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CRÍTICA
Autor ilumina naturalismo
ESPECIAL PARA A FOLHA
Para avaliar a importância que
o livro de João Roberto Faria possa ter, é preciso relacioná-lo aos
esforços de outros estudiosos.
Historiadores da literatura como Sílvio Romero e José Veríssimo, atuantes nas últimas décadas
do século 19 e primeiras do século
20, dedicaram apenas capítulos
de seus livros ao texto dramático.
Até meados do século passado,
registra-se a publicação de alguns
volumes, ainda pouco assertivos.
Mas, em 1955, aparece o longo
artigo "Evolução da Literatura
Dramática", de Décio de Almeida
Prado. E, em 1962, surge o primeiro ensaio de fôlego sobre o assunto, "Panorama do Teatro Brasileiro", livro fundamental, de Sábato
Magaldi. Lançaram bases a partir
das quais é possível avançar, ainda que discordando dos mestres.
Lacunas como as relativas ao
gênero revista vêm sendo preenchidas; o simbolismo, pouco estudado, já mereceu livro; o teatro
politizado dos anos 60 e 70 vem
sendo trabalhado. Os próprios
decanos iriam ampliar os horizontes, Décio dedicado ao século
19, Sábato, a Nelson Rodrigues,
apenas para citar alguns temas.
Entre as tendências e autores
que ainda esperavam quem os estudasse, estavam o naturalismo e
personalidades como a do dramaturgo Aluísio Azevedo e a do
Artur Azevedo crítico de teatro
(este, mais conhecido). Artur foi
crítico aberto, mas confessadamente conservador, ao menos
diante da novidade já não tão nova do naturalismo em 1903. De
resto, Machado de Assis e Olavo
Bilac também assumiriam posturas reticentes frente às supostas
grosserias naturalistas.
Será ocioso tomar partido na
briga, velha de cem anos, mas era
necessário compreendê-la. Faria
fez isso. O mérito maior de seu ensaio reside nas páginas sobre o
naturalismo, mas o trabalho também acrescenta informações sobre o repertório realista ou, ainda,
sobre a mistura de gêneros na fase
do teatro musicado.
Cabe fazer reparos apenas à timidez com que o ensaísta se atém
ao conhecido no primeiro capítulo, dedicado ao romantismo. Nessa primeira seção, a ausência de
novidades pode frustrar o leitor
familiarizado com o tema. Faria o
recompensa generosamente ao
tratar dos demais movimentos e,
em especial, ao iluminar a história
semi-obscura do naturalismo teatral no país. Some-se a isso a antologia que organizou. Se há textos
em plena circulação, como o prólogo que Gonçalves Dias fez para
"Leonor de Mendonça", com inclusão justificada por sua importância, há outros, como os artigos
de Aluísio Azevedo, bem menos
encontráveis e significativos.
O livro, originalmente tese de livre-docência, cumpre o que se espera dos bons trabalhos: é capaz
de estabelecer, em português limpo, novas divisas no campo em
que atua.
(FERNANDO MARQUES)
As Idéias Teatrais no Brasil:
O Século 19
Autor: João Roberto Faria
Editora: Perspectiva
Quanto: a definir (654 págs.)
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