São Paulo, sexta-feira, 28 de abril de 2006

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MEMÓRIA

Letrista morreu na quarta, aos 84 anos, no Rio

Parceiro de Nelson Cavaquinho, Guilherme de Brito escreveu clássicos

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

Na letra de "Quando Eu me Chamar Saudade", Guilherme de Brito pediu as "flores em vida". "Depois, quando eu me chamar saudade/ Quero preces e nada mais", escreveu em uma das parcerias com Nelson Cavaquinho.
Brito, um dos principais poetas da música brasileira, co-autor de clássicos como "Folhas Secas" e "A Flor e o Espinho", passou a se chamar saudade na noite de quarta, quando teve falência múltipla dos órgãos decorrente de uma pneumonia e um infarto.
Ele foi enterrado ontem à tarde no cemitério do Catumbi, zona central do Rio. Estiveram no velório amigos como Nelson Sargento, Monarco, Xangô da Mangueira, Herminio Bello de Carvalho e Moacyr Luz.
"Ele andava daquele jeito lento, cigarro na mão, sem fôlego, mas, quando ia cantar, baixava o santo e não desafinava nunca. Guilherme me ensinou que, nas parcerias e nas amizades, é preciso entender o outro e aceitá-lo", disse Luz, que produziu os dois últimos discos do compositor: "Samba Guardado" e "A Flor e o Espinho".
Monarco, que teve Brito como padrinho de seu último casamento e gravou com ele e Nelson Sargento o disco "Velhas Companheiras", homenageou o amigo em um show na quarta-feira, cantando dois de seus sambas.
"Os aplausos foram para ele. Estou com muita tristeza no coração. Era uma pessoa digna, honesta, pura e um grande compositor", afirmou o líder da Velha Guarda da Portela.
Elton Medeiros disse nem ter conseguido dormir após saber da morte do amigo de décadas, com quem gravou "Quatro Grandes do Samba" -também com Nelson Cavaquinho e Candeia.
"Ele não era só um grande autor de sambas, como o rotulavam, mas também um grande seresteiro. Era uma pessoa divertida, com quem eu passava dias inteiros", emocionou-se Medeiros.

Caronas com Noel Rosa
Guilherme de Brito Bollhorst, neto de alemão, nasceu em Vila Isabel em uma família musical. Aos oito anos, ganhou seu primeiro cavaquinho. Quando o pai morreu, em 1934, foi ser office-boy na casa Edison, que vendia aparelhos de som. Ele gostava de contar que pegava carona com o vizinho Noel Rosa.
Aposentou-se na mesma empresa. Aos 16 anos, fez sua primeira composição, "Meu Dilema", que seria gravada em 1955 por Augusto Calheiros. Mas o fato decisivo na década de 50 foi ele ter conhecido Nelson Antônio da Silva, o Nelson Cavaquinho.
Nelson sempre vendeu sambas ou partes deles para pagar despesas de bar. Propôs a Guilherme de Brito que fossem parceiros exclusivos, mas nunca foi totalmente fiel. O letrista recordava isso sem rancor e garantia jamais ter traído o acordo. Ele não vendia sambas, mas também foi boêmio militante e fumante -consumia três maços de cigarro por dia.
Brito gravou apenas cinco discos solos, um deles lançado inicialmente no Japão. Desde os anos 60, ele fez da pintura sua carreira paralela. Chegou a ter telas expostas no exterior. Seus temas eram simples, e em muitos quadros apareciam o próprio Guilherme de Brito ao lado do eterno parceiro Nelson. Ele deixa viúva, Nena, e dois filhos.


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