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ANÁLISE
"Da Cor do Pecado" evita inquietações
ESTHER HAMBURGER
ESPECIAL PARA A FOLHA
Bárbara, a personagem de
Giovanna Antonelli em "Da
Cor do Pecado", a nova novela
das sete que a Rede Globo estreou
anteontem, se parece com a Maria
de Fátima, da velha "Vale Tudo",
e muitas outras vilãs.
Por que a fórmula tem que ser
repetida exaustivamente, com tão
pouca variação? A vilã pobre que
pretende subir na vida casando
com o mocinho rico.
Ela mantém um caso de amor
verdadeiro com um tipo meio gigolô que aceita o jogo sujo e é
cúmplice das inúmeras armações
contra a mocinha, também de origem humilde, mas honesta.
O Paco de Reynaldo Gianecchini promete mais um "beija-flor",
para usar a expressão certeira
com que Edson Celulari uma vez
definiu os papéis masculinos em
novelas, muitas vezes menos interessantes que os femininos.
Ele é o romântico botânico que
procura viver de seu trabalho em
defesa da preservação da flora,
negando a fortuna e a empresa do
pai Afonso -por sinal, um Lima
Duarte no clássico papel de poderoso, conservador, autoritário e
insensível.
Escrever novela não é fácil:
combinar os diversos ingredientes da fórmula em doses certas;
repetir o suficiente para que os espectadores reconheçam o gênero,
mas não demais para que não se
encham; manter um nível de atividade que segure o pique de capítulos diários e escrever um capítulo por dia -cerca de 30 páginas- durante cerca de seis meses.
"Da Cor do Pecado" é a primeira novela de João Emanuel Carneiro, roteirista que vem do cinema. O repertório do autor aparece
nas paisagens escolhidas pelo
protagonista; na disposição de
enfrentar o tabu do preconceito
racial levando a frente uma clássica paixão à primeira vista pela
Preta maravilhosa de Taís Araújo;
no chalé de madeira transado no
meio da mata com energia solar e
viveiros de plantas; no amor nas
dunas desertas do Nordeste ensolarado e na negação sofisticada do
dinheiro como projeto de vida.
Falta à novela ir mais fundo no
que ela oferece de diferente. Um
Paco de carne e osso não se deixaria enganar facilmente pela maquinação interesseira de mocinhas vulgares. Por que não embarcar nas inquietações diferenciadas desse personagem?
Esther Hamburger é antropóloga e
professora da ECA-USP
Da Cor do Pecado
![](http://www.uol.com.br/fsp/images/ep.gif)
Quando: seg. a sab., às 19h15, na Globo
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