São Paulo, quarta-feira, 28 de janeiro de 2004

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ANÁLISE

"Da Cor do Pecado" evita inquietações

ESTHER HAMBURGER
ESPECIAL PARA A FOLHA

Bárbara, a personagem de Giovanna Antonelli em "Da Cor do Pecado", a nova novela das sete que a Rede Globo estreou anteontem, se parece com a Maria de Fátima, da velha "Vale Tudo", e muitas outras vilãs.
Por que a fórmula tem que ser repetida exaustivamente, com tão pouca variação? A vilã pobre que pretende subir na vida casando com o mocinho rico.
Ela mantém um caso de amor verdadeiro com um tipo meio gigolô que aceita o jogo sujo e é cúmplice das inúmeras armações contra a mocinha, também de origem humilde, mas honesta.
O Paco de Reynaldo Gianecchini promete mais um "beija-flor", para usar a expressão certeira com que Edson Celulari uma vez definiu os papéis masculinos em novelas, muitas vezes menos interessantes que os femininos.
Ele é o romântico botânico que procura viver de seu trabalho em defesa da preservação da flora, negando a fortuna e a empresa do pai Afonso -por sinal, um Lima Duarte no clássico papel de poderoso, conservador, autoritário e insensível.
Escrever novela não é fácil: combinar os diversos ingredientes da fórmula em doses certas; repetir o suficiente para que os espectadores reconheçam o gênero, mas não demais para que não se encham; manter um nível de atividade que segure o pique de capítulos diários e escrever um capítulo por dia -cerca de 30 páginas- durante cerca de seis meses.
"Da Cor do Pecado" é a primeira novela de João Emanuel Carneiro, roteirista que vem do cinema. O repertório do autor aparece nas paisagens escolhidas pelo protagonista; na disposição de enfrentar o tabu do preconceito racial levando a frente uma clássica paixão à primeira vista pela Preta maravilhosa de Taís Araújo; no chalé de madeira transado no meio da mata com energia solar e viveiros de plantas; no amor nas dunas desertas do Nordeste ensolarado e na negação sofisticada do dinheiro como projeto de vida.
Falta à novela ir mais fundo no que ela oferece de diferente. Um Paco de carne e osso não se deixaria enganar facilmente pela maquinação interesseira de mocinhas vulgares. Por que não embarcar nas inquietações diferenciadas desse personagem?


Esther Hamburger é antropóloga e professora da ECA-USP

Da Cor do Pecado
  
Quando: seg. a sab., às 19h15, na Globo


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