São Paulo, sexta-feira, 28 de abril de 2000


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CRÍTICA

Série de compilações retrata a velha-guarda cubana

especial para a Folha

Além das inevitáveis comparações com a trilha "Buena Vista Social Club", a compilação "Raíces" oferece também a chance de conhecer outros expoentes da velha-guarda cubana, que não viveram o suficiente para presenciar a atual redescoberta do "son".
É o caso do prolífico contrabaixista e compositor Ignacio Piñero (1888-1969), autor de mais de 300 canções, que lidera seu popular Septeto Nacional, o mais longínquo conjunto desse gênero, em "Amor de Loca Juventud" e "La Bayamesa".
Nome essencial na tradição da canção trovadoresca cubana, a cantora e violonista Maria Teresa Vera (1895-1965) interpreta seu conhecido bolero "Veinte Años", em duo com o cantor e violonista Lorenzo Hierrezuelo, que a acompanhou por mais de duas décadas.
O elenco dessa compilação completa-se com outros veteranos intérpretes, como o cantor Ramón Veloz (na guajira "El Carretero"), o duo instrumental formado pelo pianista Frank Emilio Flynn com o flautista Alberto Corrales (em uma bela versão do "danzón" "Buena Vista Social Club") e o especialista em boleros Roberto Sánchez (no clássico "Dos Gardenias").
A tradição do "son" e do bolero também está presente no CD "Chanchaneando", que destaca dois dos veteranos astros do filme "Buena Vista Social Club": Eliades Ochoa e Compay Segundo, que têm a companhia do Cuarteto Patria, nessa sessão de gravações realizada em 1989.
Violões e outros instrumentos de cordas dominam os arranjos das 10 faixas, que alternam canções românticas, como o bolero "Alli Donde Tu Sabes", e ritmos mais dançantes, como a divertida guaracha "La Pulidora".
Já a compilação "Grandes Exitos" traça um considerável panorama da carreira de Compay Segundo, reunindo gravações desse cantor e compositor entre os anos 50 e os 80.
Da debochada "Oui Parle Français" (que lembra Carmem Miranda) ao delicado bolero "Descripción de un Sueño", passando pela caricata "Chicharrones con Tostones" percebe-se que, afinal, o "son" não mudou tanto em quatro décadas.
Delicioso também é "Indestructible", álbum gravado em 1997 pelo pianista e compositor Rubén González, 81, outro carismático personagem do documentário de Wim Wenders.
Para um músico que já nem mais dispunha de um piano em sua casa, quando foi convocado a participar do projeto "Buena Vista", González surpreende com técnica impecável e um fraseado refinado.
Bastam apenas algumas notas da romântica "Nuestra Canción" (de Portillo de la Luz), que abre o CD, para que o ouvinte seja transportado para a Havana dos anos 40, época em que o piano de González brilhava em orquestras como a de Arsenio Rodriguez ou a dos irmãos Castro.
Eclético, González esbanja elegância em boleros, como "Mil Congojas" e "Todo Aquel Ayer", diverte com um sofisticado mambo ("Date Una Vueltecita") e comanda uma vibrante "descarga" (o nome que os cubanos dão às suas sessões de improviso) intitulada "Fabiando". O velhinho sabe de tudo. (CC)


Avaliação:     

Disco: Raíces
Intérpretes: Ibrahim Ferrer, Maria Teresa Vera, Ignacio Piñeiro e outros

Disco: Chanchaneando
Intérpretes: Eliades Ochoa, Cuarteto Patria e Compay Segundo

Disco: Grandes Exitos
Intérprete: Compay Segundo

Disco: Indestructible
Intérprete: Rubén González

Lançamentos: Velas/Egrem
Quanto: R$ 20, em média, cada CD


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