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MEMÓRIA
Letrista morreu na quarta, aos 84 anos, no Rio
Parceiro de Nelson Cavaquinho, Guilherme de Brito escreveu clássicos
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
Na letra de "Quando Eu me
Chamar Saudade", Guilherme de
Brito pediu as "flores em vida".
"Depois, quando eu me chamar
saudade/ Quero preces e nada
mais", escreveu em uma das parcerias com Nelson Cavaquinho.
Brito, um dos principais poetas
da música brasileira, co-autor de
clássicos como "Folhas Secas" e
"A Flor e o Espinho", passou a se
chamar saudade na noite de quarta, quando teve falência múltipla
dos órgãos decorrente de uma
pneumonia e um infarto.
Ele foi enterrado ontem à tarde
no cemitério do Catumbi, zona
central do Rio. Estiveram no velório amigos como Nelson Sargento, Monarco, Xangô da Mangueira, Herminio Bello de Carvalho e
Moacyr Luz.
"Ele andava daquele jeito lento,
cigarro na mão, sem fôlego, mas,
quando ia cantar, baixava o santo
e não desafinava nunca. Guilherme me ensinou que, nas parcerias
e nas amizades, é preciso entender o outro e aceitá-lo", disse Luz,
que produziu os dois últimos discos do compositor: "Samba Guardado" e "A Flor e o Espinho".
Monarco, que teve Brito como
padrinho de seu último casamento e gravou com ele e Nelson Sargento o disco "Velhas Companheiras", homenageou o amigo
em um show na quarta-feira, cantando dois de seus sambas.
"Os aplausos foram para ele. Estou com muita tristeza no coração. Era uma pessoa digna, honesta, pura e um grande compositor", afirmou o líder da Velha
Guarda da Portela.
Elton Medeiros disse nem ter
conseguido dormir após saber da
morte do amigo de décadas, com
quem gravou "Quatro Grandes
do Samba" -também com Nelson Cavaquinho e Candeia.
"Ele não era só um grande autor
de sambas, como o rotulavam,
mas também um grande seresteiro. Era uma pessoa divertida, com
quem eu passava dias inteiros",
emocionou-se Medeiros.
Caronas com Noel Rosa
Guilherme de Brito Bollhorst,
neto de alemão, nasceu em Vila
Isabel em uma família musical.
Aos oito anos, ganhou seu primeiro cavaquinho. Quando o pai
morreu, em 1934, foi ser office-boy na casa Edison, que vendia
aparelhos de som. Ele gostava de
contar que pegava carona com o
vizinho Noel Rosa.
Aposentou-se na mesma empresa. Aos 16 anos, fez sua primeira composição, "Meu Dilema",
que seria gravada em 1955 por
Augusto Calheiros. Mas o fato decisivo na década de 50 foi ele ter
conhecido Nelson Antônio da Silva, o Nelson Cavaquinho.
Nelson sempre vendeu sambas
ou partes deles para pagar despesas de bar. Propôs a Guilherme de
Brito que fossem parceiros exclusivos, mas nunca foi totalmente
fiel. O letrista recordava isso sem
rancor e garantia jamais ter traído
o acordo. Ele não vendia sambas,
mas também foi boêmio militante
e fumante -consumia três maços de cigarro por dia.
Brito gravou apenas cinco discos solos, um deles lançado inicialmente no Japão. Desde os
anos 60, ele fez da pintura sua carreira paralela. Chegou a ter telas
expostas no exterior. Seus temas
eram simples, e em muitos quadros apareciam o próprio Guilherme de Brito ao lado do eterno
parceiro Nelson. Ele deixa viúva,
Nena, e dois filhos.
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