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OUTRAS ESTRÉIAS
"A Vida de Jesus' é enfático ao abordar racismo na França
BERNARDO CARVALHO
especial para a Folha
No último domingo, o "The New
York Times" publicou um longo
artigo sobre o que o autor chamava, embora reconhecendo a estratégia de marketing por trás da fórmula, de "nova nouvelle vague".
"A Vida de Jesus", de Bruno Dumont, que estréia hoje depois de
ter recebido o prêmio do júri na
Mostra de Cinema de 97, era um
dos principais destaques.
O artigo definia duas escolas entre a nova geração de cineastas
franceses. A primeira, ligada à tradição da "Cahiers du Cinéma", e
herdeira de cineastas como André
Téchiné e Maurice Pialat, trataria
dos dilemas de jovens intelectuais
de classe média. Arnaud Desplechin ("A Sentinela") seria o principal representante dessa vertente.
A segunda, em que o artigo incluía diretores como Mathieu Kassovitz ("O Ódio") e o próprio Dumont, manifestaria uma recusa a
se filiar mais diretamente à tradição mais intelectual do cinema
francês, abordando ao mesmo
tempo uma juventude mais proletária e socialmente violenta.
O artigo do "The New York Times" importa menos por sua análise sociológica do que por revelar
o que um olhar estrangeiro vê nessa nova produção. "A Vida de Jesus" é um filme de grande apelo
para quem vê a França de fora, por
trabalhar no limite do esquemático, do que um estrangeiro pode reconhecer de imediato como "o
problema racial francês".
Ao contrário da tradição de Pialat e Téchiné, em que o roteiro deve
desaparecer dentro das imagens, o
filme de Dumont faz questão de levar o espectador a ver desde o início uma estrutura dramática prévia, a idéia por trás das imagens. E
faz disso a sua força. O filme funciona como a ilustração de uma situação social: como e por que um
rapaz desajustado numa cidade do
interior é levado a matar um jovem
de origem árabe.
Ao fazer de "A Vida de Jesus"
uma ilustração do racismo na
França, Dumont apela para uma
simbologia mais simples e fácil
(um passarinho na gaiola, iludido
pelo canto de outro passarinho
num gravador, por exemplo), mas
que dá ao filme um aspecto direto,
talvez menos sofisticado e inteligente que a abordagem que outros,
como Téchiné e Pialat, poderiam
fazer do racismo, mas certamente
mais enfático e, por isso mesmo,
imediatamente acessível.
²
Filme: A Vida de Jesus
Produção: França, 1997
Direção: Bruno Dumont
Com: David Douche, Marjorie Cottreel
Quando: a partir de hoje, no Espaço
Unibanco 3
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