São Paulo, quarta-feira, 27 de dezembro de 2000

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Renúncia fiscal estimula lançamentos

DA SUCURSAL DO RIO
A avalanche de publicações sobre o Rio está relacionada a pelo menos dois fatores, de acordo com especialistas. De um lado, uma lei municipal que permite o patrocínio de empresas a projetos culturais em troca de uma renúncia de até 20% do ISS (Imposto Sobre Serviços).
Do outro, há uma grande quantidade de informações sobre a cidade, bastante documentada ao longo de sua história.
O pesquisador Jean Marcel Carvalho França destaca a enorme quantidade de dados históricos disponíveis sobre o Rio de Janeiro. "Ela é infinitamente maior que a de São Paulo. Os paulistas sempre foram fechados. O acesso à cidade era dificílimo e os paulistas nunca foram simpáticos aos portugueses. Tanto que, até 1828, há registros de que a língua oficial em São Paulo era o tupi-guarani", diz o pesquisador.
Na opinião de Carvalho França, esse argumento, o da falta de informações, só cabe para a cidade de São Paulo.
"Isso não se justifica para a carência de publicações relativas a Olinda, Recife e ao Estado de Santa Catarina, lugares sobre os quais há muitos dados e iconografia", afirma o pesquisador, autor do livro "Outras Visões do Rio de Janeiro Colonial (1582-1808)", publicado pela editora José Olympio.
Para a gerente de projetos especiais da editora Sextante, Andrea Jakobsson, o setor vem sendo aquecido por meio de incentivo fiscal. "A lei do Imposto Sobre Serviços privilegia as publicações sobre o Rio", diz a gerente. Andrea se refere à lei 1.940, que possibilita o desconto de até 20% do ISS de empresas que queiram patrocinar projetos culturais.
Ao lado da explosão de títulos sobre o Rio, há uma demanda reprimida por livros de outras cidades.
É o que identifica o livreiro Rui Campos. "É frequente recebermos clientes que procuram livros sobre as cidades de Salvador, Recife e Ouro Preto, mas essas publicações não existem no mercado", afirma.
A editora Luciana Villas-Boas, da Record, no entanto, acredita que o Rio de Janeiro leva desvantagem em pelo menos um ponto: o da produção teórica.
"São Paulo é uma cidade muito mais explicada. Tem estudos aprofundados, por exemplo, sobre a formação de seu empresariado e de sua classe operária. O Rio de Janeiro tem uma literatura mais impressionista, de muitas crônicas. É menos analítica do que a de São Paulo", diz Luciana Villas-Boas, que lançou este ano a coleção "Metrópoles" com livros sobre Porto Alegre (Moacyr Scliar) e o Rio de Janeiro (Carlos Lessa).
As próximas cidades abordadas serão Brasília (Ronaldo Costa Couto), São Paulo (Luiz Gonzaga Beluzzo), Belo Horizonte (Humberto Werneck) e Salvador (Milton Santos).
(CK)


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