São Paulo, sexta-feira, 27 de dezembro de 2002

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"BETTY FISHER E OUTRAS HISTÓRIAS"

Drama de Claude Miller perde para outras adaptações de Ruth Rendell

Filme procura manter complexidade literária

PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA

Praticamente ignorada pelo cinema americano, a literatura de Ruth Rendell rendeu dois grandes filmes europeus dos anos 90. "A Judgement in Stone" virou "Mulheres Diabólicas" (1995), um dos melhores filmes de Claude Chabrol, e Pedro Almodóvar tomou "Live Flesh" como base de "Carne Trêmula" (1997).
Comparada a esses dois filmes, "Betty Fisher e Outras Histórias", (transposição do romance de Rendell "A Tree of Hands"), sai perdendo. Talvez porque seu adaptador e diretor, Claude Miller, não tenha uma assinatura tão forte quanto as de seus colegas.
A versão de Claude Miller deixa transparecer um grande esforço para manter a complexidade do romance. A começar pelo título, que engana, dando a impressão de que várias histórias independentes serão narradas.
Mas "Betty Fisher e Outras Histórias" narra uma história só. Densa, mas uma só. Nessa história, pessoas de origens diferentes se cruzam por obra do acaso. Conectando-as estão sempre crianças, vítimas de pais negligentes.
Antes dos créditos, uma mulher ataca a própria filha com uma tesoura, dentro de um trem. Crescida, Brigitte tem seu próprio filho, Joseph, e tornou-se escritora, usando o pseudônimo de Betty Fisher. Restou do incidente da infância uma cicatriz na mão. Betty (Sandrine Kimberlain) e seu filho vão buscar no aeroporto a mãe/avó (Nicole Garcia).
As coisas se modificam quando se juntam a esse trio de personagens outros muito diferentes. O mais importante deles é Carole (Mathilde Seigner), ela mesma uma mãe negligente.
Não é possível revelar mais sem estragar a graça do filme, que é o fluxo que conduz todos por uma trama que vai relacioná-los.
Claude Miller (ex-assistente de Truffaut que estreou na direção com um roteiro inédito de seu mestre, "Ladra e Sedutora") pode não ter realizado uma adaptação de Rendell tão boa quanto as de Chabrol e a de Almodóvar, mas fez uma descrição interessante da França atual. O cenário é a Paris dos subúrbios mais ricos e a Paris dos desvalidos, uma Paris racista e um tanto corrompida -bastante triste, enfim.


Betty Fisher e Outras Histórias
Betty Fisher et Autres Histoires
  
Direção: Claude Miller Produção: França/Canadá, 2001 Com: Sandrine Kimberlain Quando: a partir de hoje no Cineclube DirecTV 2 e no Espaço Unibanco 2


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