São Paulo, quarta-feira, 27 de dezembro de 2000

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LITERATURA

Segundo especialista, em 2000 houve pelo menos 50% a mais de lançamentos ou reedições do que em 99

Rio busca sua história em boom de livros

CRISTIAN KLEIN
DA SUCURSAL DO RIO

O Rio de Janeiro está passando por um boom de lançamentos de livros que abordam sua história. Segundo o especialista Sérgio Fridman, nunca se publicou tanto sobre a cidade. Ele estima que este ano foram lançados ou reeditados pelo menos 50% a mais de livros do que no ano passado.
Fridman acredita que esse fenômeno só pode ser comparado à febre de 1965, ocorrida durante as comemorações do quarto centenário da cidade. "As editoras não estavam acreditando no lado comercial desse filão. Agora, elas acordaram", afirma o autor de três livros sobre o Rio.
Para o editor e livreiro Rui Campos, há uma proporção de dez livros lançados em 2000 para cada um publicado três anos atrás. "A gente sempre sentiu o potencial desse mercado", diz Campos, dono da Livraria da Travessa.
O editor Alberto Schprejer, dono da Relume Dumará, acredita que a explosão de lançamentos tem a ver com a recuperação da auto-estima do carioca.
"O Rio demorou 35 anos para superar o trauma de deixar de ser a capital do país, de ser o centro político e econômico do Brasil", afirma Schprejer.
Nos últimos quatro anos, a Relume Dumará publicou 57 livros em suas três coleções: "Perfis do Rio", "Cantos do Rio" e "Arenas do Rio". O projeto é uma parceria com o instituto RioArte, da prefeitura, e vendeu cerca de 200 mil exemplares.
"Esse filão corresponde a 10% de nosso faturamento. Mas dá muita visibilidade para a editora. Recebemos resenhas feitas por jornais e revistas de norte a sul do Brasil", diz Schprejer, que afirma ser frequentemente procurado por editores que querem levar a idéia para outras cidades.
O presidente da RioArte, Oduvaldo Braga, diz que se trata de um nicho que estava sendo subaproveitado. "Os livros sobre o Rio geralmente eram feitos por empresas que os davam de presente a clientes. Nossas coleções entraram no mercado para concorrer", afirma.
Andrea Jakobsson, gerente de projetos especiais da editora Sextante, acredita que o fenômeno tem a ver com a revitalização urbanística da cidade.
"Os cariocas querem conhecer seu passado e a importância de uma época em que a cidade era a capital do Império e da República", afirma Jakobsson. A gerente afirma que as publicações sobre o Rio respondem por 30% dos negócios da editora.
O mercado consumidor desses livros, sobretudo no centro da cidade, é formado por "altos funcionários", como aponta Graça Neiva, dona da rede de livrarias Dazibao. "A maior parte é de juristas, advogados e de pessoas que trabalham na Bolsa de Valores."
O economista Carlos Lessa, autor do recém-lançado "O Rio de Todos os Brasis", afirma que o boom de livros tem a ver com uma espécie de reação dos cariocas diante do sentimento geral de que a cidade estava decadente no começo da década.
"Os cariocas ficaram agredidos com esse discurso. Era um coro trágico, parecia que a cidade estava às vésperas de ser fechada. A resposta apareceu, houve a necessidade de recolocar o Rio no mapa", diz.
Lessa aponta como reflexo a criação do movimento Viva Rio e a eleição de dois prefeitos, Cesar Maia e Luiz Paulo Conde, que priorizaram as obras de urbanismo em programas como o Rio Cidade e o Favela Bairro.
O economista afirma que o Rio sempre foi aplaudido "de graça", sem esforço, pelo resto do Brasil. Mas precisou acordar e construir uma solução sozinho.


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