São Paulo, sábado, 28 de maio de 2005

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REPORTAGEM

"Como o Futebol Explica o Mundo", de jornalista americano, vê a relação do esporte com a integração entre países

Foer usa a bola para analisar a globalização

DANIEL BUARQUE
DA REDAÇÃO

O Brasil não é o país do futebol. É apenas hegemônico no esporte que melhor representa a globalização. A tese é do jornalista norte-americano Franklin Foer, editor de política e mídia da revista "The New Republic", que passou cerca de dois anos viajando pelo mundo atrás de exemplos do esporte que fossem uma analogia da organização do planeta.
Além do Brasil, Sérvia, Escócia, Espanha, Itália e Irã são alguns dos países visitados pelo norte-americano. O resultado é "Como o Futebol Explica o Mundo", livro em que o jornalista relata, um pouco irônico, a relação do planeta com o mais internacional dos esportes, conforme explicou em entrevista à Folha.

Folha - Como o futebol pode ser uma metáfora da globalização?
Franklin Foer -
Acredito que seja o fenômeno mais globalizado do planeta. A partir da minha experiência como fã, meu interesse político foi entrando em interseção com a paixão pelo jogo. Para um norte-americano, no início dos anos 90 era difícil acompanhar o futebol, o que ficou mais fácil com o tempo, graças à internet e ao satélite. Senti as mãos da globalização me tocando.

Folha - O que de melhor e pior a globalização trouxe ao esporte?
Foer -
Acho que melhorou a qualidade do jogo, com o intercâmbio de jogadores. Mas a qualidade da competição doméstica no Brasil, por exemplo, sofreu com a perda de jogadores, o que é trágico. Tudo no Brasil apontaria na direção de uma experiência bem-sucedida com a globalização, mas a cultura da corrupção distorceu o processo, deixando-o negativo.

Folha - Como empresas de marketing forçam o futebol nos EUA?
Foer -
Da mesma forma que têm ambição em desenvolver um mercado no Brasil, entendem que, se conseguirem convencer os EUA a abraçar o futebol, criarão um novo mercado para seus produtos. Essa é a dinâmica fundamental da globalização.

Folha - Nos EUA, o futebol é um esporte feminino, não?
Foer -
Fico triste em admitir que há verdade nisso. O esporte tem reputação, mesmo aqui, de ser um jogo de garotas, mas na verdade tudo é muito mais complicado.

Folha - Por que a Argentina ficou de fora da análise do livro?
Foer -
Não escrevi sobre a Argentina, a África, a Coréia e o Japão. São grandes omissões. Quando eu disse que o futebol explica o mundo, eu não estava falando muito sério, há indícios de ironia, espero. Eu basicamente viajei pelo mundo conhecendo realidades que me interessavam e sobre as quais eu era curioso.

Folha - O sr. sentiu medo na apuração da parte do livro que trata da violência no futebol?
Foer -
Claro. Pode-se pensar que o momento mais assustador foi na Sérvia, onde conheci criminosos de guerra, mas não foi, porque eles estavam interessados em se explicar. A Escócia foi o lugar mais assustador. Eu nunca tinha visto pessoas agirem de forma crua e tribal. Nunca tinha visto pessoas sentirem tanto prazer em se baterem. Isso me assustou.

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