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"BETTY FISHER E OUTRAS HISTÓRIAS"
Drama de Claude Miller perde para outras adaptações de Ruth Rendell
Filme procura manter complexidade literária
PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA
Praticamente ignorada pelo cinema americano, a literatura de Ruth Rendell rendeu dois grandes filmes europeus dos anos
90. "A Judgement in Stone" virou
"Mulheres Diabólicas" (1995), um
dos melhores filmes de Claude
Chabrol, e Pedro Almodóvar tomou "Live Flesh" como base de
"Carne Trêmula" (1997).
Comparada a esses dois filmes,
"Betty Fisher e Outras Histórias",
(transposição do romance de
Rendell "A Tree of Hands"), sai
perdendo. Talvez porque seu
adaptador e diretor, Claude Miller, não tenha uma assinatura tão
forte quanto as de seus colegas.
A versão de Claude Miller deixa
transparecer um grande esforço
para manter a complexidade do
romance. A começar pelo título,
que engana, dando a impressão
de que várias histórias independentes serão narradas.
Mas "Betty Fisher e Outras Histórias" narra uma história só.
Densa, mas uma só. Nessa história, pessoas de origens diferentes
se cruzam por obra do acaso. Conectando-as estão sempre crianças, vítimas de pais negligentes.
Antes dos créditos, uma mulher
ataca a própria filha com uma tesoura, dentro de um trem. Crescida, Brigitte tem seu próprio filho,
Joseph, e tornou-se escritora,
usando o pseudônimo de Betty
Fisher. Restou do incidente da infância uma cicatriz na mão. Betty
(Sandrine Kimberlain) e seu filho
vão buscar no aeroporto a mãe/avó (Nicole Garcia).
As coisas se modificam quando
se juntam a esse trio de personagens outros muito diferentes. O
mais importante deles é Carole
(Mathilde Seigner), ela mesma
uma mãe negligente.
Não é possível revelar mais sem
estragar a graça do filme, que é o
fluxo que conduz todos por uma
trama que vai relacioná-los.
Claude Miller (ex-assistente de
Truffaut que estreou na direção
com um roteiro inédito de seu
mestre, "Ladra e Sedutora") pode
não ter realizado uma adaptação
de Rendell tão boa quanto as de
Chabrol e a de Almodóvar, mas
fez uma descrição interessante da
França atual. O cenário é a Paris
dos subúrbios mais ricos e a Paris
dos desvalidos, uma Paris racista
e um tanto corrompida -bastante triste, enfim.
Betty Fisher e Outras Histórias
Betty Fisher et Autres Histoires
Direção: Claude Miller
Produção: França/Canadá, 2001
Com: Sandrine Kimberlain
Quando: a partir de hoje no Cineclube
DirecTV 2 e no Espaço Unibanco 2
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