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MÚSICA/LANÇAMENTOS
"TRANSFORMER"
Clássico de 1972 marca a renascença artística do ex-Velvet
Reedição expõe marginalidade já assimilada de Lou Reed
Folha Imagem
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Lou Reed em foto da época de "Transformer" (1972), disco co-produzido por David Bowie. |
DA REPORTAGEM LOCAL
O Brasil prefere o passado.
Enquanto a filial local da
Warner admite que não tem planos de lançar aqui o novo álbum
de Lou Reed ("The Raven"), a
BMG brasileira reedita uma versão remasterizada do clássico
"Transformer" (72), que por sua
vez havia saído lá fora há quase
meio ano.
"The Raven", o disco duplo que
o Brasil não conhecerá a não ser
por importação, baseia-se no poema homônimo de 1845 de Edgar
Allan Poe. Funde poesia declamada, experimentação eletrônica,
canção e jazz e reúne um elenco
de convidados atores (Willem
Dafoe, Amanda Plummer, Steve
Buscemi) e músicos (Ornette Coleman, Laurie Anderson, David
Bowie).
Significa reencontro histórico
entre Reed e Bowie, que em 1972
promovera a renascença artística
do então ex-líder do grupo Velvet
Underground ao co-produzir para ele um dos mais afiados álbuns
de sua história. Qual álbum?
"Transformer", é claro.
Reeditado, esse traz de volta ao
Brasil clássicos do quilate de
"Walk on the Wild Side", "Vicious", "Perfect Day" e, com Bowie gemendo nos vocais de fundo, "Satellite of Love", "I'm So
Free" e "New York Telephone
Conversation". Adiciona a ele
versões amadoras, acústicas e inéditas de "Perfect Day" e "Hangin"
"Round".
O atrativo maior da reedição, já
que a música é bem conhecida, está no texto histórico/analítico que
o acompanha. Ali se relembra,
por exemplo, que a revista musical "Rolling Stone" descreveu
Reed, no lançamento de "Transformer", como "um monstro
Frankenstein efeminado".
Referia-se, provavelmente, ao
pequeno escândalo provocado
pela letra de "Walk on the Wild
Side", que descrevia friamente o
cotidiano de prostitutas, michês,
travestis e traficantes de drogas
-em outras palavras, o imaginário do Velvet Underground e de
seu padrinho radicado no coração da pop art, Andy Warhol.
Após 31 anos, o prestígio nunca
decrescente de "Transformer" demonstra que o mainstream assimilou completamente as mensagens de apoio à marginalidade e
ao transformismo sexual do jovem Lou Reed, até mesmo no
Brasil.
Quem fica à espera, agora, é o
novo-velho Lou Reed, insistente
no experimentalismo e entregue
ao classicismo de Edgar Allan
Poe. Por ora, o Brasil prefere o antigo Lou Reed -ou melhor, é o
único a que tem acesso.
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)
Transformer
Artista: Lou Reed
Lançamento: BMG
Quanto: R$ 25, em média
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