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REPORTAGEM
"Como o Futebol Explica o Mundo", de jornalista americano, vê a relação do esporte com a integração entre países
Foer usa a bola para analisar a globalização
DANIEL BUARQUE
DA REDAÇÃO
O Brasil não é o país do futebol.
É apenas hegemônico no esporte
que melhor representa a globalização. A tese é do jornalista norte-americano Franklin Foer, editor
de política e mídia da revista "The
New Republic", que passou cerca
de dois anos viajando pelo mundo atrás de exemplos do esporte
que fossem uma analogia da organização do planeta.
Além do Brasil, Sérvia, Escócia,
Espanha, Itália e Irã são alguns
dos países visitados pelo norte-americano. O resultado é "Como
o Futebol Explica o Mundo", livro
em que o jornalista relata, um
pouco irônico, a relação do planeta com o mais internacional dos
esportes, conforme explicou em
entrevista à Folha.
Folha - Como o futebol pode ser
uma metáfora da globalização?
Franklin Foer - Acredito que seja
o fenômeno mais globalizado do
planeta. A partir da minha experiência como fã, meu interesse
político foi entrando em interseção com a paixão pelo jogo. Para
um norte-americano, no início
dos anos 90 era difícil acompanhar o futebol, o que ficou mais
fácil com o tempo, graças à internet e ao satélite. Senti as mãos da
globalização me tocando.
Folha - O que de melhor e pior a
globalização trouxe ao esporte?
Foer - Acho que melhorou a
qualidade do jogo, com o intercâmbio de jogadores. Mas a qualidade da competição doméstica no
Brasil, por exemplo, sofreu com a
perda de jogadores, o que é trágico. Tudo no Brasil apontaria na
direção de uma experiência bem-sucedida com a globalização, mas
a cultura da corrupção distorceu
o processo, deixando-o negativo.
Folha - Como empresas de marketing forçam o futebol nos EUA?
Foer - Da mesma forma que têm
ambição em desenvolver um
mercado no Brasil, entendem
que, se conseguirem convencer os
EUA a abraçar o futebol, criarão
um novo mercado para seus produtos. Essa é a dinâmica fundamental da globalização.
Folha - Nos EUA, o futebol é um
esporte feminino, não?
Foer - Fico triste em admitir que
há verdade nisso. O esporte tem
reputação, mesmo aqui, de ser
um jogo de garotas, mas na verdade tudo é muito mais complicado.
Folha - Por que a Argentina ficou
de fora da análise do livro?
Foer - Não escrevi sobre a Argentina, a África, a Coréia e o Japão. São grandes omissões.
Quando eu disse que o futebol explica o mundo, eu não estava falando muito sério, há indícios de
ironia, espero. Eu basicamente
viajei pelo mundo conhecendo
realidades que me interessavam e
sobre as quais eu era curioso.
Folha - O sr. sentiu medo na apuração da parte do livro que trata da
violência no futebol?
Foer - Claro. Pode-se pensar que
o momento mais assustador foi
na Sérvia, onde conheci criminosos de guerra, mas não foi, porque
eles estavam interessados em se
explicar. A Escócia foi o lugar
mais assustador. Eu nunca tinha
visto pessoas agirem de forma
crua e tribal. Nunca tinha visto
pessoas sentirem tanto prazer em
se baterem. Isso me assustou.
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