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"Estamos reagindo aos anos 80 e 90", diz Rirkrit Tiravanija em SP
FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL
Quando estava para ser inaugurada a primeira retrospectiva de
Rirkrit Tiravanija, há pouco mais
de um ano, no Museu de Arte Moderna de Paris, o circuito local se
perguntava como poderia ser a
mostra de um artista que costuma
cozinhar para o público, remonta
seu apartamento em espaço expositivo e realiza ações em locais
diversos, muitas em parceria.
Não se estranha, portanto, o fato de que, ao entrar no museu, os
visitantes se deram conta de que a
própria retrospectiva era uma
performance: não havia nada para ver! Monitores convidavam os
visitantes a caminhar pelo espaço
vazio e lhes contavam como eram
as ações realizadas por Tiravanija,
em sua carreira. Aí, ele deixa clara
sua crítica à arte objetual.
"Cresci numa cultura budista,
para a qual os objetos materiais
não são importantes, o que se torna uma das principais questões
do meu trabalho", disse Tiravanija, anteontem, à Folha, no prédio
da Bienal de São Paulo. Hoje, ele é
um dos conferencistas no seminário "Marcel, 30", primeiro
evento da 27ª Bienal, que será
transmitido ao vivo pelo site
http://forumpermanente.incubadora.fapesp.br/portal.
Para o curador alemão Jochen
Volz, organizador do evento, a
presença de Tiravanija no seminário sobre Marcel Broodthaers
(1924-1976) se deve às similaridades nas propostas dos dois: "eles
compartilham de um conceito
ambivalente de público e privado,
de produção e recepção, um certo
uso de ironia e a busca por dissolver hierarquias institucionais".
Nascido na Argentina, mas vivendo a maior parte de sua vida
na Tailândia, Tiravanija, aos 44
anos, é dos artistas contemporâneos com maior destaque no cenário internacional. Um dos criadores da "Utopia Station", plataforma lançada na Bienal de Veneza, em 2003, ele recebeu o prêmio
Hugo Boss, há dois anos, organizado pelo Museu Guggenheim,
competindo, entre outros, com a
brasileira Rivane Neuenschwander. Pela segunda vez, em março,
ele participa da Bienal do Whitney Museum, em Nova York.
Influências
Em sua primeira presença no
Whitney, em 1996, Tiravanija exibiu o vídeo de uma ação de
Broodthaers, no Speakers Corner,
o espaço para manifestações sem
censura, no Hyde Park, em Londres. "No vídeo, Broodthaers
mostrava cartazes para as pessoas
que estavam fazendo declarações.
Essa ação silenciosa é bem representativa do que ele fazia, pequenas intervenções que pensam as
instituições. Enquanto projetava
essas imagens, eu e amigos fazíamos música por trás", conta o artista. Hoje, no seminário da Bienal, Tiravanija irá exibir esse mesmo vídeo durante sua fala.
"Cresci junto com várias pessoas muito influenciadas por
Broodthaers, ele é mesmo uma
referência importante para mim.
Como ele fazia, creio que é muito
importante para jovens artistas
questionar seu contexto", conta
Tiravanija. Outra de suas influências declaradas é o brasileiro Hélio Oiticica, que inspira a 27ª Bienal de São Paulo. "Conheci o trabalho do Hélio mais tarde, mas
junto com Gordon Matta-Clark e
Broodthaers, ele se tornou minha
maior referência", diz. Um dos
trabalhos realizados pelo artista,
cozinhar para o público, é inspirado mesmo num "Parangolé
Área", proposto pelo brasileiro.
Por essa tríade, fica claro que a
obra de Tiravanija retoma temas
dos anos 60 e 70, o que a própria
Bienal "Como Viver Junto", também faz. "Creio que estamos reagindo aos anos 80 e 90, muito individualistas. Socialmente e politicamente, temos muito a ver com
os anos 60, quando jovens questionavam o poder. Naquela época, nos EUA, protestava-se contra
a guerra no Vietnã, agora é contra
o governo conservador. E a arte
tem um papel nisso, ao contrário
do que muitos dizem", afirma.
Na Bienal do Whitney, Tiravanija retoma "Peace Tower", projeto de 1966, do artista Mark di Suvero, construída então contra a
guerra do Vietnã que, na época,
reuniu nomes como Roy Lichtenstein, James Rosenquist e
Mark Rothko. Para a versão 2006,
200 artistas foram convidados e a
torre ficará em frente ao Central
Park, em Nova York.
Tiravanija é um dos nomes convidados para a Bienal, mas seu
projeto não está definido. "Há
muitas bienais pelo mundo, mas
acho São Paulo importante porque aqui o público é muito amplo.
Acho que o tema é oportuno, como viver junto é algo que sempre
questiono, apesar da minha primeira preocupação ser sempre
como viver com arte", define.
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