida me Levar".

BÍBLIA, MILLÔR E JUROS
A Promotoria do Consumidor de SP abriu inquérito civil para apurar quais bancos e financeiras cobram juros abusivos em empréstimos para pessoa física. O órgão pediu ao BC informações sobre quais instituições praticaram, nos últimos cinco anos, taxas no mínimo 30% acima da média do mercado. Na portaria que instaura o inquérito, os promotores transcrevem uma passagem bíblica proibindo a cobrança de juros e citam uma frase de Millôr Fernandes: "Além de ir pro inferno só tenho medo de uma coisa: juros bancários".

CONCURSOS
Enquanto Kaká, do Milan, está na disputa para ser eleito o melhor jogador do mundo pela revista "France Football", sua mulher Caroline Celico conquistou um primeiro lugar: foi considerada a mulher de jogador mais bonita da Europa por leitores do jornal "La Gazzetta dello Sport", um dos diários esportivos mais importantes do continente.

DOR DE DENTE
A inauguração de uma luxuosa clínica odontológica na Vila Nova Conceição incomodou os moradores do bairro. A associação local alega que os 1.000 m2 da clínica são incompatíveis com a zona estritamente residencial do endereço. O proprietário Marcelo Kyrillos contesta: "Consultei a prefeitura e estamos corretos porque prestamos serviços e não vendemos produtos". Segundo a associação, o local poderia ter, no máximo, 250 m2. O caso está em análise na prefeitura.

IMORTAIS NA PRAIA
Seis membros da Academia Brasileira de Letras vão a Fernando de Noronha, na primeira semana de dezembro. Querem entregar uma doação de 500 livros à escola do arquipélago.

CURTO-CIRCUITO

O ESTILISTA Jum Nakao vai puxar uma carroça hoje, durante a abertura de uma exposição coletiva de artes em Brasília.
O CHEF FRANCÊS Bruno Oger, do Hotel Majestic, visita hoje o restaurante Cantaloup para degustar menu de frutos do mar.
"VIDA PROFISSIONAL" é o tema do debate de hoje, no Porão das Artes, mediado por Soninha Francine, com Betania Tanure.
O JOALHEIRO Mario Pantalena lança hoje nova linha de jóias com festa na suíte do Hotel Fasano ao som da DJ Julia Petit.
SAPATOS E BOLSAS desenhados por Clarissa Schneider serão lançados hoje, na loja Firma Casa, no Jardim Europa.


com AUDREY FURLANETO, DIÓGENES CAMPANHA e DÉBORA BERGAMASCO

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