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Caetano Veloso mostra suas prendas a preços populares no Sesc
CARLOS CALADO
especial para a Folha
Com seu novo disco "Prenda Minha" recém-chegado às lojas, Caetano Veloso desembarca em São
Paulo para quatro apresentações
do show "Livro Vivo", em palcos
do Sesc, a partir de hoje. Os ingressos são populares: os preços atingem irrisórios R$ 0,50, no show do
Sesc Itaquera.
"Livro Vivo" retorna à capital
paulista (a primeira temporada
aconteceu no Palace, no início do
ano), depois de ser exibido em cidades da América Latina, da Europa e de vários cantos do país.
Mesmo para os paulistas que já o
assistiram, há novidades. Uma delas é a versão de "Esse Cara", canção de Caetano interpretada por
Maria Bethânia, na década de 70,
que foi incluída no roteiro de "Livro Vivo" durante a temporada carioca, no Metropolitan (onde foi
gravado "Prenda Minha").
O belo arranjo instrumental do
maestro Jaques Morelenbaum,
que combina metais e cordas, remete ao "cool jazz" dos anos 50
-mais especificamente ao padrão
sonoro das hoje clássicas gravações do trompetista norte-americano Miles Davis (1926-1991) com
o arranjador canadense Gil Evans
(1929-1980).
Essa referência musical (que
aponta também para as origens da
bossa nova) norteou a concepção
do CD "Livro", lançado por Caetano no ano passado. Nele, o compositor fundiu dois elementos aparentemente heterodoxos: a vibração da percussão baiana com as sonoridades suaves do "cool jazz".
Se, no disco "Livro", essa inusitada combinação musical ainda causava certas doses de estranhamento, no espetáculo "Livro Vivo", a
síntese já soa bastante natural. À
luz do palco, com os instrumentos
de percussão, cordas e sopros visíveis, lado a lado, essa fusão torna-se quase didática.
Como Caetano não costuma incluir nenhuma canção no repertório de seus trabalhos sem um motivo intrínseco, quem quiser entender o porquê do título de seu novo
CD "ao vivo" também terá que se
remeter ao "cool jazz" de Miles Davis e Gil Evans.
Revisitando "Prenda Minha",
uma tradicional canção gaúcha de
domínio público, Caetano pretende corrigir, de forma poética, um
deslize dos dois jazzistas. Ao gravá-la, no álbum "Quiet Nights"
(em 1962), eles foram creditados
como autores dessa canção.
"É como se eu estivesse tentando
dar a bela versão de Miles Davis e
Gil Evans de volta aos gaúchos",
explica o intérprete baiano.
Num repertório que mistura
canções recentes ("Não Enche",
"Livros", "Manhatã") com novas
versões de "Carolina" (Chico
Buarque), "Drão" (Gilberto Gil) e
"Linha do Equador" (parceria com
Djavan), talvez o ponto mais alto
de "Livro Vivo" esteja no perturbador arranjo de "Terra". Só por
essa gravação, o CD "Prenda Minha" já se justificaria.
²
Show: Livro Vivo
Artista: Caetano Veloso
Onde: Sesc Vila Mariana (r. Pelotas, 141, Vila
Mariana, tel. 5080-3147)
Quando: hoje e amanhã, às 21h (ingressos
já esgotados); terça, às 21h (sessão extra)
Quanto: de R$ 10 (comerciários) a R$ 30
²
Onde: Sesc Itaquera (av. Projetada, 1.000,
Itaquera, tel. 6499-7272)
Quando: domingo, às 15h
Quanto: R$ 0,50 (comerciários) e R$ 2,50
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