São Paulo, sexta, 27 de novembro de 1998

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"Não há como não dar certo', diz maestro

da Reportagem Local

Para o regente Jamil Maluf, ópera é "um espetáculo multimídia", e nada impede que "La Bohème", encenada agora no Municipal, cumpra o objetivo de atrair o público mais jovem. (JBN)


Folha - Qual a diferença entre uma "La Bohème" no Alfa Real e a mesma ópera no Municipal?
Jamil Maluf -
A música erudita se popularizou bastante com as gravações. Mas ocorreu um inconveniente: as pessoas passaram a acreditar que a música independe do local onde ela é produzida. O Alfa Real tem uma acústica sofisticada, suave, doce. E o Municipal tem um som mais aberto.
Folha - A orquestra aumentou?
Maluf -
Serão só dois músicos a mais. Eu não quis abandonar a concepção básica do espetáculo, que foi a do "intimismo". Um Puccini com eloquência fora de controle pode cair nos "tutti" (todos os instrumentos tocando ao mesmo tempo) wagnerianos.
Folha - Prevalece no segundo ato o comedimento que a orquestra demonstra no primeiro?
Maluf -
Sigo as indicações de Puccini, que não deve ser lido apenas do ponto de vista musical. É preciso distinguir dentro de um ato a alegria de um Schaunard e o lirismo do encontro entre Mimi e Rodolfo (todos personagens da ópera). A visão sinfonista e pesada que apliquei há um ano na montagem da "Tosca" foi mudada radicalmente com "La Bohème".
Folha - Será agora uma outra encenação da mesma temporada?
Maluf -
Sim. É uma temporada mais longa, coisa inédita aqui em São Paulo, porque não se tinha dois teatros em que a mesma ópera poderia ser montada. Com isso, os cantores nacionais têm trabalho por um período maior, e os custos da produção também baixam.
Folha - Havia na primeira montagem de "La Bohème" a vontade de atrair o público juvenil.
Maluf -
Há escolas que agora reservaram cem lugares, outras 150 lugares. Elas vão trazer um público que talvez considere que canto lírico é só coisa dos Três Tenores em época de Copa do Mundo. Tenho uma enorme curiosidade de saber qual será a reação deles. É viável trazê-la para os tempos contemporâneos. A ópera é um espetáculo multimídia. Não há como não dar certo.



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