São Paulo, sábado, 28 de janeiro de 2006

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POLÍTICA CULTURAL

Diretor demissionário do MNBA, no Rio, diz que faltou ética a servidores do MinC por divulgação de projeto

Vazamento motiva saída de Herkenhoff

Ana Carolina Fernandes/Folha Imagem
Paulo Herkenhoff, em gabinete no Museu Nacional de Belas Artes


ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO

Com evidente desconforto, o diretor do Museu Nacional de Belas Artes, Paulo Herkenhoff, disse ontem que um dos motivos que o fizeram pedir demissão do cargo foi o vazamento para a imprensa de detalhes de um projeto do arquiteto Paulo Mendes da Rocha para reforma do museu. Segundo ele, faltou "ética ao corpo médio" do MinC (Ministério da Cultura), que usou a informação como "moeda de troca" para ganhar prestígio com jornalistas.
Ele não citou nomes, mas poupou o ministro Gilberto Gil, a quem elogiou afirmando que foi o ministro que mais se empenhou para resolver os problemas do museu. Também agradeceu ao secretário-executivo do MinC, Juca Ferreira. Herkenhoff alegou ainda razões de saúde -acabou de fazer uma operação de catarata- para deixar o cargo.
O diretor demissionário falou com empolgação do projeto de Mendes da Rocha, cuja proposta seria a de ampliar o espaço livre na entrada do museu, no centro do Rio. Hoje, o prédio é tomado por salas que diminuem o tamanho das galerias. Pelo projeto, que ainda está em fase de discussão, haveria um espaço mais amplo na entrada para o visitante.
"Isso ainda estava em fase de discussão. Estávamos esperando o momento certo para debater o projeto com todos. O modo como essa notícia vazou [para a imprensa] está entre as coisas que me fizeram pedir demissão. O corpo médio do MinC tem que ter mais ética. Não admito que se use informações do museu como moeda de prestígio. Não sou ingênuo e sei que a notícia é usada como moeda de troca de poder com jornalistas", disse Herkenhoff.
Apesar do evidente desconforto, ele foi só elogios ao ministro Gilberto Gil: "Acho que desde o fim da era Getúlio Vargas, ele foi o ministro que mais prestigiou o museu, que estava numa situação de precariedade. Quando relatei essa situação, ele imediatamente me chamou em seu gabinete para resolver o problema".

"Tenho boca e penso"
Herkenhoff justificou sua saída também afirmando que havia chegado ao seu limite. "Eu já cheguei ao limite do que eu posso dar e ao limite do que o museu poderia ser beneficiado com a minha presença. Este é o momento de sair porque é preciso se adaptar a novas diretrizes, e eu não tenho mais contribuição a dar como diretor. Continuarei a trabalhar pelo museu do lado de fora."
Ele disse deixar seu cargo finalizando um processo de ampliação do acervo do museu, que, segundo ele, era de 15 mil obras até 2002 e que caminha hoje para 18 mil. Além disso, afirma que está completando o processo de higienização do ambiente, fundamental para evitar o desgaste das obras de artes por causa de fungos.
Afirmou ainda estar recompensado pelo "abraço" público que recebeu de artistas e de Juca Ferreira, que está como ministro interino no momento, mas finalizou a entrevista com um recado: "Tenho boca e penso. Não quero que digam nada por mim".
A partir de segunda, a atual coordenadora técnica do MNBA, Mônica Xexéo, assume a direção da instituição. Herkenhoff é um dos principais críticos de arte brasileiros. Ex-curador adjunto do MoMA (Museum of Modern Art), em Nova York, assinou uma das curadorias brasileiras de maior respaldo crítico internacional, a da 24ª edição da Bienal de São Paulo (1998), conhecida como a "bienal da antropofagia".


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