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São Paulo, sexta-feira, 28 de fevereiro de 2003

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MÚSICA/LANÇAMENTOS

"TRANSFORMER"

Clássico de 1972 marca a renascença artística do ex-Velvet

Reedição expõe marginalidade já assimilada de Lou Reed

Folha Imagem
Lou Reed em foto da época de "Transformer" (1972), disco co-produzido por David Bowie.


DA REPORTAGEM LOCAL

O Brasil prefere o passado. Enquanto a filial local da Warner admite que não tem planos de lançar aqui o novo álbum de Lou Reed ("The Raven"), a BMG brasileira reedita uma versão remasterizada do clássico "Transformer" (72), que por sua vez havia saído lá fora há quase meio ano.
"The Raven", o disco duplo que o Brasil não conhecerá a não ser por importação, baseia-se no poema homônimo de 1845 de Edgar Allan Poe. Funde poesia declamada, experimentação eletrônica, canção e jazz e reúne um elenco de convidados atores (Willem Dafoe, Amanda Plummer, Steve Buscemi) e músicos (Ornette Coleman, Laurie Anderson, David Bowie).
Significa reencontro histórico entre Reed e Bowie, que em 1972 promovera a renascença artística do então ex-líder do grupo Velvet Underground ao co-produzir para ele um dos mais afiados álbuns de sua história. Qual álbum? "Transformer", é claro.
Reeditado, esse traz de volta ao Brasil clássicos do quilate de "Walk on the Wild Side", "Vicious", "Perfect Day" e, com Bowie gemendo nos vocais de fundo, "Satellite of Love", "I'm So Free" e "New York Telephone Conversation". Adiciona a ele versões amadoras, acústicas e inéditas de "Perfect Day" e "Hangin" "Round".
O atrativo maior da reedição, já que a música é bem conhecida, está no texto histórico/analítico que o acompanha. Ali se relembra, por exemplo, que a revista musical "Rolling Stone" descreveu Reed, no lançamento de "Transformer", como "um monstro Frankenstein efeminado".
Referia-se, provavelmente, ao pequeno escândalo provocado pela letra de "Walk on the Wild Side", que descrevia friamente o cotidiano de prostitutas, michês, travestis e traficantes de drogas -em outras palavras, o imaginário do Velvet Underground e de seu padrinho radicado no coração da pop art, Andy Warhol.
Após 31 anos, o prestígio nunca decrescente de "Transformer" demonstra que o mainstream assimilou completamente as mensagens de apoio à marginalidade e ao transformismo sexual do jovem Lou Reed, até mesmo no Brasil.
Quem fica à espera, agora, é o novo-velho Lou Reed, insistente no experimentalismo e entregue ao classicismo de Edgar Allan Poe. Por ora, o Brasil prefere o antigo Lou Reed -ou melhor, é o único a que tem acesso.
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)


Transformer    
Artista: Lou Reed
Lançamento: BMG
Quanto: R$ 25, em média



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