São Paulo, segunda-feira, 28 de maio de 2007

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Vanessa da Mata volta ao reggae

Em "Sim", disco lançado após estourar nas rádios com "Ai, Ai, Ai", cantora enfatiza o reggae em canções de sua autoria

Ex-backing vocal da banda Black Uhuru, ela volta as origens do ritmo jamaicano e trafega também pelo samba e o pop no novo CD

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

Vanessa da Mata, 1,80 m, não é uma artista de linhas retas. Compõe sem instrumento, não se prende a nenhum gênero, canta com uma voz estranha de tão peculiar e, nascida há 32 anos numa cidade do Mato Grosso, tornou-se estrela nacional com uma música-para-dançar em que nem sua gravadora apostava. Lançada em 2004, no disco "Essa Boneca Tem Manual", "Ai, Ai, Ai" só estourou em 2006, transformando-se na música mais executada pelas rádios no ano. Em seu novo CD, "Sim", Vanessa procura reforçar suas peculiaridades, mas sem desprezar o novo status.
"Adorei ser popular. Diziam que eu era sofisticada para não sei que público, e o sucesso da música acabou me levando a lugares em que eu nunca imaginava ir. Não sei se sou muito positiva, muito "sim", mas a música não me encheu o saco. No dia que encher, paro de cantar, porque não tenho esse compromisso.
Ela vai tocar sempre por aí, porque marca uma época", afirma ela.
Talvez não haja, no novo CD, nenhuma faixa tão feita para pistas, mas uma das mais próximas do perfil é a música que chega às rádios nesta semana, "Boa Sorte/ Good Luck", parceria e dueto com o norte-americano Ben Harper. Ele é um dos convidados internacionais, ao lado do brasileiro-californiano Mario Caldato, produtor do CD juntamente com Kassin, e dos músicos jamaicanos Sly Dunbar e Robbie Shakespeare -que gravaram na Jamaica. Tanto investimento do selo é fruto do boom de "Ai, Ai, Ai".
"Ruim é se cercar de mediocridade para poder sobressair. Eu quero aprender sempre", diz ela, que ainda contou com João Donato e Wilson das Neves na donatiana "Meu Deus".
"Sim" traz um reencontro de Vanessa com o reggae, ela que já foi backing vocal do Black Uhuru - "por oportunidade, nem conhecia direito"- e viveu no meio ao chegar em São Paulo nos anos 90. "Vermelho" e "Ilegais" são reggaes explícitos, "Pirraça" é um "carimbó jamaicano", na sua definição, e "Absurdo" tem um molho rasta.
"Absurdo" fala da minha terra, que era mato e hoje é toda soja. Não deixaram nem um pedaço do cerrado. É a minha revolta contra a nossa autodestruição, a incapacidade de lidar bem com o orgânico. Preferimos lidar com as latinhas. É a música mais pessoal do disco: um "não" no meio de vários "sim'", destaca.
Mas, como nada nela é reto, há faixas como "Você Vai me Destruir", em que a levada leve, evocando o brega e a jovem guarda, contrasta com uma letra praguejante; e "Baú", protesto contra os invejosos em embalagem pop-doce. "Fugiu com a Novela" e "Quando um Homem Tem uma Mangueira no Quintal", estas sim, são sambas alegres, na linha do Jorge Ben pré-Jor.
O CD acaba com Vanessa, que diz fazer apenas cinco acordes, acompanhando-se ao violão em "Minha Herança: Uma Flor", num arranjo que diz ser "puro", como queria. "Mas tocar foi um ato de coragem mesmo", diz ela, que não usa o substantivo para explicar o porquê de, pela primeira vez, reunir só composições suas num CD. "Não senti necessidade de músicas de outros autores."
Vanessa vai se firmando como mais uma cantora-compositora de sua geração. "As mulheres ganharam a liberdade de ser, existir, estudar, fazer, expressar. Podemos dizer o que temos para dizer", afirma.


SIM
Artista:
Vanessa da Mata
Lançamento: Sony/BMG
Quanto: R$ 24, em média, ou R$ 9,99 (CD zero, com cinco faixas)


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