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HQ
Sem espaço no Brasil, quadrinistas encontram na França oportunidade de publicar seus trabalhos em grandes editoras
Artistas brasileiros levam suas histórias à terra de "Asterix"
DIEGO ASSIS
ENVIADO ESPECIAL A ANGOULÊME
Que artistas brasileiros já ilustram alguns dos principais super-heróis dos quadrinhos americanos já foi dito. Agora, que os nossos desenhistas atravessaram o Atlântico e aportaram nas terras
de "Tintim" e "Asterix" são outros quinhentos.
"Onde mais eu poderia desenhar uma história sobre um artista que descobre a perspectiva numa civilização clássica fictícia?!",
pergunta o paraense Miguel Lalor
Imbiriba, 33, que no ano passado
publicou seu primeiro álbum,
"Myrkos", pela gigante Dargaud,
casa de mestres do quadrinho europeu como Jean-Claude Forest,
Moebius e René Goscinny.
Morando em Paris desde 2002,
Miguel, como é conhecido por lá,
estreou na HQ européia publicando uma história sobre a Guerra
Civil Espanhola na revista portuguesa "Selecções BD". "A coisa
que mais me agrada no quadrinho europeu, mais especificamente no franco-belga, é que,
aqui, quadrinho não é algo descartável, mas objeto de coleção."
Pois foi justamente o hobby de
colecionador que fez com que Ricardo Manhaes resolvesse se tornar quadrinista. "Eu tinha oito
anos quando meus pais foram fazer doutorado em Grenoble, na
França, em 80. Um amigo deles
me deu de presente um livro do
"Tintim", capa dura. Adorei, a história era fantástica, totalmente diferente dos gibis publicados no
Brasil", lembra. "Agora tenho
mais de 130 livros, quase todos
comprados quando era criança."
Hoje com 32 anos, vivendo em
Florianópolis após tentativas
frustradas de se tornar publicitário e até estrela do rock, Manhaes
voltou às páginas das HQs francófanas como autor. Com um estilo
"bico de pena", especializou-se
em quadrinhos de humor e, além
de colaborar com a popular série
"Les Guides en BD" (editora
Vents d'Ouest), já criou histórias
para a revista suíça "Kodi".
O retorno ao Velho Mundo só
se deu graças às novas tecnologias. "Comecei a visitar sites de
editoras e mandar meus trabalhos. Fui escolhido como novo talento por um deles, então, começaram a aparecer os convites."
A trajetória do goiano Wander
Antunes, 38, que acaba de publicar com o paranaense José Aguiar
o primeiro de três volumes da série "Ernie Adams", pela Editions
Paquet, é semelhante.
"Reuni parte das HQs que tinha
escrito, criei uma página na internet e enviei e-mail para editoras
de todo o mundo. Um belo dia
abri meu correio e dei de cara com
uma proposta: "Você quer escrever histórias para a minha editora?" Foi assim", explica Wander,
um veterano dos quadrinhos brasileiros. "Não que eu tivesse um
projeto de publicar na França.
Aconteceu. Adoraria publicar no
Brasil, mas ninguém parece querer me publicar", reclama.
""Ernie" é a nossa primeira
chance de obter retorno financeiro criando quadrinhos. Graficamente foi um salto para uma realidade bem diferente da vivida pelos quadrinistas brasileiros -xerox, papel jornal, off-set...", completa o desenhista Aguiar, 29, que
também tenta deixar os trabalhos
em publicidade para se dedicar
integralmente às HQs. A transferência para a Europa também foi
a deixa para que o niteroiense
Marcello Quintanilha, 33, passasse a viver "só" de quadrinhos. Velho conhecido dos leitores no Brasil, onde assinava como Gaú e publicou as HQs "Dorso" e "Fealdade de Fabiano Gorila", o autor
deixou os bicos como publicitário
e animador em busca de um equilíbrio entre uma produção regular
e o quadrinho de autor. Mudou-se para Barcelona e, desde 2003,
publica, pela belga Le Lombard,
"Sept Balles pour Oxford", série
policial de sete volumes com roteiro do argentino Jorge Zentner.
"O que me interessava para um
trabalho em parceria era fazer
uma coisa diferente do meu trabalho de autor", afirma Quintanilha, cujas HQs nacionais lidam
com temas do imaginário brasileiro (futebol, samba, pobreza).
Não que isso não agrade os europeus. "O Brasil é um país simpático aos olhos dos franceses. Eu
incluo em "Myrkos" muitas coisas
do meu background de brasileiro.
Até receita de feijoada em tigela
marajoara eu já incluí", diverte-se
Miguel, desenhista de "Myrkos".
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