São Paulo, sexta-feira, 27 de dezembro de 2002

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DVD/LANÇAMENTOS

Chegam ao formato três versões para romance do britânico

Tempo estraga a máquina da ficção de H.G. Wells

CÁSSIO STARLING CARLOS
EDITOR DO FOLHATEEN

Viajantes do tempo, apertem os cintos! Não é preciso nem mais sair da cadeira para refazer a aventura imaginada pelo britânico H.G. Wells (1866-1946) em sua obra de estréia, "A Máquina do Tempo", de 1895.
Com diferenças de cerca de 20 anos entre cada uma, três versões do maravilhoso romance de Wells já existem disponíveis em DVD no Brasil.
A primeira, dirigida por George Pal em 1960, é a mais saborosa (e fiel) a Wells. Na aventura, um cientista, na última noite do século 19, testa uma engenhoca por ele inventada, capaz de transportá-lo pela quarta dimensão, o tempo. A tradicional especulação prospectiva, marca da ficção-científica, conduz o aventureiro pelo futuro. Assim, George (Rod Taylor) vai verificar que suas expectativas utópicas deram n'água.
A versão de Pal conserva as preocupações sociais caras a Wells. Do mesmo autor, Pal já produzira a excelente adaptação de "A Guerra dos Mundos", em 1953. Aqui, ele atualiza suas previsões levando em conta as duas guerras mundiais e o período quente da Guerra Fria.
O mais importante é a transformação da utopia em distopia que o filme preserva da obra de Wells. Aqui, encontra-se a matriz de tantas e tantas ficções posteriores, de "Planeta dos Macacos" a "De Volta para o Futuro", de "O Exterminador do Futuro" a "Minority Report - A Nova Lei", sem esquecer a série "Túnel do Tempo".
A essa mesma linhagem pertence o segundo filme do pacote, "Um Século em 43 Minutos", dirigida por Nicholas Meyer em 1979. Não se trata de uma versão do clássico de Wells, mas de uma releitura a partir dos mesmos traços anedóticos. Nela, quem viaja no tempo é Wells, que vai parar na San Francisco do fim do século 20 em busca de um passageiro insólito: Jack, o Estripador.
Mistura de policial e romance, "Um Século em 43 Minutos" guarda uma interessante fidelidade a Wells quando propõe uma interpretação crítica do seu presente. O filme mostra Wells como um utopista, pregador do socialismo e do amor livre, que se vê obrigado a reavaliar seus ideais a partir da marcha do tempo. Numa das cenas mais eficazes, ele encontra Jack, o Estripador num quarto de hotel e esse lhe mostra as cenas corriqueiras de violência exibidas pela TV. Diante das imagens, Jack convence Wells de que ele agora vive em um habitat mais adequado, no qual a violência se transformou em epidemia.
Já o terceiro filme do pacote, de 2002, é do bisneto do escritor, Simon Wells, que parece não ter herdado nenhum fiapo do DNA do bisavô. O esquema da história é o mesmo, mas a aventura se contenta com a parafernália dos efeitos especiais. No pólo oposto ao de George Pal (que custou, à época, US$ 800 mil), onde a técnica servia à narrativa, nesta versão (que teve um orçamento de US$ 80 milhões) ela se satisfaz com o espetacular. A impressão é que sobraram milhões de dólares, mas faltou o essencial: talento.

A Máquina do Tempo
    
Produção: EUA, 1960
Direção: George Pal

Um Século em 43 Minutos
   
Produção: EUA, 1979
Direção: Nicholas Meyer

A Máquina do Tempo
 
Produção: EUA, 2002
Direção: Simon Wells


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