São Paulo, sexta-feira, 27 de novembro de 2009

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CINEMA/ESTREIAS

Crítica/"Tokyo!"

Filme sobre capital japonesa rejeita visão de cartão-postal

Em três episódios, cineastas estrangeiros retratam melancolia e solidão de Tóquio

ANDRÉ BARCINSKI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Em "Tokyo!", três diretores estrangeiros dão versões particulares sobre a metrópole japonesa. São eles os franceses Michel Gondry ("Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças") e Leos Carax ("Mauvais Sang") e o sul-coreano Bong Joon-Ho ("O Hospedeiro"). Cada cineasta foi convidado a dirigir um episódio sobre Tóquio.
Os três curtas, embora desiguais, trazem visões parecidas. A Tóquio de Gondry, Carax e Bong é uma cidade melancólica e cinza, muito longe da visão de cartão-postal que costuma aparecer em tributos cinematográficos desse tipo.
"Tokyo!" abre com "Interior Design", de Michel Gondry, em que um jovem casal chega à casa de uma amiga que aceita hospedá-los até que consigam emprego e moradia. O rapaz é cineasta e dirigiu um pretensioso filme caseiro. A menina não parece ter maiores ambições. O périplo do casal em busca de residência os leva a lugares repulsivos de Tóquio: em um apartamento, encontram um gato morto; em outro, baratas.
O próprio apartamento da amiga é um cubículo em que os três passam os dias amontoados. A frustração da menina é tamanha que ela sofre uma mutação kafkiana. Como o próprio Gondry diz no material de divulgação do filme, o episódio tem ecos da claustrofobia e do terror psicológico de "Repulsa ao Sexo" e "O Inquilino", de Roman Polanski. Gondry tem um talento especial para criar imagens impactantes, mas seu surrealismo de videoclipe dá sinais de desgaste.
O melhor episódio é "Merde", de Leos Carax, que não filmava havia dez anos. O curta é uma paródia dos filmes de monstros japoneses (Godzilla, Gamera, Mothra), em que um bizarro mendigo, de terno verde, olho de vidro e barbicha estilo Fu Manchu, anda por Tóquio aterrorizando pedestres. Batizado pela mídia de "a criatura do esgoto", o mendigo só consegue se comunicar com uma pessoa, um estranhíssimo advogado francês, mistura de Doutor Caligari e Zé do Caixão.
A sequência do julgamento da criatura em um tribunal japonês é uma pequena joia e mostra que Carax fez muita falta nessa última década. O longa termina com "Shaking Tokyo", de Bong Joon-Ho, o mais pessimista dos três episódios. Nele, um "hikikomori", homem que vive isolado em casa por mais de dez anos sem contato com o exterior, tem seu dia a dia sacudido quando um terremoto força um encontro com uma entregadora de pizza.
O filme é um pequeno tratado sobre a solidão e o distanciamento emocional na metrópole e tem cenas lindas de uma Tóquio totalmente vazia. "Tokyo!" traz visões singulares de três cineastas talentosos. Faria uma ótima sessão dupla com "Encontros e Desencontros", de Sofia Coppola, outro filme melancólico e interessante passado na capital japonesa.


TOKYO!

Direção: Bong Joon Ho, Michel Gondry e Leos Carax
Produção: França/Japão/Coreia/Alemanha, 2008
Com: Ayako Fujitani e Ryo Kase
Onde: HSBC Belas Artes
Classificação: 12 anos
Avaliação: bom




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