São Paulo, terça-feira, 28 de março de 2000


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FILME ESTRANGEIRO
Cineasta espanhol comemora premiação, mas critica critérios da escolha
Almodóvar quer catarse espanhola

especial para a Folha, em Los Angeles

A Academia de Hollywood parece não ser mais a mesma. Pelo menos se levarmos em conta os prêmios concedidos este ano.
Há quem os aponte como extremamente liberais para uma instituição historicamente conservadora.
Quando, no passado, a trágica história de uma jovem do interior americano em crise de identidade como Teena Brandon, de "Meninos Não Choram", garantiria um Oscar na categoria de melhor atriz como foi concedido a Hilary Swank? Fato simplesmente improvável.
Seguindo a mesma tendência, a estatueta dificilmente sairia para um filme que conta a história de um travesti como em "Tudo sobre Minha Mãe".
O fato é que tanto Hilary quanto Pedro Almodóvar conquistaram seus prêmios pela qualidade de seus trabalhos.
Logo após receber seu primeiro Oscar, o veterano cineasta espanhol confessou sua alegria de ter recebido o prêmio sem deixar de criticar as regras em vigor da competição, entre outros assuntos. A seguir os principais trechos da coletiva concedida nos bastidores do Shrine Auditorium.
(CC)

Pergunta - O que muda em sua carreira com a conquista do Oscar? Pretende mudar-se para os Estados Unidos?
Pedro Almodóvar -
Não. Esse prêmio representa muito para mim, envolvi-me bastante com ele, mas isso não significa em mudança nos tipos de filme que pretendo fazer. Quero continuar fazendo filmes que me dizem algo.
Essa não é uma decisão nova, tem muito tempo. O que posso garantir é que pretendo entrar agora numa catarse de pelo menos dez horas com o povo espanhol.
Provavelmente amanhã à tarde vou poder falar sobre o futuro. Mas, no momento, não estou podendo nem mesmo me concentrar.

Pergunta - Como o senhor consegue criar histórias e elas parecerem tão reais?
Almodóvar -
Trata-se de um processo muito abstrato e misterioso. Geralmente começo fazendo anotações até reunir várias idéias, mesmo sem saber o que vou aproveitar.
Depois de formada a idéia entra, é hora de entrar o ator, que, para mim, é a peça fundamental para fazer um filme verossímil.
Se ele encontra a medida certa, se ele entende a minha idéia e viaja numa determinada jornada, o filme acaba parecendo realidade.

Pergunta - Qual foi a sua participação na campanha de "Tudo sobre Minha Mãe" para o Oscar?
Almodóvar -
Sinceramente eu estive afastado desse processo. O que fiz foi ficar nos Estados Unidos depois da indicação. Tinha que retribuir a atenção que as pessoas deram ao meu filme.
O que pretendo fazer é escrever uma carta para a Academia protestando contra as regras na escolha do melhor filme estrangeiro.
É um critério bastante discriminatório. É um absurdo pedir o voto de um membro na condição de ele ter de assistir aos cinco filmes antes de fazer sua escolha.
Isso só acontece na categoria de melhor filme estrangeiro e em nenhuma outra.
Não entendo o porque disso acontecer justamente nessa categoria. Isso não acontece na categoria de melhor filme. Filmes estrangeiros são inferiores que os americanos?
A única coisa que vem na minha cabeça é a existência de discriminação. Não sei em que mais pensar e espero que isso mude no futuro.


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