São Paulo, sábado, 28 de fevereiro de 1998

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ARTES PLÁSTICAS
Exposição traz trio que mudou história

da Reportagem Local

Há três gerações de desbravadores da linguagem na exposição "No Limite da Consciência", sobre os 50 anos da Organização Mundial da Saúde. Robert Rauschenberg ajudou a abrir caminho para a pop arte nos anos 50, Sol LeWitt e Joseph Kosuth forjaram as idéias centrais da arte conceitual nos anos 60 e 70 e Ilya Kabakov é um dos pioneiros da instalação.
Rauschenberg ajudou a mudar o curso da arte na metade dos anos 50 com suas "pinturas combinadas" (combine-paintings).
O artista minava os limites existentes entre a pintura e a escultura. Juntava uma serigrafia do presidente Kennedy com uma bandeira dos EUA. A bandeira não era representada -era a própria. Foi uma das senhas para a pop arte se apropriar de objetos do mundo.
Com essas apropriações, Rauschenberg fica a meio caminho entre a pop arte e o dadaísmo de Duchamp, por exemplo, que também usava objetos já existentes, mas dava a eles um sentido inesperado. Era o que Duchamp chamava de "ready made". Rauschenberg foi homenageado pela 22ª Bienal Internacional de São Paulo (1994) com uma sala especial.

A idéia
Sol LeWitt e Joseph Kosuth ajudaram a forjar o conceito segundo o qual o que importa é a idéia que move uma obra de arte, não o trabalho que ela exige ou a sua materialidade.
Foi o próprio Kosuth que batizou o que viria a ser um dos mais importantes movimentos do final dos anos 60 e início dos 70, com repercussões em quase tudo que se faz hoje: a arte conceitual.
Como se fosse um sinal das mudanças que estavam por vir, LeWitt e Kosuth expunham suas idéias não num manifesto, mas em textos marcados pelo debate filosófico dos anos 60.
LeWitt criou o termo arte conceitual no texto "Parágrafos sobre Arte Conceitual", de 1967.
Ali, ele defende a preponderância da idéia sobre a forma e a matéria. LeWitt abomina a idéia do artesão, uma prática herdada da Idade Média sem sentido no mundo moderno, segundo ele.
Como se fosse um músico, LeWitt cria desenhos-partituras para outros executarem. Suas obras mais famosas são as paredes pintadas, como a que criou para a 23ª Bienal (1996).
Para frisar a efemeridade da obra de arte, LeWitt destrói seus trabalhos ao final da exposição -manda pintar a parede de branco.

As ruínas
O artista russo Ilya Kabakov trabalha desde os anos 70 com a idéia de desintegração. Quando o muro de Berlim caiu, em 1989, ficou mais claro do que Kabakov estava falando.
O artista usa móveis, objetos, pinturas, fotos, slogans e música para criar seus trabalhos -as instalações, meio hegemônico da arte nos anos 80 e 90.
Há um discurso político na obra de Kabakov que, ao contrário da arte militante dos anos 60, não soterra a poética, mas faz parte dela.
Essa atitude é comum a vários artistas da mostra da OMS. O chileno Alfredo Jaar, criado sob a ditadura de Pinochet, não tem pudor de colocar fotos de tanques de guerra em seus trabalhos ao lado de imagens de plantação de trigo.
A brasileira Adriana Varejão fala da brutalidade da colonização mesclando imagens retiradas de azulejos portugueses com objetos com assepsia hospitalar.
Alma Suljevic, que vive na Bósnia, constrói suas instalações sobre mapas originais das minas que continuam ativas após a guerra.
O artista cubano Kcho, que expôs na Bienal de 1994, faz instalações com remos. Usa um objeto banal para cutucar o poder cubano -suas instalações com remo são da mesma época das fugas de cubanos para Miami em barcos improvisados.
A brasileira Fabiana de Barros já definiu o trabalho que apresentará na exposição. Vai realizar performances via Internet, baseadas na idéia de vulnerabilidade. É um trabalho em construção, sempre. O público poderá participar da obra com idéias que poderão ser usadas na etapa seguinte da exposição.
Fabiana também promoverá foruns de discussão em que ela debaterá a idéia de vulnerabilidade com críticos, filósofos, músicos e quem mais ela imaginar. Até pais de santos serão convidados, segundo ela.



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