São Paulo, quarta-feira, 28 de fevereiro de 2001

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CRÍTICA

Autor ilumina naturalismo

ESPECIAL PARA A FOLHA

Para avaliar a importância que o livro de João Roberto Faria possa ter, é preciso relacioná-lo aos esforços de outros estudiosos.
Historiadores da literatura como Sílvio Romero e José Veríssimo, atuantes nas últimas décadas do século 19 e primeiras do século 20, dedicaram apenas capítulos de seus livros ao texto dramático. Até meados do século passado, registra-se a publicação de alguns volumes, ainda pouco assertivos.
Mas, em 1955, aparece o longo artigo "Evolução da Literatura Dramática", de Décio de Almeida Prado. E, em 1962, surge o primeiro ensaio de fôlego sobre o assunto, "Panorama do Teatro Brasileiro", livro fundamental, de Sábato Magaldi. Lançaram bases a partir das quais é possível avançar, ainda que discordando dos mestres.
Lacunas como as relativas ao gênero revista vêm sendo preenchidas; o simbolismo, pouco estudado, já mereceu livro; o teatro politizado dos anos 60 e 70 vem sendo trabalhado. Os próprios decanos iriam ampliar os horizontes, Décio dedicado ao século 19, Sábato, a Nelson Rodrigues, apenas para citar alguns temas.
Entre as tendências e autores que ainda esperavam quem os estudasse, estavam o naturalismo e personalidades como a do dramaturgo Aluísio Azevedo e a do Artur Azevedo crítico de teatro (este, mais conhecido). Artur foi crítico aberto, mas confessadamente conservador, ao menos diante da novidade já não tão nova do naturalismo em 1903. De resto, Machado de Assis e Olavo Bilac também assumiriam posturas reticentes frente às supostas grosserias naturalistas.
Será ocioso tomar partido na briga, velha de cem anos, mas era necessário compreendê-la. Faria fez isso. O mérito maior de seu ensaio reside nas páginas sobre o naturalismo, mas o trabalho também acrescenta informações sobre o repertório realista ou, ainda, sobre a mistura de gêneros na fase do teatro musicado.
Cabe fazer reparos apenas à timidez com que o ensaísta se atém ao conhecido no primeiro capítulo, dedicado ao romantismo. Nessa primeira seção, a ausência de novidades pode frustrar o leitor familiarizado com o tema. Faria o recompensa generosamente ao tratar dos demais movimentos e, em especial, ao iluminar a história semi-obscura do naturalismo teatral no país. Some-se a isso a antologia que organizou. Se há textos em plena circulação, como o prólogo que Gonçalves Dias fez para "Leonor de Mendonça", com inclusão justificada por sua importância, há outros, como os artigos de Aluísio Azevedo, bem menos encontráveis e significativos.
O livro, originalmente tese de livre-docência, cumpre o que se espera dos bons trabalhos: é capaz de estabelecer, em português limpo, novas divisas no campo em que atua. (FERNANDO MARQUES)

As Idéias Teatrais no Brasil: O Século 19
    
Autor: João Roberto Faria
Editora: Perspectiva
Quanto: a definir (654 págs.)



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