São Paulo, terça, 28 de abril de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Obra foi recebida com frieza

especial para a Folha

A estréia de "Fosca", no Scala de Milão, em 16 de fevereiro de 1873, tinha tudo para dar certo: a ópera reunia dois nomes da moda no cenário lírico da época.
A música estava a cargo de Carlos Gomes, cujo "Il Guarany" havia estreado na casa com enorme sucesso em 1870. E o libreto era de Antonio Ghislanzoni.
"Fosca", entretanto, foi recebida com frieza, permanecendo apenas sete noites em cartaz. A ópera tornou-se uma obsessão para Gomes, que passaria muito tempo a revisá-la. Estreou uma segunda versão de "Fosca" em 1878 e uma terceira (que será ouvida nesta turnê brasileira da ópera) em 1890.
O escasso entusiasmo dos milaneses para com a "Fosca" tem sido creditado a influências "wagnerianas" que o público da época teria identificado na partitura do compositor campineiro.
Wagner, em Milão, era representado pela Casa Lucca -editora que também tinha contrato com Carlos Gomes- e era rival da Ricordi, que editava Verdi.
A guerra comercial entre as empresas era camuflada de disputa estética - jornalistas ligados à Casa Lucca defendiam Wagner e a "música do futuro", enquanto os críticos pagos pela Ricordi apelavam para o nacionalismo italiano para idolatrar Verdi.
Em uma Itália recém-unificada, Carlos Gomes percebeu para que lado ia o gosto do público e estreou, um ano depois de "Fosca", a ópera "Salvator Rosa", que, embora hoje esteja tão esquecida quanto a anterior, foi muito bem-sucedida na época.
Foi modesta a carreira de "Fosca" durante a vida de Gomes, caindo a ópera no mais completo olvido após seu falecimento.
O motivo mais forte para o esquecimento parece ter sido o sucesso obtido por "La Gioconda", que Amilcare Ponchielli, amigo do compositor, escreveu em 1876, três anos depois de "Fosca".
Temática, ambientação, libreto e, principalmente, escrita vocal da protagonista: tudo na "Gioconda" lembra "Fosca", o que levou uma parcela da musicologia brasileira a chamar a ópera de Ponchielli de plágio.
As acusações de "cópia" contra Ponchielli parecem fortes demais, mas não há como negar ter o autor italiano se servido generosamente das inovações presentes na obra de seu colega tupiniquim.
"Fosca" antecipou as novidades que são tradicionalmente atribuídas à "Gioconda" e que se refletiriam na produção tardia de Verdi e na escola verista. (IFP)



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.