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"O Outro Lado da Rua" embaralha os modos de ver
SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL
O cineasta Marcos Bernstein,
34, acredita ter feito, com sua estréia na direção -"O Outro Lado
da Rua", que é lançado hoje em
oito cidades-, um filme sobre "a
possibilidade do encontro de
duas pessoas solitárias, em condições negativas, pouco comuns".
As pessoas são Regina (Fernanda Montenegro) e Camargo (Raul
Cortez). Ela, separada e vivendo
sozinha, tenta equilibrar o afeto
pelo filho e o neto com rancores
guardados do ex-marido. Ele, um
juiz recém-viúvo e -desconfia
Regina- assassino da própria
mulher. Os dois são vizinhos em
Copacabana, no Rio.
Mas não seria "O Outro Lado da
Rua" mais propriamente um filme sobre os efeitos da solidão, visto que, pela "possibilidade do encontro", Regina abre mão de suas
mais ferrenhas convicções, inclusive as morais? O diretor acha que
não. "Não é um filme de redenção. É um filme de amadurecimento. Ela opta por abrir mão de
uma coisa para ganhar outra."
Bernstein diz que rejeita os "filmes de redenção" por seus cacoetes de mostrar personagens "que
começam de um jeito e terminam
de outro" ou "fazer o protagonista sair vitorioso, provando no final que ele estava sempre certo".
Por isso "O Outro Lado da
Rua", de acordo com o diretor e
também roteirista, procurou fugir
"daquela coisa dos traumas do
passado, da freudianização barata
sobre a vida dos personagens".
Na entrevista à Folha, Bernstein
também tentou escapar de alguns
rótulos, mesmo que não lhe tenham sido impostos. O diretor se
precipitou em dizer que trabalhou duro para realizar o filme em
três anos -desde a elaboração do
roteiro até o lançamento-, com
orçamento de R$ 4,5 milhões e
um elenco de pesos pesados
(além de Fernanda Montenegro e
Raul Cortez, nos papéis principais, o filme tem Laura Cardoso
em participação especial).
O que o cineasta parece temer é
a fama de privilegiado numa indústria cinematográfica que, em
geral, impõe muitas dificuldades
aos iniciantes. "Não foram apenas
três anos. Trabalhei por esse filme
durante os nove anos em que formei minhas parcerias", diz.
A mais notória delas é a estabelecida com o diretor Walter Salles,
para quem roteirizou "Central do
Brasil" (1998), a quatro mãos com
João Emanuel Carneiro, autor da
atual novela das sete da Globo,
"Da Cor do Pecado".
Sobre a interseção do cinema
com a TV, ponto nevrálgico na indústria cinematográfica brasileira, Bernstein prefere não opinar.
"As opiniões sobre esse tema são
muito calorosas. Não gosto muito
de teorizar. Sei o tipo de cinema
que estou querendo fazer."
Mas esse "tipo de cinema", segundo o diretor, pode mudar a
cada vez. No caso do primeiro filme, Bernstein diz que o fez "muito encantado com o cinema
oriental, sobretudo o aspecto da
construção de quadros".
Além da disposição pessoal de
aproximação do cinema oriental,
"O Outro Lado da Rua" traz outras referências notórias -a óbvia ao Alfred Hitchcock de "Janela
Indiscreta" e uma evocação do
chileno-espanhol Alejandro
Amenábar, numa cena quase
idêntica a "Abre los Ojos" (1997).
"Foi uma coincidência, não
uma citação. Eu havia escrito o
roteiro há muito tempo, sem ver
"Abre los Ojos'", afirma o diretor.
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