São Paulo, terça, 28 de abril de 1998

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TEATRO
A peça "Miss Rainha da Beleza", do dramaturgo inglês de 28 anos, ganha primeira leitura aberta no Brasil
Ciclo traz o jovem Martin McDonagh

NELSON DE SÁ
da Reportagem Local

"Martin McDonagh, o dramaturgo da moda, é profundo ou esperto?" Era o título de uma longa crítica, anteontem, no jornal "The New York Times".
Aos 28 anos, este autor inglês de família irlandesa tomou de assalto e assusta o teatro em Londres e Nova York -vale dizer, no mundo- com uma comédia de humor negro intitulada "The Beauty Queen of Leenane".
"Miss Rainha da Beleza", na tradução de Marcos Renaux e Marilene Felinto, recebe a primeira leitura aberta, no Brasil, esta noite no auditório da Folha.
Quem descobriu e fez de tudo para trazer o texto ao país foi a atriz Xuxa Lopes, que dirige e participa da leitura, hoje. A montagem estréia, acredita ela, no segundo semestre.
Se é esperto ou profundo, a atriz brasileira, que viu a peça há um ano e meio em Londres, não duvida de que é profundo. Mas Martin McDonagh é também esperto, ou melhor, irresponsável.
Escreveu a peça supostamente em três semanas. Não gosta e vive a maldizer o teatro. Assiste TV o dia todo. Preferia escrever para cinema ou TV, tentou ambos, foi recusado e acabou no palco.
Não tem dois anos que "Miss Rainha da Beleza" estourou em Londres, e o jovem autor, na "onda", já escreveu três outras peças para montar antes que os críticos conservadores reagissem.
A história de mãe e filha, uma a oprimir e ofender violentamente a outra, sobretudo a mãe a oprimir a filha e a filha a ofender a mãe, foi fartamente elogiada no mesmo "NYT" há três meses por Ben Brantley, que a chamou de "vital" e "the real thing".
O teatro de verdade que só se encontra, nas palavras de Brantley, de vez em quando -e que faz lembrar o que já nem se recordava que o teatro podia dar.
Para Benedict Nightingale, do jornal "The Times" de Londres, McDonagh é "o mais doentiamente engraçado e o mais brilhantemente corrosivo jovem dramaturgo" da Grã-Bretanha.
Foi mais ou menos essa a visão de Xuxa Lopes, ao assistir a peça pela primeira vez. A atriz nem chegou a entendê-la inteiramente, apresentada por um elenco irlandês que carregou demais no sotaque. Mas acompanhou a trama e ficou "excitada pela coisa atrevida, levada" do texto.
A montagem brasileira ainda não se definiu entre três caminhos: a adaptação das referências irlandesas para o Brasil, a manutenção das mesmas ou a "neutralidade geográfica", como está no momento. "A leitura será muito legal para ver como as pessoas vão reagir", diz a atriz.
No ciclo de leituras da Folha, "Miss Rainha da Beleza" é a primeira de autor estrangeiro.



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