São Paulo, domingo, 28 de fevereiro de 2010

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TVs começam a ver internet como "amiga"

Nos EUA, conversas na web sobre programação favorecem ambas as mídias

Rede possibilita troca de ideias que, para executivos da TV, aumenta audiência; segundo eles, pessoas querem estar interligadas

BRIAN STELTER
DO "NEW YORK TIMES"

Alguém se lembra de quando se imaginava que a internet fosse acabar com a televisão? Pois isso não vem acontecendo, a julgar pelos números de audiência das transmissões de grandes eventos na TV.
Tudo indica que os Jogos de Vancouver serão a Olimpíada de Inverno fora dos EUA mais assistidas na TV americana desde 1994; o Super Bowl deste ano foi o programa de maior audiência na história do país; e premiações como o Grammy vem atraindo grande público.
Muitos executivos da TV atribuem o ressurgimento da audiência, em parte, à internet. Blogs e sites sociais como Facebook e Twitter possibilitam a troca informal de ideias on-line, incentivando as pessoas a dividir o tempo entre a tela do computador e a maior, da TV.
A Nielsen Company, que mede a audiência de televisão e o tráfego na internet, observou que uma em cada sete pessoas que assistiram ao Super Bowl e à cerimônia de abertura da Olimpíada estavam navegando na web ao mesmo tempo.
"A internet é nossa amiga, não inimiga", disse Leslie Moonves, executivo-chefe da CBS Corporation. "As pessoas querem ficar interligadas."
Às vezes o efeito funciona mesmo quando o programa não é ao vivo. Rachel Velonza, 23, de Seattle, sabia que Johnny Weir tinha perdido na patinação artística antes de ligar a TV, mas ficou acordada até tarde, tolerando o atraso da NBC, pois queria ver com os próprios olhos o porquê do patinador acabar em sexto lugar.
Ela sabia que todos os seus amigos faziam o mesmo, já que falavam disso no Twitter (que diz ter 50 milhões de posts diários) e no Facebook (que diz ter tido 400 milhões neste mês).
A NBC diz que os hábitos de pessoas como Velonza podem explicar em parte a razão de a audiência das Olimpíadas ter subido perceptivelmente. "Elas querem ter algo a compartilhar", disse Alan Wurtzel, chefe de pesquisas da emissora.
Se os espectadores não podem assistir à TV na mesma sala, a segunda melhor opção é estarem juntos em um bate-papo, ou algo assim, na internet.
Foi o que a MTV constatou durante o último Video Music Awards: os twitteiros ficaram eletrizados quando Kanye West tirou o microfone de Taylor Swift durante discurso que ela fazia ao ser premiada. A transmissão alcançou a média de 9 milhões de espectadores, maior audiência em seis anos.
Neste ano, a Academia de Gravação, que entrega o Grammy, preparou uma campanha digital para divulgar o evento de premiação. Não à toa, segundo a Academia, tiveram audiência 35% maior que no ano passado.
O efeito evidentemente não se limita à televisão. Papos on-line podem beneficiar ou prejudicar estreias de filmes e a aprovação de políticos. Estudos atuais sobre redes on-line afirmam o que pesquisadores admitem há tempos: as pessoas procuram companhia de quem pensa como elas, de quem se dispõem a serem influenciadas.
Outros fatores contribuem para o aumento da audiência na TV, como o crescimento demográfico e a contração econômica -que leva pessoas a passarem mais tempo em casa. Mas o uso crescente de mídias sociais está sendo um grande impulso.
Para Wurtzel, a Olimpíada de Inverno está sendo um laboratório. Até agora, afirmou, está constatando que as pessoas que acompanham o evento na TV e também on-line acabam "assistindo a mais TV".
Empresas de mídia começam a analisar como aproveitar melhor o efeito "ponto de encontro informal". No caso da Olimpíada, a NBC promove algo chamado "Você é o jurado", no qual espectadores podem dar escores aos patinadores, através da web, e compará-los com os de outros espectadores.
Nas palavras de Chloe Sladden, do Twitter: "Não consigo imaginar um grande evento no futuro no qual o público não seja participante integral", disse.

Tradução de CLARA ALLAIN

A íntegra deste texto saiu no "New York Times"



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