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FILME ESTRANGEIRO
Cineasta espanhol comemora premiação, mas critica critérios da escolha
Almodóvar quer catarse espanhola
especial para a Folha, em Los Angeles
A Academia de Hollywood parece não ser mais a mesma. Pelo
menos se levarmos em conta os
prêmios concedidos este ano.
Há quem os aponte como extremamente liberais para uma
instituição historicamente conservadora.
Quando, no passado, a trágica
história de uma jovem do interior
americano em crise de identidade
como Teena Brandon, de "Meninos Não Choram", garantiria um
Oscar na categoria de melhor
atriz como foi concedido a Hilary
Swank? Fato simplesmente improvável.
Seguindo a mesma tendência, a
estatueta dificilmente sairia para
um filme que conta a história de
um travesti como em "Tudo sobre Minha Mãe".
O fato é que tanto Hilary quanto Pedro Almodóvar conquistaram seus prêmios pela qualidade
de seus trabalhos.
Logo após receber seu primeiro
Oscar, o veterano cineasta espanhol confessou sua alegria de ter
recebido o prêmio sem deixar de
criticar as regras em vigor da
competição, entre outros assuntos. A seguir os principais trechos
da coletiva concedida nos bastidores do Shrine Auditorium.
(CC)
Pergunta - O que muda em
sua carreira com a conquista do
Oscar? Pretende mudar-se para
os Estados Unidos?
Pedro Almodóvar - Não. Esse
prêmio representa muito para
mim, envolvi-me bastante com
ele, mas isso não significa em mudança nos tipos de filme que pretendo fazer. Quero continuar fazendo filmes que me dizem algo.
Essa não é uma decisão nova,
tem muito tempo. O que posso
garantir é que pretendo entrar
agora numa catarse de pelo menos dez horas com o povo espanhol.
Provavelmente amanhã à tarde
vou poder falar sobre o futuro.
Mas, no momento, não estou podendo nem mesmo me concentrar.
Pergunta - Como o senhor
consegue criar histórias e elas
parecerem tão reais?
Almodóvar - Trata-se de um
processo muito abstrato e misterioso. Geralmente começo fazendo anotações até reunir várias
idéias, mesmo sem saber o que
vou aproveitar.
Depois de formada a idéia entra, é hora de entrar o ator, que,
para mim, é a peça fundamental
para fazer um filme verossímil.
Se ele encontra a medida certa,
se ele entende a minha idéia e viaja numa determinada jornada, o
filme acaba parecendo realidade.
Pergunta - Qual foi a sua participação na campanha de "Tudo
sobre Minha Mãe" para o Oscar?
Almodóvar - Sinceramente eu
estive afastado desse processo. O
que fiz foi ficar nos Estados Unidos depois da indicação. Tinha
que retribuir a atenção que as pessoas deram ao meu filme.
O que pretendo fazer é escrever
uma carta para a Academia protestando contra as regras na escolha do melhor filme estrangeiro.
É um critério bastante discriminatório. É um absurdo pedir o voto de um membro na condição de
ele ter de assistir aos cinco filmes
antes de fazer sua escolha.
Isso só acontece na categoria de
melhor filme estrangeiro e em nenhuma outra.
Não entendo o porque disso
acontecer justamente nessa categoria. Isso não acontece na categoria de melhor filme. Filmes estrangeiros são inferiores que os
americanos?
A única coisa que vem na minha
cabeça é a existência de discriminação. Não sei em que mais pensar e espero que isso mude no futuro.
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