São Paulo, terça, 28 de abril de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

MÚSICA ERUDITA
"Fosca" búlgara chega ao Brasil

Lenise Pinheiro/Folha Imagem
Montagem do cenário da ópera "Fosca", de Carlos Gomes, que estreou na Bulgária no ano passado e chega a SP hoje


IRINEU FRANCO PERPETUO
especial para a Folha

"Fosca", a mais sofisticada ópera de Carlos Gomes, chega ao Brasil com roupagem búlgara.
A montagem, que será apresentada em São Paulo, Manaus (de 7 a 9 de maio, no Teatro Amazonas) e Belém (de 14 a 17 de maio, no Teatro da Paz), é a mesma que estreou em Sófia, em novembro de 97.
A turnê brasileira de "Fosca" está orçada em R$ 1,2 milhão. Coro e orquestra são da Ópera Nacional de Sófia, assim como o diretor cênico, Plamen Kartaloff.
À exceção da norte-americana Gail Gilmore, que canta o papel-título, o elenco vem todo da Bulgária. Cenografia e figurinos são assinados pelo italiano Salvatore Russo, enquanto a direção musical é dividida pelo regente brasileiro Luiz Fernando Malheiro e pelo búlgaro Gueorgui Notev.
Co-produções búlgaro-brasileiras têm sido a tônica do Projeto Carlos Gomes, iniciado pela produtora SP Imagem Data em 96, com uma montagem de "Il Guarany" em Sófia.
"Il Guarany" foi gravado em vídeo, a exemplo da "Fosca", cuja filmagem será exibida pelo canal Bravo Brasil, em maio. A idéia é montar e gravar, em oito anos, todas as óperas de Carlos Gomes.
"Na primeira semana de novembro, faremos "Maria Tudor' na Bulgária", promete Cleber Papa, da SP ImagemData. "E, em 27 de março de 99, a mesma ópera deve estrear no Brasil." O projeto prevê, para o ano 2000, uma nova montagem de "Il Guarany", além da encenação da ópera "Lo Schiavo" e do oratório "Colombo".
A Bulgária não se distingue no cenário europeu nem por seus cantores, nem por suas orquestras. "Procurávamos alguém com "know-how' e interesse em dar visibilidade ao projeto", diz Papa.
"Os teatros brasileiros não têm tradição de ficar com a ópera no repertório", diz. "Aqui, depois que a montagem é feita, ela não é alugada, nem divulgada." Por seu turno, "Il Guarany" e "Fosca" ficaram no repertório da Ópera Nacional de Sófia, que levou as obras para outros países.
Após "Fosca", e antes de "Maria Tudor", a empresa pretende montar em agosto, no Teatro da Paz, em Belém, "Macbeth", de Verdi. Regida por Malheiro, ex-maestro assistente do Municipal de São Paulo e que deve assumir a direção do teatro paraense, a ópera será encenada no teatro Amazonas, em Manaus, e no Paulo Eiró, em São Paulo.
"Fosca" será interpretada em sua versão integral, de três horas de duração. "Os cortes me incomodam", diz Malheiro. "Eles tiram o equilíbrio formal da obra."
Os cortes nas óperas de Gomes eram comuns nas montagens de Armando Belardi (1900-1986), grande defensor da música do compositor. A récita dirigida por Belardi em 1973 baseia-se na "terceira versão" da ópera, mas tem cortes que a deixam com 2h26.
"Carlos Gomes revisou bastante a "Fosca', da qual há três versões", explica o regente. "A primeira parece ser ainda mais longa, com 45 minutos a mais, mais cromatismo e uma abertura diferente. Porém ainda falta o trabalho musicológico de reconstituição."
"A segunda versão se perdeu. E o trabalho de recuperação da terceira, que é a que encenaremos na íntegra, foi feito a partir do material de orquestra já existente."
Carne
"Para cantar "Fosca', é necessário ter carne na voz", diz Gail Gilmore. "Não adianta ser uma cantora doce, com voz linda. Callas teria sido uma grande Fosca."
"Eu nem sabia do que se tratava quando me disseram que eu era a própria Fosca. Não sei se devo ficar lisonjeada, porque ela é chamada de "pazza' (louca, em italiano) o tempo todo pelo elenco."
"Na verdade", ela diz, "Fosca não é louca. Assim como Amneris (da "Aida', de Verdi), Lady Macbeth e Ortrud (do "Lohengrin', de Wagner), ela é uma mulher que tem poder e quer ser amada e não entende por que os homens preferem as bonitinhas e fracas."
Vocalmente, Gilmore compara Fosca a grandes personagens wagnerianos, como Ortrud, Vênus e Kundry (de "Parsifal"). "Você tem que ser soprano dramático e ter tanto notas graves quanto agudas. É um papel muito exigente."

Ópera: Fosca, de Carlos Gomes
Quando: 28 e 30 de abril e 1º de maio, às 21h
Onde: Teatro Municipal (pça. Ramos de Azevedo, tel. 011/222-8698)
Quanto: de R$ 10 a R$ 70 (venda de ingressos pelo telefone 0800-128202, sem taxa de entrega)
Patrocinadores: Sudameris e Funarte



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.