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CINEMA
Filme do francês Claude Miller, que estréia hoje, é, a um só tempo, trama de suspense e drama psicológico
"Betty Fisher" trata de mães e filhos
FRANCESCA ANGIOLILLO
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Uma mãe que, sofrendo de
transtornos de comportamento
causados por uma grave doença
sanguínea, mantém um difícil relacionamento com a filha. Filha
que, por sua vez, se torna uma escritora de sucesso e, também, mãe
-a Betty Fisher do título. Por
fim, uma terceira mãe que, rodeada de dificuldades sociais, maltrata o filho.
No cruzamento dessas três experiências de maternidade se articula "Betty Fisher", filme do francês Claude Miller que chega hoje
aos cinemas de São Paulo.
Betty Fisher (Sandrine Kiberlain) acaba de se mudar para a
França levando consigo o filho,
Joseph. Mal se instala, porém, e
uma tragédia, que não cabe aqui
detalhar, sobrevém.
Numa tentativa desajeitada de
reparar o acontecido e, de quebra,
tentar consertar erros cometidos
com relação à filha no passado,
Margot (Nicole Garcia) nos leva à
terceira mãe da história, Carole
Novacki (Mathilde Seigner) e a
seu filho, José.
"Todos os problemas de moral
dos seres humanos se formam
por seu próprio viver. Alguém diz
que é preciso amar os pais, ou os
filhos, mas são tabus sociais. Há
algo genético, da carne, no amor
materno. Mas isso, como sabemos, não impede uma mãe de
maltratar seu filho", diz Claude
Miller, 60, em entrevista à Folha.
A trama vem do livro "The Tree
of Hands", que deu à inglesa Ruth
Rendell uma Silver Dagger (Adaga de Prata), prêmio dedicado à literatura policial, em 1985. No entanto a história do filme ultrapassa o mero suspense, dando a
oportunidade ao espectador de
compreendê-lo como um drama
psicológico.
Esse aprofundamento dos enredos para além da intriga policial
talvez explique o interesse que
Rendell desperta nos cineastas:
textos seus já inspiraram mais de
50 produções, em tela pequena e
grande, com destaque para "Carne Trêmula", de Pedro Almodóvar (1997, a partir de "Live
Flesh"), e "Mulheres Diabólicas",
de Claude Chabrol (1995, baseado
em "A Judgment in Stone").
Foi por causa do filme de seu
conterrâneo Chabrol, aliás, que
Miller buscou conhecer a literatura de Rendell, como explica.
"Gostei muito do filme e quis
conhecer livros dessa autora. Deparei com este e pensei que renderia em cinema. Fiquei muito cativado pela leitura, mas, sinceramente, no momento em que lia,
não sabia por que."
"Acho que fiz o filme para saber
o por quê", conclui. A resposta
que encontrou, de certo modo,
confirma o condão de Rendell:
"Agora acho que sei a razão: é
uma dessas histórias que falam de
como as crianças administram os
adultos, a família que lhes é dada
sem escolher. Foi isso que me tocou: o fato de essa história se basear em algo muito humano."
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