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CRÍTICA
Série de compilações retrata a velha-guarda cubana
especial para a Folha
Além das inevitáveis comparações com a trilha "Buena Vista Social Club", a compilação "Raíces"
oferece também a chance de conhecer outros expoentes da velha-guarda cubana, que não viveram o suficiente para presenciar a
atual redescoberta do "son".
É o caso do prolífico contrabaixista e compositor Ignacio Piñero
(1888-1969), autor de mais de 300
canções, que lidera seu popular
Septeto Nacional, o mais longínquo conjunto desse gênero, em
"Amor de Loca Juventud" e "La
Bayamesa".
Nome essencial na tradição da
canção trovadoresca cubana, a
cantora e violonista Maria Teresa
Vera (1895-1965) interpreta seu
conhecido bolero "Veinte Años",
em duo com o cantor e violonista
Lorenzo Hierrezuelo, que a
acompanhou por mais de duas
décadas.
O elenco dessa compilação
completa-se com outros veteranos intérpretes, como o cantor
Ramón Veloz (na guajira "El Carretero"), o duo instrumental formado pelo pianista Frank Emilio
Flynn com o flautista Alberto
Corrales (em uma bela versão do
"danzón" "Buena Vista Social
Club") e o especialista em boleros
Roberto Sánchez (no clássico
"Dos Gardenias").
A tradição do "son" e do bolero
também está presente no CD
"Chanchaneando", que destaca
dois dos veteranos astros do filme
"Buena Vista Social Club": Eliades Ochoa e Compay Segundo,
que têm a companhia do Cuarteto
Patria, nessa sessão de gravações
realizada em 1989.
Violões e outros instrumentos
de cordas dominam os arranjos
das 10 faixas, que alternam canções românticas, como o bolero
"Alli Donde Tu Sabes", e ritmos
mais dançantes, como a divertida
guaracha "La Pulidora".
Já a compilação "Grandes Exitos" traça um considerável panorama da carreira de Compay Segundo, reunindo gravações desse
cantor e compositor entre os anos
50 e os 80.
Da debochada "Oui Parle Français" (que lembra Carmem Miranda) ao delicado bolero "Descripción de un Sueño", passando
pela caricata "Chicharrones con
Tostones" percebe-se que, afinal,
o "son" não mudou tanto em
quatro décadas.
Delicioso também é "Indestructible", álbum gravado em 1997 pelo pianista e compositor Rubén
González, 81, outro carismático
personagem do documentário de
Wim Wenders.
Para um músico que já nem
mais dispunha de um piano em
sua casa, quando foi convocado a
participar do projeto "Buena Vista", González surpreende com
técnica impecável e um fraseado
refinado.
Bastam apenas algumas notas
da romântica "Nuestra Canción"
(de Portillo de la Luz), que abre o
CD, para que o ouvinte seja transportado para a Havana dos anos
40, época em que o piano de González brilhava em orquestras como a de Arsenio Rodriguez ou a
dos irmãos Castro.
Eclético, González esbanja elegância em boleros, como "Mil
Congojas" e "Todo Aquel Ayer",
diverte com um sofisticado mambo ("Date Una Vueltecita") e comanda uma vibrante "descarga"
(o nome que os cubanos dão às
suas sessões de improviso) intitulada "Fabiando". O velhinho sabe
de tudo. (CC)
Avaliação:
Disco: Raíces
Intérpretes: Ibrahim Ferrer, Maria Teresa Vera, Ignacio Piñeiro e outros
Disco: Chanchaneando
Intérpretes: Eliades Ochoa, Cuarteto Patria e Compay Segundo
Disco: Grandes Exitos
Intérprete: Compay Segundo
Disco: Indestructible
Intérprete: Rubén González
Lançamentos: Velas/Egrem
Quanto: R$ 20, em média, cada CD
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