|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
DISCO LANÇAMENTO
Goldie faz drum'n'bass autobiográfico
SÉRGIO MARTINS
especial para a Folha
É "Saturnz Returnz", de Goldie.
Mas pelo seu cartão de visitas
(leia-se a autobiográfica "Mother"), a obra poderia muito bem
passar como rock progressivo. A
canção tem todos os defeitos das
bandas do gênero: pretensão,
pompa e erudição de cartilha "caminho suave".
"Mother", uma "sinfonia
drum'n'bass", retrata o período
em que Goldie passou no orfanato. Deve ter sido difícil, pois ouvir
60 minutos de lamentos, cordas e
pouquíssimas batidas (a primeira
delas só depois de 20 minutos de
audição), é uma tortura pior do
que a executada pelos donos do
orfanato em "Oliver Twist".
Os primeiros acordes de
"Truth", que também traz vocais
pouco inspirados de David Bowie,
são suficientes para se duvidar do
suposto talento de Goldie. E dar
razão àquela crítica preconceituosa da "Rolling Stone" - que chamou o DJ de "o Emerson, Lake &
Palmer da geração drum'n'bass".
Quando termina o primeiro CD
(são dois), a vontade é de amaldiçoar Björk e Naomi Campbell. A
primeira por entupir Goldie com
música clássica. E Naomi porque,
com aquela deusa de ébano ao lado, deve haver outras coisas melhores para fazer do que compor.
Mas eis que chega "Temper
Temper". Outra canção autobiográfica, em que Goldie fala de seu
temperamento irascível, soa como
se Lemmy Kilmister (do Motorhead) tomasse um ecstasy. Goldie
grita feito um alucinado e derrama
baterias infernais sobre nós, enquanto Noel Gallagher bota a guitarra para apitar - e às vezes chega ao limite do heavy metal.
"Digital" tem como convidado
especial o rapper KRS-One e propõe uma fusão entre o rap e o
drum'n'bass. Com resultados bastante satisfatórios, diga-se.
"I'll Be There for You" é a canção que faz "Saturnz Returnz" valer a pena. Remete aos princípios
do gênero, quando o drum'n'bass
tinha batidas mais soturnas.
O Brasil -que Goldie dedica "de
coracao"- é tema para outras
duas músicas do álbum. A primeira, "Dragonfly", tem frases em
português e um clima brasileiro. E
"Chico - Death of a Rock Star" é
dedicada a Chico Science, com direito à guitarra de Lúcio Maia e
co-autoria dada a Jorge Mautner
(autor de "Maracatu Atômico",
cuja guitarra foi sampleada).
Entre mortos e feridos, esse está
longe de ser um disco ruim. Porém
não é melhor do que "Timeless"
(95) e muito menos justifica a fama de gênio de Goldie.
Ao lado de trabalhos mais inovadores como "New Forms" (de Roni Size & Reprazent, este sim, essencial) e as coletâneas "Platinum
Breaks 1 & 2" (formada pelos DJs
da Metalheadz), "Saturnz Returnz" serve apenas como aperitivo para uma noitada regada a
drum'n'bass com batidas mais frenéticas.
Sérgio Martins, 30, é editor da revista "Showbizz"
Disco: Saturnz Returnz
Artista: Goldie
Lançamento: PolyGram
Quanto: R$ 36, em média
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|