São Paulo, sexta, 27 de novembro de 1998

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Caetano Veloso mostra suas prendas a preços populares no Sesc

CARLOS CALADO
especial para a Folha

Com seu novo disco "Prenda Minha" recém-chegado às lojas, Caetano Veloso desembarca em São Paulo para quatro apresentações do show "Livro Vivo", em palcos do Sesc, a partir de hoje. Os ingressos são populares: os preços atingem irrisórios R$ 0,50, no show do Sesc Itaquera.
"Livro Vivo" retorna à capital paulista (a primeira temporada aconteceu no Palace, no início do ano), depois de ser exibido em cidades da América Latina, da Europa e de vários cantos do país.
Mesmo para os paulistas que já o assistiram, há novidades. Uma delas é a versão de "Esse Cara", canção de Caetano interpretada por Maria Bethânia, na década de 70, que foi incluída no roteiro de "Livro Vivo" durante a temporada carioca, no Metropolitan (onde foi gravado "Prenda Minha").
O belo arranjo instrumental do maestro Jaques Morelenbaum, que combina metais e cordas, remete ao "cool jazz" dos anos 50 -mais especificamente ao padrão sonoro das hoje clássicas gravações do trompetista norte-americano Miles Davis (1926-1991) com o arranjador canadense Gil Evans (1929-1980).
Essa referência musical (que aponta também para as origens da bossa nova) norteou a concepção do CD "Livro", lançado por Caetano no ano passado. Nele, o compositor fundiu dois elementos aparentemente heterodoxos: a vibração da percussão baiana com as sonoridades suaves do "cool jazz".
Se, no disco "Livro", essa inusitada combinação musical ainda causava certas doses de estranhamento, no espetáculo "Livro Vivo", a síntese já soa bastante natural. À luz do palco, com os instrumentos de percussão, cordas e sopros visíveis, lado a lado, essa fusão torna-se quase didática.
Como Caetano não costuma incluir nenhuma canção no repertório de seus trabalhos sem um motivo intrínseco, quem quiser entender o porquê do título de seu novo CD "ao vivo" também terá que se remeter ao "cool jazz" de Miles Davis e Gil Evans.
Revisitando "Prenda Minha", uma tradicional canção gaúcha de domínio público, Caetano pretende corrigir, de forma poética, um deslize dos dois jazzistas. Ao gravá-la, no álbum "Quiet Nights" (em 1962), eles foram creditados como autores dessa canção.
"É como se eu estivesse tentando dar a bela versão de Miles Davis e Gil Evans de volta aos gaúchos", explica o intérprete baiano.
Num repertório que mistura canções recentes ("Não Enche", "Livros", "Manhatã") com novas versões de "Carolina" (Chico Buarque), "Drão" (Gilberto Gil) e "Linha do Equador" (parceria com Djavan), talvez o ponto mais alto de "Livro Vivo" esteja no perturbador arranjo de "Terra". Só por essa gravação, o CD "Prenda Minha" já se justificaria.
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Show: Livro Vivo Artista: Caetano Veloso Onde: Sesc Vila Mariana (r. Pelotas, 141, Vila Mariana, tel. 5080-3147) Quando: hoje e amanhã, às 21h (ingressos já esgotados); terça, às 21h (sessão extra) Quanto: de R$ 10 (comerciários) a R$ 30

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Onde: Sesc Itaquera (av. Projetada, 1.000, Itaquera, tel. 6499-7272) Quando: domingo, às 15h Quanto: R$ 0,50 (comerciários) e R$ 2,50




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