São Paulo, sexta-feira, 27 de dezembro de 2002

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CINEMA

Filme do francês Claude Miller, que estréia hoje, é, a um só tempo, trama de suspense e drama psicológico

"Betty Fisher" trata de mães e filhos

FRANCESCA ANGIOLILLO
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Uma mãe que, sofrendo de transtornos de comportamento causados por uma grave doença sanguínea, mantém um difícil relacionamento com a filha. Filha que, por sua vez, se torna uma escritora de sucesso e, também, mãe -a Betty Fisher do título. Por fim, uma terceira mãe que, rodeada de dificuldades sociais, maltrata o filho.
No cruzamento dessas três experiências de maternidade se articula "Betty Fisher", filme do francês Claude Miller que chega hoje aos cinemas de São Paulo.
Betty Fisher (Sandrine Kiberlain) acaba de se mudar para a França levando consigo o filho, Joseph. Mal se instala, porém, e uma tragédia, que não cabe aqui detalhar, sobrevém.
Numa tentativa desajeitada de reparar o acontecido e, de quebra, tentar consertar erros cometidos com relação à filha no passado, Margot (Nicole Garcia) nos leva à terceira mãe da história, Carole Novacki (Mathilde Seigner) e a seu filho, José.
"Todos os problemas de moral dos seres humanos se formam por seu próprio viver. Alguém diz que é preciso amar os pais, ou os filhos, mas são tabus sociais. Há algo genético, da carne, no amor materno. Mas isso, como sabemos, não impede uma mãe de maltratar seu filho", diz Claude Miller, 60, em entrevista à Folha.
A trama vem do livro "The Tree of Hands", que deu à inglesa Ruth Rendell uma Silver Dagger (Adaga de Prata), prêmio dedicado à literatura policial, em 1985. No entanto a história do filme ultrapassa o mero suspense, dando a oportunidade ao espectador de compreendê-lo como um drama psicológico.
Esse aprofundamento dos enredos para além da intriga policial talvez explique o interesse que Rendell desperta nos cineastas: textos seus já inspiraram mais de 50 produções, em tela pequena e grande, com destaque para "Carne Trêmula", de Pedro Almodóvar (1997, a partir de "Live Flesh"), e "Mulheres Diabólicas", de Claude Chabrol (1995, baseado em "A Judgment in Stone").
Foi por causa do filme de seu conterrâneo Chabrol, aliás, que Miller buscou conhecer a literatura de Rendell, como explica.
"Gostei muito do filme e quis conhecer livros dessa autora. Deparei com este e pensei que renderia em cinema. Fiquei muito cativado pela leitura, mas, sinceramente, no momento em que lia, não sabia por que."
"Acho que fiz o filme para saber o por quê", conclui. A resposta que encontrou, de certo modo, confirma o condão de Rendell: "Agora acho que sei a razão: é uma dessas histórias que falam de como as crianças administram os adultos, a família que lhes é dada sem escolher. Foi isso que me tocou: o fato de essa história se basear em algo muito humano."


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