|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CINEMA/ESTREIAS
Crítica/"Tokyo!"
Filme sobre capital japonesa rejeita visão de cartão-postal
Em três episódios, cineastas estrangeiros retratam melancolia e solidão de Tóquio
ANDRÉ BARCINSKI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Em "Tokyo!", três diretores estrangeiros dão
versões particulares sobre a metrópole japonesa. São
eles os franceses Michel
Gondry ("Brilho Eterno de
uma Mente sem Lembranças")
e Leos Carax ("Mauvais Sang")
e o sul-coreano Bong Joon-Ho
("O Hospedeiro"). Cada cineasta foi convidado a dirigir um
episódio sobre Tóquio.
Os três curtas, embora desiguais, trazem visões parecidas.
A Tóquio de Gondry, Carax e
Bong é uma cidade melancólica
e cinza, muito longe da visão de
cartão-postal que costuma aparecer em tributos cinematográficos desse tipo.
"Tokyo!" abre com "Interior
Design", de Michel Gondry, em
que um jovem casal chega à casa de uma amiga que aceita hospedá-los até que consigam emprego e moradia. O rapaz é cineasta e dirigiu um pretensioso
filme caseiro. A menina não parece ter maiores ambições.
O périplo do casal em busca
de residência os leva a lugares
repulsivos de Tóquio: em um
apartamento, encontram um
gato morto; em outro, baratas.
O próprio apartamento da amiga é um cubículo em que os três
passam os dias amontoados.
A frustração da menina é tamanha que ela sofre uma mutação kafkiana. Como o próprio
Gondry diz no material de divulgação do filme, o episódio
tem ecos da claustrofobia e do
terror psicológico de "Repulsa
ao Sexo" e "O Inquilino", de Roman Polanski. Gondry tem um
talento especial para criar imagens impactantes, mas seu surrealismo de videoclipe dá sinais
de desgaste.
O melhor episódio é "Merde", de Leos Carax, que não filmava havia dez anos. O curta é
uma paródia dos filmes de
monstros japoneses (Godzilla,
Gamera, Mothra), em que um
bizarro mendigo, de terno verde, olho de vidro e barbicha estilo Fu Manchu, anda por Tóquio aterrorizando pedestres.
Batizado pela mídia de "a
criatura do esgoto", o mendigo
só consegue se comunicar com
uma pessoa, um estranhíssimo
advogado francês, mistura de
Doutor Caligari e Zé do Caixão.
A sequência do julgamento da
criatura em um tribunal japonês é uma pequena joia e mostra que Carax fez muita falta
nessa última década.
O longa termina com "Shaking Tokyo", de Bong Joon-Ho,
o mais pessimista dos três episódios. Nele, um "hikikomori",
homem que vive isolado em casa por mais de dez anos sem
contato com o exterior, tem seu
dia a dia sacudido quando um
terremoto força um encontro
com uma entregadora de pizza.
O filme é um pequeno tratado sobre a solidão e o distanciamento emocional na metrópole e tem cenas lindas de uma
Tóquio totalmente vazia.
"Tokyo!" traz visões singulares de três cineastas talentosos.
Faria uma ótima sessão dupla
com "Encontros e Desencontros", de Sofia Coppola, outro
filme melancólico e interessante passado na capital japonesa.
TOKYO!
Direção: Bong Joon Ho, Michel Gondry
e Leos Carax
Produção: França/Japão/Coreia/Alemanha, 2008
Com: Ayako Fujitani e Ryo Kase
Onde: HSBC Belas Artes
Classificação: 12 anos
Avaliação: bom
Texto Anterior: Cinema 2: Ópera "Aida", de Verdi estreia hoje Próximo Texto: Crítica/"Cidadão Boilesen": Documentário investiga empresário que angariou fundos para ditadura Índice
|